- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série e, aqui, de todo nosso material sobre Star Trek.
Quando Strange New Worlds decide se descolar por completo de suas aventuras de exploração para mergulhar num estilo de comédia meio pateta, o risco é grande, e, infelizmente, Four-and-a-Half Vulcans é um daqueles episódios em que a série tenta brincar com identidade, mas acaba entregando algo mais próximo de uma paródia cansada e uma trama boba do que uma reflexão envolvente. A premissa com Pike, Uhura, Chapel e La’An transformados em vulcanos para uma missão é meio ilógica (não resisti), mas tinha potencial para explorar dilemas filosóficos sobre razão, emoção e autocontrole com o quarteto pisando no universo de Spock. No entanto, o resultado soa mais como uma coletânea de esquetes irregulares do que como uma trama com coesão dramática.
Logo de início, não podemos ver a tal missão, o que me deixou decepcionado (mais um capítulo inteiro dentro da nave…). Mas o que é pior é ver como a transformação leva cada personagem a extremos caricaturais: Pike se torna obcecado por eficiência a ponto de virar uma caricatura de burocrata; Uhura força um controle mental questionável com Beto para ajustar a compatibilidade romântica; Chapel resolve cortar laços pessoais e até encerrar sua relação com Korby para se dedicar exclusivamente ao trabalho; e La’An, de forma pouco convincente, assume tendências romulanas e um discurso belicista que destoa de sua personalidade construída até aqui. É como se estivéssemos vendo um monte de “Sheldons”. Nenhum desses arcos individuais se aprofunda ou traz algo realmente novo para os personagens, tampouco explora as raízes vulcanas para contar uma história que agregue a Spock, seja com seus amigos aprendendo mais sobre ele ou vice-versa.
A narrativa tenta compensar a falta de densidade com intervenções paralelas: o encontro entre Scotty e James Kirk, que rende alguns bons momentos de camaradagem, e a entrada de Doug (Patton Oswalt, bem divertido), o ex-namorado vulcano de Una, que funciona como o melhor alívio cômico do episódio (a sequência no pós-créditos dele com Spock é, de longe, a melhor parte de todo o capítulo). Spock, por sua vez, entra na equação para restaurar o equilíbrio espiritual dos colegas, em uma resolução previsível e sem maior impacto. O desfecho, em que todos voltam ao normal e Batel recebe inesperadamente uma promoção após perder a paciência com Pasalk, fecha o episódio de forma apressada e quase desconectada do resto da trama.
O maior problema de Four-and-a-Half Vulcans não é ser leve ou cômico, mas não conseguir encontrar consistência entre humor e narrativa. Quem acompanhou minhas críticas da maravilhosa The Orville, sabe que gosto dessa abordagem e a própria série já provou que pode misturar gêneros com inteligência, seja no suspense (onde teve mais sucesso), na aventura ou na comédia, mas aqui a execução carece de qualidade. O episódio quer rir dos próprios personagens, mas termina esvaziando-os, reduzindo-os a versões simplificadas e pouco interessantes. No fim, este oitavo capítulo da temporada deixa a impressão de tempo desperdiçado: uma ideia curiosa que poderia servir como comentário sobre identidade e sobre as relações desses personagens, mas que se perde em exageros e soluções fáceis. É divertido em momentos isolados, mas no conjunto não sustenta uma trama que é estranha e esquecível.
Star Trek: Strange New Worlds – 3X08: Four-and-a-Half Vulcans (EUA, 28 de agosto de 2025)
Desenvolvimento: Akiva Goldsman, Jenny Lumet, Alex Kurtzman (baseado em personagens criados por Gene Roddenberry)
Direção: Jordan Canning
Roteiro: Dana Horgan, Henry Alonso Myers
Elenco: Anson Mount, Ethan Peck, Jess Bush, Christina Chong, Celia Rose Gooding, Melissa Navia, Babs Olusanmokun, Rebecca Romijn, Martin Quinn, Carol Kane, Paul Wesley, Patton Oswalt, Cillian O’Sullivan, Melanie Scrofano, Rong Fu
Duração: 55 min.