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Crítica | Star Wars #24 a 30 (Marvel – 1979)

por Ritter Fan
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Espaço: Espaço profundo, Yavin IV (superfície), Yavin IV (órbita), Centares, Junction, Orleon, Metalorn
Tempo: A Rebelião – Eventos imediatamente posteriores à Batalha de Yavin (0 d.BY)

Retornar ao começo do Universo Expandido de Star Wars é refrescante e fascinante, especialmente considerando a completa falta de material que existia à época sobre a saga além do primeiro filme. E, como se isso não bastasse, diferentemente de abordagens mais modernas, o material dessa era não era sempre dividido em arcos bem definidos de cinco ou seis edições, com histórias ocupando, na grande parte das vezes, no máximo duas edições, mas sempre contando uma história macro maior com edições que conversam umas com as outras.

Depois de separar Han Solo e Chewbacca de Luke Skywalker e Leia Organa no final da edição #24, Archie Goodwin dá um intervalo na saga maior e foca o número seguinte em Obi-Wan Kenobi, em uma história contada em forma de flashback por Leia, conforme ela ouvira de seu pai. Esse one-shot, batizado de Deriva Silenciosa, conta como um Kenobi já experiente, em uma viagem em um cruzeiro espacial até Alderaan, salva todo mundo de piratas espaciais usando sutilmente a Força para manobrar a nave e descobrir como eles foram descobertos em zona perigosa. É como um respiro entre as aventuras mais frenéticas dos heróis usuais da linha narrativa principal.

E é a ela que voltamos nas duas edições seguintes – #25 e 26 – que retorna a ação para Yavin-4, a base rebelde que quase foi salva por Luke ao final de Uma Nova Esperança. Na dobradinha O Cerco de Yavin e Missão Condenada, descobrimos que a base vem sofrendo uma série de ataques de tie-fighters que surgem do nada em sucessão, com os rebeldes cada vez mais perdendo homens e naves e sem saber revidar com eficiência. Cabe então a Luke e Leia, que estavam retornando de Centares, descobrir uma complexa trama que envolve o Barão Tagge, que conta com olhos cibernéticos depois que foi cegado por Darth Vader, desejoso de cair nas graças do Império, tentando derrotar os rebeldes de uma vez por todas lançando as naves inimigas a partir de sua nave mineradora e com o uso de uma gigantesca turbina para “fabricar” tempestades que camuflam os ataques. Há um certo exagero criativo, por assim dizer, em toda a progressão narrativa desse micro-arco, assim como pouquíssimo desenvolvimento de Tagge, que mais parece um daqueles vilões genéricos e extravagantes e que se diferencia por usar óculos que poderiam muito bem sair da coleção de Elton John.

A edição seguinte, #27, com o título O Retorno do Caçador, tem melhor sorte ao reintroduzir um dos melhores vilões desse começo de Universo Estendido e que seria reutilizado no novo cânone: Beilert Valnace, o caçador de recompensas cibernético que odeia androides introduzido um pouco antes, em Star Wars #16. Assim como Vader, ele procura o jovem “sem nome” que destruíra a Estrela da Morte, obtendo sucesso não só em descobrir o sobrenome de Luke, como também enfrentá-lo pela primeira vez em Junction, um entreposto muito parecido com Mos Eisley. A história é simples e tem C3P0 como parceiro de Luke, já que os dois procuram peças para reconstruir R2-D2, avariado no mini-arco anterior, algo que atiça a raiva de Valance por robôs em geral, mas que ao mesmo tempo mostra que o que ele sente é injustificado.

Saindo do núcleo Leia-Luke, a edição #28, O que Aconteceu a Jabba, o Hutt?, é peculiar por mais uma vez abordar o criminoso mencionado por Han Solo em Uma Nova Esperança e que, como sabemos hoje em dia, apareceria no filme original. Mas o Jabba dessa história não é aquela coisa nojenta que é relevada em O Retorno de Jedi, mas sim um bípede substancialmente humanoide, com apenas um rosto alienígena, com direito até a uma espécie de bigode, certamente bem menos ameaçador do que se esperaria, exatamente como visto em Star Wars #2. Novamente, o mote é simplicidade, com Han Solo e seu fiel escudeiro Chewbacca presos no planeta Orleon depois que Millenium Falcon é danificada. Lá, eles são cercados por Jabba e seus minions, mas os grandes vilões mesmo são cupins-de-pedra que destroçam todos e tudo que tocam e que infestam o local.

Encontro Negro, história da edição #29, coloca ninguém menos do que Darth Vader contra Beilert Valance – ciborgue contra ciborgue! – em uma luta para achar Tyler Lucian, um soldado rebelde que deserdara antes da Batalha de Yavin e que, agora, enfrenta o peso da culpa por sua covardia. Seu valor para Vader é que ele sabe o nome de Luke Skywalker. Trata-se de uma história surpreendentemente emocionante e até pesada sob o ponto de vista dramático, com uma bela pancadaria entre os vilões e um final que dificilmente seria repetido em uma HQ moderna voltada para o público infantil. É Archie Goodwin mostrando maestria na condução de uma história auto-contida.

Finalmente, encerrando 1979, a edição #30, Uma Princesa Sozinha!, conta uma missão de Leia ao planeta-fábrica do Império Metalorn, em que a população vive ignorante da existência da Rebelião. O Barão Tagge é novamente o vilão principal, mas a beleza dessa outra narrativa auto-contida é a missão da princesa, que é basicamente plantar a semente do descontentamento pelo jugo vilanesco do Império e não obter planos ou sequestrar pessoas como seria de se esperar. Mais uma história que surpreende por sua originalidade, mesmo que exagere no texto expositivo.

A arte de Carmine Infantino, muito provavelmente, causará estranhamento para o público moderno de Star Wars pela forma “livre” com que ele recria os adorados personagens. Chewbacca particularmente ganha um revisionismo enorme na forma como seu rosto é trabalhado e os demais personagens ganham feições levemente orientalizadas. Mas o mestre Infantino, exatamente por não ficar escravo às feições originais e por ter absoluta liberdade para trabalhar naves e novos personagens – lembrem-se: o Universo Estendido estava ainda em sua tenra infância aqui – entrega um trabalho intenso e belíssimo, com completo controle da fluência narrativa.

Mesmo considerando que todo esse passado remoto da franquia Star Wars foi “apagado” do cânone depois que a Disney comprou a Lucasfilm, em uma decisão polêmica, mas que eu considero acertada para fins comerciais e organizacionais, é interessante lembrar como esse universo já era rico em seu começo e como muita coisa que lemos aqui influenciou obras posteriores. A Força realmente estava com Archie Goodwin!

Star Wars #24 a 30 (Idem, EUA)
Roteiro: Mary Jo Duffy, Archie Goodwin
Arte: Carmine Infantino
Arte final: Bob Wiacek, Gene Day
Letras: Rick Parker, John Costanza, Joe Rosen
Cores: Petra Goldberg, Glynis Wein
Consultoria editorial: Jim Shooter
Editoria: Archie Goodwin
Editora (nos EUA): Marvel Comics
Data de publicação original: junho a dezembro de 1979
Editoras (no Brasil): Editora DeAgostini
Data de publicação no Brasil: julho e agosto de 2014 (encardenados Comics Star Wars Clássicos #3 e #4)
Páginas: 18 (por edição)

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