Home TVEpisódio Crítica | Star Wars: Andor – 1X05: The Axe Forgets

Crítica | Star Wars: Andor – 1X05: The Axe Forgets

A calmaria antes da tempestade.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Star Wars: Andor continua sendo uma série que assombra ao dedicar seu tempo para refestelar-se em detalhes, em construção de mundo e de personagens, deixando a ação de lado. E, quando falo em detalhes, quero dizer detalhes de qualquer cotidiano, não o cotidiano específico da franquia Star Wars, mesmo que tenhamos um pouco de leite azul aqui, citações a planetas conhecidos ali e personagens relevantes pontilhando a narrativa. Afinal, esses detalhes afeitos diretamente ao universo que já conhecemos são maravilhosamente soterrados por outros completamente prosaicos, como uma discussão sobre tatuagens que pode ou não ganhar desenvolvimento posterior, Mon Mothma calmamente retirando seus brincos em sua limusine depois de uma festa enquanto conversa de maneira arredia com o marido, Eedy Karn assertivamente lidando com o fracasso de seu filho, e, finalmente, a oficial imperial Dedra Meero tomando o equivalente a uma aspirina para aguentar o trabalho puxado de verificar arquivos para encontrar um padrão na aleatoriedade de roubos e ações rebeldes pela galáxia.

Como disse em minha crítica do episódio anterior, entendo quem cobra ação tradicional na série, mas eu nunca vi uma obra de toda a franquia tão bem escrita, tão cuidadosa no desenvolvimento de seus personagens e tão focada em trabalhar um realismo naturalista ao ponto de ser “obrigada” a mostrar um caça TIE aqui e ali para lembrar seus espectadores sobre o universo em que ela se passa. O que tivemos, até agora, foi uma sensacional construção de um cantinho muito especial da franquia que lida com o começo da rebelião e todos os personagens que tiveram papel fundamental nisso, inclusive aqueles que, do outro lado, tiveram – ou terão – papel fundamental na luta contra os rebeldes, pois tenho certeza de que a investigação de Dedra assim como a vontade de vingança de Syril não demorarão a convergir na direção de Cassian Andor e de Luthen Rael, como o próprio antiquário prevê, com voz temerosa. E essa queima (bem) lenta que Tony Gilroy elegeu fazer é a essência da série, realmente o que a torna especial mesmo quando comparada com outras séries foram do universo Star Wars, sejam elas de espionagem ou de intrigas governamentais e palacianas.

O Machado Esquece (“mas a árvore não” ou “a árvore recorda”, provérbio africano que se encaixa muito bem no diálogo de Cassian com o desconfiado Skeen) era necessário dentro do contexto do que Gilroy vinha fazendo. Era óbvio que o roteiro de seu irmão poderia com alguma facilidade pular a fase de aclimatação do protagonista com seus demais colegas, mas esse seria o caminho mais viajado, que banalizaria tudo. As interações de Cassian com Skeen, iguais que se respeitam, mas que querem distância um do outro, com o jovem e idealista Karis que se aproxima dele como um pupilo se aproxima de um mentor e, finalmente, com o experiente e estrito Taramyn, culminando com a revelação de que Andor está ali porque está sendo pago e não pela rebelião, são momentos essenciais para que criemos as conexões com personagens que provavelmente não sobreviverão à missão (pelo menos não todos), algo que é importante para as vindouras sequências de ação na infiltração deles na guarnição imperial.

E o melhor é que, mesmo considerando que a líder Vel e a silenciosa Cinta já haviam tido essa oportunidade de interagir de forma relevante com Andor no episódio anterior, elas não são esquecidas e, melhor ainda, seus papeis na perigosa missão são mantidos em sigilo certamente para beneficiar a execução do tão esperado ataque. Até mesmo o Tenente Gorn, mesmo distante de todos, ganha seu espaço em que o vemos usar sua estrita observância das regras e das ordens a favor da vindoura missão, com o ator Sule Rimi sutilmente deixando transparecer sorrisos em seu semblante sério e impassível. Novamente, são os detalhes que fazer de Star Wars: Andor o que ela é, e eu espero fortemente que essa abordagem rica e vagarosa nunca seja deixada de lado.

Apesar de o foco ser em Andor usando seu pouco tempo para criar conexões com seus colegas de missão, o episódio tem tempo e tranquilidade para lidar com o lado imperial da história, seja a obsessão de Dedra de criar base para sua teoria de uma organização rebelde tomando forma, seja o diálogo entre Eedy e Syril que envolve um aparentemente influente Tio Harlo e continua a criar uma história paralela muito interessante nesse núcleo familiar, seja, claro, na complicada relação de Mon Mothma com seu marido Perrin Fertha que basicamente vive para sabotá-la, algo que é visto de maneira ainda mais clara com a entrada de sua filha e o confronto que se segue. Até mesmo Luthen ganha alguns segundos para mostrar o que parece ser seu pessimismo que choca com o otimismo de sua assistente e colega rebelde Kleya Marki.

Chega a ser difícil prever como cada ponta narrativa será desenvolvida e como elas convergirão, mas a temporada tem 12 episódios para trabalhar os núcleos, algo que, creio, seja tempo suficiente, mesmo com esse passo, para que tudo seja fechado de maneira a levar-nos para os 12 episódios seguintes, com ou sem pulos temporais (que tenho quase certeza de que virão, talvez até já nesse primeiro ano). Seja como for, tudo parece estar no lugar para que o episódio de metade de temporada seja recheado de sequências de ação como os mais afoitos esperam. De minha parte, que venha a ação, mas que ela seja tão cuidadosamente planejada como os diálogos, motivações e as ambientações têm sido trabalhados até agora. É aguardar!

Star Wars: Andor – 1X05: The Axe Forgets (EUA, 05 de outubro de 2022)
Desenvolvimento: Tony Gilroy
Direção: Susanna White
Roteiro: Dan Gilroy
Elenco: Diego Luna, Stellan Skarsgård, Genevieve O’Reilly, Denise Gough, Anton Lesser, Kyle Soller, Faye Marsay, Varada Sethu, Alex Lawther, Sule Rimi, Ebon Moss-Bachrach, Gershwyn Eustache Jnr, Sule Rimi, Elizabeth Dulau, Kathryn Hunter, Alastair Mackenzie, Ben Bailey Smith, Varada Sethu
Duração: 46 min.

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