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Crítica | Star Wars: Andor – 1X07: Announcement

Explorando as consequências do roubo em Aldhani.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Em resposta ao comentário de um leitor em minha última crítica de Star Wars: Andor, disse que há muito tempo eu não ficava ansioso e apreensivo pelo próximo episódio de uma série parte de uma grande franquia com vem acontecendo agora com a obra capitaneada por Tony Gilroy. Mas, na verdade, pensando com mais calma agora, minha afirmação estava errada. Bem errada. Afinal, a grande verdade é que eu sequer me lembro de alguma vez na vida ter ficado dessa forma de semana a semana por uma série inserida em uma vasto universo como esse. Faço a diferenciação entre séries inseridas em grandes franquias de séries “normais”, porque não há, ainda, talvez, como comparar Andor com maravilhas como Better Call Saul, Succession ou The Wire, somente para citar três das mais conhecidas, ainda que seja perfeitamente razoável e até justo estabelecer o paralelo entre elas na linha de que Andor é o equivalente de Star Wars dos melhores exemplares de obras-primas “avulsas” que temos temos por aí.

E olha que eu achava que Announcement seria um episódio que resfriaria a narrativa depois do sensacional The Eye, em que finalmente vemos o roubo dos créditos de uma guarnição do Império em Aldhani, mas eu me enganei completamente. Se alguma coisa, Announcement é o tipo de episódio seguinte a uma grande sequência de ação que não esperamos por ele conseguir surpreender e emocionar em sua “inação” da mesma maneira que ação clássica surpreendeu e emocionou. E sua maior qualidade é ao mesmo tempo mostrar os efeitos do roubo e impulsionar a narrativa para a frente, sem se esquecer de fazer com que o protagonista retorne ao seu passado, por assim dizer, para valorizar e, até onde podemos ver, encerrar histórias do primeiro arco narrativo da temporada. Em outras palavras, nada é deixado de lado em Star Wars: Andor, e cada personagem, por mais insignificante que podemos achar que é, ganha seu momento e tem sua participação cada vez mais costurada dentro da teia macro do começo da Rebelião em um processo absolutamente fascinante para quem entender e aceitar que obras audiovisuais ditas de ação não precisam ter perseguições e pancadaria a cada 10 minutos.

E o destaque aos coadjuvantes fica evidente em Announcement quando notamos que Cassian Andor sequer aparece no primeiro terço do episódio que, ao revés, é dedicado a lidar com os desdobramentos imediatos da ação em Aldhani, seja com o equivalente à KGB ou Gestapo do Império amplificando suas garras opressoras pelas galáxia, com a inteligente Dedra Meero percebendo que isso é exatamente o que a Rebelião quer, seja com a confirmação dessa conclusão dela com o diálogo entre Mon Mothma e Luthen Rael que, dentre outros aspectos, revela uma divergência de opiniões em como alavancar a revolução, com Rael desejando radicalismo para deixar em evidência as mãos do Império apertando aos poucos a garganta da população e Mothma preferindo algo mais de muito longo prazo e discreto. Essas diferenças de abordagens, claro, são vistas mais abertamente em Rogue One e é muito interessante ver essa evolução.

Além disso, o episódio não perde Syril Karn de vista. Aliás, muito ao contrário, o episódio abre com ele vestido para uma entrevista de emprego e com a mãe criticando seu figurino que, seguindo exatamente a personalidade do personagem que vimos no início da série em que ele tem um uniforme customizado, apresenta um colarinho mais alto do que o normal que ela enxerga com sendo sua fraqueza, mas que, na verdade, é sua força, sua vontade de se destacar entre iguais. E é justamente esse destaque que ele não tem trabalhando em uma baia do ISB, em que ele é apenas mais um funcionário apertando botões cujos objetivos sequer são claros e que lembra ao mesmo tempo o automatismo e repetição do clássico Tempos Modernos e a frieza, distância e absoluta conformidade com o status quo que vemos na recente Ruptura. O que Tony Gilroy planeja para o personagem, eu não consigo imaginar, mas, aos poucos, essa linha narrativa vem se tornando uma das grandes surpresas da série, por uma reunião de grandes atuações (Kathryn Hunter e Kyle Soller estão realmente impressionantes como mãe controladora e filho submisso).

Nesse terço inicial – já escrevi pacas e nem cheguei à metade do episódio!!! – ainda vemos um vislumbre de Cinta, ainda em missão em Aldhani e de Vel, esta em Coruscant, depois de levar o dinheiro para onde tinha que levar e recebendo uma nova missão de Kleya Marki: localizar e matar Cassian Andor por ele ser a ponta solda da missão em razão de ele conhecer Luthen Rael. Já aqui é possível ver a convergência narrativa que, em algum momento em futuro próximo, trará Andor de volta ao seio da Rebelião, seja já como voluntário que comprou a causa, seja como um prisioneiro que, como passo seguinte, verá a realidade da situação em que se encontra e finalmente verá o caminho inevitável que tem que trilhar.

E é assim que o cuidadoso e elegante roteiro de Stephen Schiff, o showrunner original da série, marcando a primeira vez que um Gilroy não está diretamente a frente do texto de um episódio de Andor, nos leva diretamente ao protagonista retornando à Ferrix para, com o dinheiro obtido no roubo, pagar suas dívidas e levar sua mãe adotiva e B2EMO com ele para algum lugar com menos presença do Império. Temos, aqui, os fechamentos narrativos que mencionei no início da crítica em relação à Bix Caleen, que é uma mistura de ternura soterrada pela frieza e objetividade, valendo destaque para o fato de que Andor sequer oferece para levá-la dali, e também em relação à Maarva Andor (em mais uma excelente e tocante atuação da veterana Fiona Shaw), ainda que, claro, elas possam tranquilamente aparecer novamente na história. Mas era importante que, pelo menos por agora, elas ficassem para trás, mas não esquecidas, com particular destaque para a recusa da mãe adotiva de Andor em sair de Ferrix por estar cansada de aturar o Império, em memória de seu marido assassinado pelos Clone Troopers e por sentir-se inspirada pelo que aconteceu em Aldhani, mesmo sem ter ideia da participação do filho no roubo. Esse momento forte e emocionante é, sem dúvida alguma, mais um peça para levar o protagonista a ser o rebelde obstinado que ele mostra ser em Rogue One.

Confesso que meu único ponto de desconforto no episódio foi a transição para o paraíso tropical de Niamos, com Andor já com nova identidade tentando viver uma vida normal, longe de problemas, somente para, do nada, ser preso e condenado a seis anos de encarceramento. Não tenho reclamações sobre os acontecimentos em si, pois a prisão de Andor por não fazer nada não só se conecta com o profiling feito por forças policiais de nosso cotidiano, reforçando a presença opressiva do Império, como a sequência em que um androide de segurança KX aparece para vigiar o personagem é um daqueles excelentes momentos do tipo “será que esse será o K-2SO?” cuja resposta sequer interessa. Meu desconfortou se deu apenas com a transição mesmo, já que ela indica uma elipse temporal que me pareceu truncada, quase que criando linhas narrativas temporalmente separadas em uma mesma série. Não é nada sério, claro, pois a reconciliação mental é razoavelmente fácil de ocorrer, mas isso poderia ter sido evitado muito facilmente.

Pelo tamanho da crítica, talvez eu devesse parar aqui, mas eu não consigo, pois não abordei ainda dois momentos incríveis. O primeiro deles é a conversa de Mon Mothma com seu amigo de infância e agora banqueiro Tay Kolma (Ben Miles) em que ela tenta abordar o assunto da Rebelião de maneira transversa, ouve dele que ele tem uma posição anti-Império e que, por isso, talvez seja melhor ela nada dizer, somente para que isso então sirva como os metafóricos pesos sendo levantados dos ombros da senadora. É uma bela construção de diálogos que comem pelas beiradas, mas comunicam com clareza o que cada um pensa, revelando suas posições claramente convergentes sem que detalhes precisem ser explorados, mas com Mothma deixando evidente que sua posição hesitante, neutra, fraca mesmo no Senado Imperial é uma fachada, apenas uma forma de ela passar despercebida ou ser apenas uma piada para seu marido e demais colegas de profissão.

Finalmente, a escalação do conflito entre Blevin e Dedra Meero é um daqueles pequenos detalhes que realmente dão cor e vivacidade do lado do Império. A inveja de Blevin e sua vontade de dar uma rasteira em Dedra é tanto que ele coloca a colega nos holofotes durante uma das sessões diárias perante o Major Partagaz, acusando-a de passar por cima do livro de conduta da entidade, somente para ele levar a rasteira, com Partagaz claramente apreciando a coragem e a iniciativa de Dedra que certamente a tornará uma inimiga vigorosa da ainda incipiente Rebelião.

Já em seu terceiro arco narrativo, Star Wars: Andor continua sendo uma refrescante, ousada e extremamente bem feita abordagem do início da Rebelião nesta galáxia muito, muito distante. Annoucement, ao contrário do que se poderia esperar de um episódio que sucede outro repleto de ação, não perde o ritmo e acaba sendo outro episódio valioso nesta saga que tem tudo para ser o melhor produto da live-action da franquia desde 1983.

Star Wars: Andor – 1X07: Announcement (EUA, 19 de outubro de 2022)
Desenvolvimento: Tony Gilroy
Direção: Benjamin Caron
Roteiro: Stephen Schiff
Elenco: Diego Luna, Stellan Skarsgård, Genevieve O’Reilly, Denise Gough, Kyle Soller, Faye Marsay, Varada Sethu, Anton Lesser, Ben Miles, Kathryn Hunter, Elizabeth Dulau, Gary Beadle, Fiona Shaw, Adria Arjona, Dave Chapman, Ben Bailey Smith
Duração: 53 min.

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