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Crítica | Star Wars: Andor – 1X09: Nobody’s Listening!

A morte é a única saída.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Entre Cassian Andor tentando o pouco que pode para formular um plano de fuga de Narkina 5, Dedra Meero torturando Bix Caleen para conseguir as informações que quer e Mon Mothma suplicando em vão pelo apoio do Senado contra as medidas restritivas do Império, Nobody’s Listening! teve algo como o efeito do compactador de lixo de Uma Nova Esperança multiplicado muitas e muitas vezes ao construir, com ritmo constante, lógico e sombrio aquela sensação claustrofóbica de que não há saída para ninguém ali que não seja mesmo a morte que visita Ulaf depois que ele tem um derrame. E não apenas isso, pois a sensação da mais absoluta impotência também impera, sem que a série ofereça saídas fáceis e heroicas a seus protagonistas, fugindo, com isso, do uso dos tropos básicos de histórias assim e oferecendo um verdadeiro desafio ao espectador que, ao longo de todas essas décadas da franquia Star Wars, aprendeu a esperar apenas mais uma história essencialmente maniqueísta do bem contra o mal.

Mas vamos falar primeiro de Dedra Meero que povoa meus pesadelos e já é facilmente candidata ao posto de um dos mais fascinantes personagens vilanescos de todo esse universo. Não só ela é a exceção dentre a soberba do Império que acha que realmente controla tudo e todos, detectando um movimento concertado que ela tenta desbaratar antes que seja tarde demais, como ela se mostra de uma frieza impressionante ao não titubear em fazer o que ela considera preciso para extrair o que quer de suas vítimas. A sequência lenta, mas perfeitamente cadenciada que começa com ela “conversando” com Bix e termina com a jovem rebelde prostrada em um colchão no chão depois que o Doutor Gorst (Joshua James), o torturador-mor do Império, também tem tempo para explicar exatamente o que ele fará com ela, é primorosa, valendo destaque para o fato de que a direção de Toby Haynes reproduz, quase que quadro-a-quadro, mas com uma pegada muito mais soturna, perigosa e urgente, a famosa cena de tortura da Princesa Leia por Darth Vader na Estrela da Morte.

E, novamente, não há heroísmos. Bix não tem o que fazer a não ser sofrer nas mãos de Gorst e responder as perguntas de Meero e isso é exatamente o que acontece, reforçando a subversão de expectativas que a série se esmera em fazer e sublinhando que heroísmos clichê simplesmente não existem nesse canto do universo que achávamos que conhecíamos. Sendo bem sincero e arriscando me taxarem de maluco, a coisa é tão bem construída, tão bem concatenada, que de certa forma torcemos pela oficial do ISB. Ok, ok. Não é que nós torçamos para ela torturar Bix, mas sim que ela prove, em definitivo, perante seus superiores, que ela está certa, algo que foi talvez sub-repticiamente plantado na mente do espectador – pelo menos na minha foi – quando vimos, em episódios anteriores, aquela competição interna ferrenha entre ela e Blevin.

E o que falar de Syril Karn? A construção do personagem continua firme e forte na série, com Tony Gilroy simplesmente se recusando a seguir o caminho mais viajado. De sub-chefe de segurança de uma empresa sob escrutínio do Império que caiu em desgraça, a filho submisso de uma mãe controladora, ela passou a ser um homem com apenas um objetivo, que é servir ao Império com toda sua força de vontade e habilidade como um caminho para vingar-se de Cassian Andor. E se isso significa mostrar toda sua submissão à Meero, que assim seja, pois ela, em sua visão, reconheceu seu valor ao premiá-lo como uma promoção, mas ele quer mais, provavelmente uma oportunidade de voltar a ser o que era. Ele é a prova mais absoluta do cuidado e do carinho dos roteiros com os personagens da série.

O único aspecto que não gostei nesse lado da história foi toda a captura, off screen, de um piloto rebelde. Eu reconheço que simplesmente não dá para abordar a contento todas as linhas narrativas e que lidar com mais outra célula rebelde poderia ser demais, mas não consigo gostar da velocidade e da conveniência como tudo aconteceu e de como esse elemento foi trabalhado apenas com diálogos que chegaram a ficar, pela primeira vez na série, um tanto quanto confusos e herméticos não por serem complexos, mas sim por não ecoarem em mais nada que vimos até agora. Não é algo grave, mas eu espero que esse lado da narrativa, se for realmente importante, seja trabalhado com o cuidado e calma que todo o restante da série vem recebendo.

Falando um pouco do protagonista, o que vemos, agora, é a continuidade natural de seu encarceramento. Era óbvio que ele faria de tudo para escapar e, portanto, foi natural ver que ele já tem um esboço de um plano na cabeça e alguns aliados aqui e ali. Mas é perceptível que ele, pelo menos até o momento da revelação do que aconteceu na Seção 2 após a morte de Ulaf, ele não tinha nada verdadeiramente palpável, apenas um começo de algo que nem ele exatamente sabe o que é. Mas, claro, com a descoberta de que ninguém realmente sai do complexo prisional – a compartimentalização do local permite isso quase que naturalmente, o que só aumenta a claustrofobia do episódio e da série como um todo – ele agora tem Kino Loy como um importante aliado e, não tenho dúvida, isso será essencial muito em breve.

No lado de Mon Mothma, para além de seu fracasso no Senado – as luzes dos pods se desligando mostram o quanto o Imperador tem suas garras profundamente enfiadas nos mais diversos planetas – que mostra, seguindo o tema do episódio, que ninguém a ouve, somos presenteados com uma surpresa: Vel Sartha, a líder do grupo que atacou a guarnição em Aldhani, é sua prima e ela usa como disfarce sua aparente alienação típica dos abastados que não se importam com nada (o que, vale lembrar, empresta outra dimensão ao diálogo dela com Cinta em Ferrix, no episódio anterior). Alguns poderão dizer que essa é uma conveniência de roteiro também, mas eu não enxergo assim. A conexão faz pleno sentido se pensarmos na própria Mon Mothma e sua ligação com Luthen Rael, além da necessidade narrativa de criar um condensamento da história geral, com ligações mais próximas entre os personagens estabelecendo um circuito fechado (comparem isso com a questão do piloto rebelde capturado que discuti acima e a diferença fica evidente).

Nobody’s Listening é primoroso na forma como ele sufoca seus personagens e, por tabela, seus espectadores, em mais um exemplo da qualidade desta série que vem aos poucos fortemente estabelecendo-se como um dos melhores produtos da história desta vasta franquia. Não há desperdício de absolutamente nada a cada nova hora da temporada inaugural, sejam diálogos ou reações e é fascinante constatar como Cassian Andor é trabalhado não como um personagem de absoluto destaque, mas sim apenas mais uma peça na complexa engrenagem que vem sendo minuciosamente montada.

Star Wars: Andor – 1X09: Nobody’s Listening! (EUA, 02 de novembro de 2022)
Desenvolvimento: Tony Gilroy
Direção: Toby Haynes
Roteiro: Beau Willimon
Elenco: Diego Luna, Kyle Soller, Denise Gough, Malcolm Sinclair, Anton Lesser, Andy Serkis, Duncan Pow, Christopher Fairbank, Clemens Schick, Brian Bovell, Tom Reed, Josef Davies, Rasaq Kukoyi, Genevieve O’Reilly, Alastair Mackenzie, Ben Miles, Fiona Shaw, Joplin Sibtain, Adria Arjona, Dave Chapman, Faye Marsay, Varada Sethu, Stellan Skarsgård, Elizabeth Dulau, Joshua James
Duração: 50 min.

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