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Crítica | Star Wars: Andor – 1X12: Rix Road

Hora de acordar e lutar.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

A necessidade Imperial de controle é desesperada assim porque é antinatural. A tirania requer esforço constante. Ela quebra, ela vaza. A autoridade é frágil. A opressão é a máscara do medo. Lembre-se disso.
Nemik, Karis

O final da primeira temporada de Star Wars: Andor poderia ter tido mais fogos de artifício, mais ação, mais pancadaria? Sim, sem dúvida alguma que poderia. Mas não deveria. E ainda bem que não teve. O que Tony Gilroy vinha propondo para este encerramento do primeiro ano de formação de Cassian Andor como um líder Rebelde ele alcança com a categoria de um showrunner que está muito mais preocupado com o desenvolvimento de seus personagens e que muito claramente tem um plano completo para eles, do que com elementos e artifícios que normalmente esperamos de uma série de ação.

Não que Rix Road seja um episódio repleto de sequências que não esperamos se o que esperamos é a convergência de todas as linhas narrativas (ou quase, claro, pois a de Mon Mothma não poderia fisicamente caminhar para lá) para Ferrix, mas isso não é demérito algum para o trabalho impecável de Gilroy em construir personagens dos dois lados do conflito com quem nos importamos, por quem torcemos, já que chega a ser impressionante o quanto pelo menos eu fiquei apreensivo com a possibilidade (remota, eu sei) de Dedra Meero, que finalmente demonstra descontrole, ser morta pela população da cidade e feliz com seu salvamento no último segundo por um atento Kyle Soller em uma sequência que acaba até mesmo com direito a pitadas de tensão sexual. E não é uma questão de torcer pelos vilões, mas sim de se preocupar por eles apesar de sabermos o que eles querem e o que eles fazem para conseguir o que querem.

E reparem no que Gilroy faz com seu protagonista mais uma vez: Cassian Andor, apesar de sempre presente, seja física ou apenas referencialmente, e apesar de salvar Bix Caleen manipulando o funeral de sua mãe para servir de cobertura, não tem mais do que algumas breves cenas e algumas poucas linhas de diálogo. Andor, apesar de muito claramente ter internalizado a causa rebelde depois de sua experiências em Ferrix, Aldhani e Narkina 5, algo que vemos quando ele diz a Luthen Rael, ao final, para ou matá-lo ou para recrutá-lo de vez, continua sendo aquele mesmo personagem estoico, introspectivo e silencioso que conhecemos no início da temporada que age na base da explosão programada e é cirurgicamente letal quando precisa ser.

Andor é justamente o que não esperamos de um protagonista que inclusive dá nome à série (ainda que, levando-se em consideração o uso do sobrenome e o que acontece neste episódio, podemos até dizer que o Andor do título é mais do que somente Cassian), pois seu heroísmo é discreto, breve e sem nenhuma intenção de criar um nome para si mesmo, algo que Maarva menciona via holograma ao afirmar que não faz o que faz para brilhar ou mesmo ser lembrada, mas sim, somente, porque ela quer que os demais continuem a luta. De certa maneira, é até uma sequência de salvamento anticlimática, pois o foco do episódio é justamente na fagulha da revolução citada por Karis Nemik em seu “audiomanifesto” e que entra em ignição com Maarva surgindo cortesia de B2EMO (e eu quero a cabeça do sujeito que chutou o androide!!!).

E, de fato, o discurso de Maarva, intercalado pela ação heroica de seu filho, é um grande momento da temporada, ainda que carregado de clichês do gênero, mas clichês que fazem pleno sentido no contexto, com o holograma incendiário inclusive tendo a mesma função que o holograma da Princesa Leia para Obi-Wan Kenobi, em Uma Nova Esperança. Mesmo que alguns possam dizer que o Império demorou muito para desligar o holograma – Maarva chegar até o seu “Enfrentem o Império!” não era estritamente necessário, mas sim completamente prazeroso – ou para reagir, temos que lembrar que tudo ali era um grande palco em que uma encenação estava acontecendo, com Cassian, de um lado, fazendo o que tinha que fazer para salvar Bix e, de outro, Dedra usando o momento para tentar capturar Cassian, com Luthen, Vel e Cinta apenas esperando nas sombras para matar o mesmo Cassian. Não aprendemos com o próprio Luthen que os fins justificam os meios em seu brilhante momento solo em One Way Out? Pois, aqui, em essência, a mesma coisa acontece de ambos os lados do conflito.

Em termos narrativos, Rix Road é uma aula magna de convergência de núcleos de personagens. Todas as estradas levavam literalmente até Ferrix, onde tudo começou, e isso acontece de maneira harmônica e lógica para todos os envolvidos. Ninguém está presente ali de maneira antinatural ou forçada, pois até mesmo Luthen Rael, lá no fundo, nutria a esperança do que acaba justamente acontecendo, com Cassian entregando-se para a causa. Como disse, a única personagem de destaque que não estava fisicamente em Ferrix é Mon Mothma e o roteiro de Gilroy a deixa em Coruscant, brindando-lhe com duas cenas que paralelizam a ação principal. A primeira delas é a briga claramente encenada (ou, talvez melhor dizendo, unilateralmente encenada) pela senadora com seu marido sobre o vício dele em jogos, de maneira que seu motorista, que, conforme cena posterior confirma, é mesmo informante do Império, mais especificamente de Blevin e, a segunda, consequência direta da primeira, o momento em que Mon Mothma “entrega” sua filha para o filho adolescente do gângster Davo Sculdun, simbolizando sua própria e completa entrega para a causa, como no caso de Cassian.

Finalmente, o cuidado de Gilroy em amarrar todas as pontas soltas para um final de temporada essencialmente fechado, que, obviamente, abre caminho para a “segunda fase”, vai até nos mínimos detalhes, com a inclusão de uma sequência pós-créditos em que vemos que aquela misteriosa peça que os prisioneiros em Narkina 5 montavam era para a construção da arma de destruição em massa da Estrela da Morte. Era necessário vermos isso? Não, claro que não. Mas, novamente, assim como o “Enfrentem o Império!” de Maarva, a cena foi incrivelmente prazerosa. Diria até foi a melhor cena pós-créditos que vejo em muitos e muitos anos.

Rix Road tinha a prerrogativa de ser um episódio literalmente explosivo, mas Tony Gilroy acertadamente resistiu à tentação e entregou algo que é tonalmente condizente com tudo o que veio antes, além de ser um cuidadoso trabalho de convergência narrativa que não se vale de artificialidades para funcionar. A origem de Cassian Andor como agente dos Rebeldes chega a seu fim com chave de ouro e prepara o terreno para uma segunda e última temporada que tem tudo para ser pelo menos tão surpreendentemente boa quanto a primeira.

Star Wars: Andor – 1X12: Rix Road (EUA, 23 de novembro de 2022)
Desenvolvimento: Tony Gilroy
Direção: Benjamin Caron
Roteiro: Tony Gilroy
Elenco: Diego Luna, Kyle Soller, Denise Gough, Stellan Skarsgård, Genevieve O’Reilly, Faye Marsay, Adria Arjona, Joplin Sibtain, Varada Sethu, Dave Chapman, Duncan Pow, Elizabeth Dulau, Bronte Carmichael, Kathryn Hunter, Noof Ousellam, Wilf Scolding, Victor Perez, Abhin Galeya, Alastair Mackenzie, Lee Ross, Gary Beadle, Lucas Bond, Kieran O’Brien, Alex Lawther, Nick Moss, Ben Bailey Smith, Robert Emms, Anton Lesser, Finley Glasgow, Richard Dillane, Rosalind Halstead, Gavin Spokes, Muhannad Bhaier, Fiona Shaw
Duração: 56 min.

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