- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas da série.
É com uma tremenda felicidade, mas ao mesmo tempo uma inevitável tristeza. que escrevo a última crítica de trinca de episódio de Star Wars: Andor, série que se solidifica como uma das melhores obras da franquia em que está inserida e que, mesmo fora dela, consegue situar-se com facilidade no panteão das grandes séries recentes. A felicidade vem pela constatação de que Tony Gilroy conseguiu entregar, com qualidade extrema, quatro anos de história comprimidos em apenas 12 episódios e a tristeza, claro, vem por um lado pela série ter acabado e por imaginar o quanto seria interessante se o showrunner tivesse tido pelo menos mais uma ou duas temporadas para nos brindar com a excelência que ele exibiu aqui. Não que eu ache que faltou algo, vejam bem, mas simplesmente porque ver mais da série seria um prazer.
Não havia como o quarto e último arco da série não focasse em Luthen Rael e seu legado e Gilroy sabia muito bem disso, especialmente porque, no arco anterior, ele lidou com o grande momento de Mon Mothma finalmente jogando abertamente contra o Imperador Palpatine. Em Faça Isso Parar, não só aprendemos um pouco do passado do sombrio e maquinador líder rebelde, que desertou das tropas do Império e acolheu Kleya Marki, ainda criança, como filha e pupila, construindo aos poucos sua rede de informantes sob o disfarce de antiquário, como ele também chega a seu fim digno, enfrentando Dedra, que finalmente o localiza e desmascara e sacrificando-se para impedir que informações sejam retiradas dele, sacrifício esse, então, que é completado pela própria Kleya em uma missão inevitável, mas cheia de dor. Enquanto alguns mais cínicos poderão dizer que a “origem” de Luthen é muito batida, tenho para mim que, primeiro, não havia tempo para complicar, e, depois, achei fascinante a escolha de ele começar como um sargento do Império traumatizado pelas atrocidades que foi obrigado e a ver e, provavelmente, a cometer, quase que em uma escolha idealista, pura e de certa forma inocente, já que isso nos leva a pensar no caminho certamente ainda mais sombrio que teve que percorrer ao longo dos anos para ele chegar ao ponto que chegou, um homem capaz de friamente assassinar seu contato de anos infiltrado no Império que acabou de lhe passar informação de grande importância, informação essa obtida com uma dose leve de conveniência admito, mas que exatamente justifica esse trabalho invisível e incrivelmente perigoso de Lonni Jung.
A escolha de dedicar um episódio inteiro a Rael, ferindo-o mortalmente logo no começo, somente para Kleya pegar a metafórica tocha e terminar o trabalho em uma sequência muito bem construída e tensa que Alonso Ruizpalacios dirigiu com grande inteligência e economia, era exatamente o que era necessário para dar ao veterano da Rebelião a despedida que ele merecia, com o segundo, então, abrindo espaço para Cassian Andor retornar, dessa vez agindo ao lado de seu fiel, sarcástico e poderoso K-2SO. Obviamente, a missão não sancionada de resgate de Kleya de Coruscant em Quem Mais Sabe? tem ecos da extração de Mon Mothma do mesmo lugar por Cassian em Bem-Vinda à Rebelião, mas com uma pegada de completo improviso, de tristeza, de desespero e de um espetacular uso do droide KX com uma “sequência de corredor” que teve até direito ao uso do corpo já inerte de Heert como escudo. Mas o episódio vai além e também lida com Dedra e as consequências de sua missão também não autorizada de captura de Luthen, em que ela é interrogada por ninguém menos do que o Diretor Orsaon Krennick, com Ben Mendelsohn e Denise Gough dando um show de atuação conjunta, só que dessa vez em franca oposição que só enriquece a elipse temporal em que podemos muito bem imaginar o quanto Dedra intensificou sua busca obsessiva por “Eixo” depois da morte de Syril.
O derradeiro episódio – Jedha, Kyber, Erso – tinha a difícil missão de encerrar a série e suas linhas narrativas, além do destino dos personagens e tudo isso estabelecendo a necessária conexão com Rogue One. E todo o elenco retorna para que isso seja possível, até mesmo Jonathan Aris e Sharon Duncan-Brewster que viveram dois senadores em Yavin IV no prelúdio do filme original de 1977. Mas o que realmente torna o último episódio especial é a forma como ele continua explicitando as divisões que existem dentro da Aliança Rebelde, com o Saw Gerrera holográfico deixando bem clara sua posição sobre o que Mon Mothma e os demais fazem e com todos ali, na “távola redonda” da quarta lua do gigante gasoso vermelho Yavin Prime, evidenciando seu desdém por Luthen Rael e tudo o que ele fez para tornar a rebelião possível. É necessário que Cassian Andor, há dois anos distante de seu mestre por ele ter tentado manobrar Bix, se desdobre para afirmar que as informações obtidas precisam no mínimo ser verificada para que a máquina burocrática seja posta em movimento por uma Mon Mothma que sabe em primeira mão o valor do agente rebelde e que conhecia Rael muito bem. Sem Mothma, Bail Organa não autorizaria a viagem de Cassian até Kafrene que marca o momento em que conhecemos o personagem de Diego Luna em Rogue One (vale rever o filme em seguida, como fiz, pois o diálogo de Cassian com Kivik encaixa-se perfeitamente com o que agora aprendemos que ele sabia).
E houve até tempo para que Gilory nos oferecesse vislumbres da partida de Cassian e K2 para Kafrene, de Wilmon, Kleya e Vel aguardando o que vem por aí em Yavin IV, Partagaz se suicidando para fugir de seu destino em Coruscant, Dedra presa em lugar parecido com Narkina 5, Krennick observando a Estrela da Morte em construção, Gerrera olhando para o horizonte desértico de Jedha e, finalmente, B2EMO e Bix – esta com o bebê de Cassian no colo – vivendo aparentemente felizes, ou tão felizes quanto possível, em Mina-Rau. Sim, eu assistiria fácil mais duas temporadas de 12 episódios cada de Star Wars: Andor ou, na verdade, qualquer projeto da franquia em que Tony Gilroy porventura se envolver. Na verdade, eu fico imaginando como seria bacana usar Rogue One e agora Andor como fonte de mais spin-offs, talvez um de Luthen e Kleya, outro de Andor e K2 em missões naquele um ano entre os arcos 3 e 4 da série, um de Jyn Erso e Saw Gerrera e, porque não, um de Chirrut Îmwe e Baze Malbus? Raios, até as aventuras do pequeno Cassian Jr. eu veria… Que os mandachuvas da franquia não se esqueçam de obras como Andor e roteiristas como Gilroy.
Star Wars: Andor – 2X10, 2X11 e 2X12: Faça Isso Parar / Quem Mais Sabe? / Jedha, Kyber, Erso (Star Wars: Andor – 2X10, 2X11, 2X12: Make It Stop / Who Else Knows? / Jedha, Kyber, Erso – EUA, 13 de maio de 2025)
Desenvolvimento: Tony Gilroy
Direção: Alonso Ruizpalacios
Roteiro: Tom Bissell
Elenco: Diego Luna, Stellan Skarsgård, Genevieve O’Reilly, Elizabeth Dulau, Denise Gough, Alan Tudyk. Muhannad Bhaier, Anton Lesser, Faye Marsay, Robert Emms, Jacob James Beswick, Alistair Petrie, Benjamin Bratt, Dave Chapman, Adria Arjona, Jonathan Aris, Sharon Duncan-Brewster, Ben Mendelsohn, Forest Whitaker
Duração: 51 min. (2X10), 45 min. (2X11), 49 min. (2X12)