Home TVEpisódio Crítica | Star Wars: Andor – Episódios 1 a 3

Crítica | Star Wars: Andor – Episódios 1 a 3

Um começo mais do que promissor.

por Ritter Fan
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Esse é o som de um acerto de contas.
– Andor, Maarva

Rogue One, prelúdio de Uma Nova Esperança, pegou-me completamente de surpresa nos cinemas e, para mim, é até hoje, de longe, a melhor obra live-action de Star Wars desde 1983, quiçá 1980. Quando o anúncio de uma série prelúdio do prelúdio focada em Cassian Andor saiu lá pelo final de 2018, fiquei na dúvida se realmente queria ver uma história de origem do personagem, especialmente considerando que o anunciado showrunner seria Stephen Schiff, bom, mas sem qualquer bagagem nessa galáxia, muito, muito distante.

No entanto, exatamente como aconteceu com o inesperado longa de 2016, que passou por refilmagens depois que Tony Gilroy foi chamado para reescrever boa parte do roteiro, Schiff foi substituído pelo próprio Gilroy, acendendo minha curiosidade. O anúncio posterior de que, diferente das outras séries live-action da franquia, a produção reverteria para a construção de cenários práticos sempre que possível, animou-me ainda mais, mesmo que minhas reticências se mantivessem firmes e fortes.

Quando, no primeiro episódio de Andor, o personagem titular entra em um prostíbulo para indagar sobre o paradeiro de sua irmã e, ato contínuo, acaba matando dois funcionários de uma corporação que, sob as asas do Império, comanda o sistema em que ele está, sendo que um deles com um tiro a queima-roupa na cabeça, emulando a cena que nos apresenta ao personagem em Rogue One, tive a mesma reação de surpresa e interesse que senti no cinema há alguns anos. Tudo indicava que Tony Gilroy estava no caminho certo novamente, com o tom sendo estabelecido de imediato e revelando a intenção de entregar uma série mais realista, mais pé no chão passada nesse fantástico universo, algo que, muito sinceramente, era necessário depois da sacrílega O Livro de Boba Fett e da “boa, mas bem menos do que deveria ter sido” Obi-Wan Kenobi.

Para começo de conversa, a escolha de se trabalhar com cenários físicos tanto quanto economicamente viável foi mais do que acertada. O visual de Andor ganhou muito com isso, revertendo àquela sensação de espaço vivido que é tão cara à franquia nas raras vezes em que as produções pós-1999 se lembram disso. A fotografia de Adriano Goldman, que trabalhou em The Crown, assim como os figurinos de Michael Wilkinson, de Trapaça, e toda a direção de arte sob a supervisão de Toby Britton, de Dunkirk e Tenet, terminam de facilitar tremendamente a imersão nesse canto do vasto universo Star Wars que prova que sim, merece ser mais explorado. Não é uma questão de usar o adjetivo “sombrio” daquela maneira diluída de hoje em dia, mas sim de sua forma original, em que as efetivas sombras não são exatamente necessárias, mas sim a criação de toda uma atmosfera que incomoda o espectador, que o retira de sua zona de conforto.

E os roteiros de Gilroy não facilitam a apreciação fácil desses três episódios iniciais. A estrutura de narrativas paralelas, uma no presente, com Cassian adulto como Diego Luna e outra no passado, com Cassian – ou melhor, Kassa – ainda criança no planeta Kennari como Antonio Viña, oferecem uma vagarosa origem “dupla”, uma em que aprendemos como o Cassian Andor que vemos nesse começo da série surgiu e outra como o Cassian Andor de Rogue One realmente começou, em um belo exemplo de uso de artifício narrativo simples, mas muito eficiente. Mas a expressão de ordem é “queima lenta”, com poucos momentos realmente de ação, algo que é visto com o protagonista dando cabo dos mencionados funcionários da corporação que passa, então, a caçá-lo e, depois, somente no terceiro episódio, na estupenda sequência de fuga que começa no armazém onde ele se encontra com o proto-Rebelde Luthen Rael (Stellan Skarsgård) e vai até o final, com os dois decolando de Ferrix, um planeta que, ao que tudo indica, vive de desmonte de naves, enquanto tudo o que vemos no presente é paralelizado por sua adoção, quando jovem, por Maarva Andor (Fiona Shaw) e seu simpático androide B2EMO (voz de Dave Chapman, que também fez os sons de BB-8) que me lembrou V.I.N.C.E.N.T., de O Buraco Negro.

Mesmo não gostando quando séries semanais começam com a oferta de mais de um episódio de uma vez, a decisão, aqui, foi acertada e justificada exatamente pela bem-vinda lentidão da narrativa. O ponto é que, muita gente, acostumada com pancadaria incessante ou incapaz de lidar com sequências que se beneficiam de cortes espaçados, ficaria frustrada com apenas o primeiro episódio e é sempre bom, nesses casos, deixar bem claro que tudo faz parte de um arco e que, portanto, tem razão de ser. Afinal, aquilo que é minuciosamente construído ao longo de dois episódios, e que poderia ser resumido em um magnífico senso de comunidade em Ferrix, paga seus generosos dividendos no terceiro que, inclusive, parece encerrar o primeiro arco narrativo da série de 12 episódios (de um total de 24, já que a segunda e última temporada começou sua produção e, ao que tudo indica, levará até os eventos de Rogue One).

Diego Luna está novamente muito bem em seu papel de Cassian Andor e é visível, já aqui, o personagem que hesitantemente faria par com Jyn Erso para roubar os planos da Estrela da Morte. Não há nenhuma tentativa de suavizar o protagonista, estabelecendo um começo minimamente alegre ou criar um personagem daqueles simpáticos, fácil de se conectar. Ele já começa, quando criança, em um planeta em que um desastre ambiental ocorreu, vivendo em uma comunidade de jovens aparentemente abandonados à própria sorte e tendo que se defender com zarabatanas. O sentimento de perda, quando ele é levado por Maarva para longe de sua jovem irmã, é palpável, assim como sua frieza e acidez já adulto, com suas relações em Ferrix sendo muito mais funcionais do que conectadas por um tecido de amor ou amizade. Cassian é uma pessoa essencialmente prática, que vive a vida às margens da sociedade padrão, mas que ainda não tem a visão altruísta anti-Império que provavelmente muito em breve adquirirá, algo que Luna consegue passar com bastante facilidade graças a um roteiro que não tenta ser “bonitinho” e de um trabalho de direção de Toby Haynes que sabe aproveitar o material raro que tem em mãos como ele já havia feito em Sherlock, Doctor Who e Utopia, dentre outras séries.

Os três primeiros episódios de Star Wars: Andor recapturam a atmosfera de Rogue One e entregam um exemplar da franquia que novamente se aproxima o máximo possível do realismo, jogando pela janela a narrativa infanto-juvenil que marca a maioria dos filmes e séries da franquia e criando um material mais adulto, mais complexo e mais saboroso, com um cuidado técnico invejável e uma história que promete muito. Se a série cumprirá sua promessa ao fim de seus 12 primeiros episódios, descobriremos muito em breve!

Star Wars: Andor – Episódios 1 a 3 (EUA, 21 de setembro de 2022)
Desenvolvimento: Tony Gilroy
Direção: Toby Haynes
Roteiro: Tony Gilroy
Elenco: Diego Luna, Kyle Soller, Adria Arjona, Joplin Sibtain, James McArdle, Rupert Vansittart, Stellan Skarsgård, Fiona Shaw, Alex Ferns, Dave Chapman, Antonio Viña, Belle Swarc
Duração: 41 min. (1X01), 37 min. (1X02), 42 min. (1X03)

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