Home TVTemporadas Crítica | Star Wars: Histórias dos Jedi – 1ª Temporada

Crítica | Star Wars: Histórias dos Jedi – 1ª Temporada

Os problemas da Ordem.

por Kevin Rick
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Avaliação geral
(não é uma média)

  • Há spoilers.

Dave Filoni é incansável, não é mesmo? Criador de inúmeras animações no Universo de Star Wars e atualmente envolvido em três séries live-action da mesma franquia (que temos conhecimento), o roteirista/diretor se tornou a principal mente criativa por trás do mundo audiovisual criado por George Lucas, por bem ou por mal. Agora, no final de 2022, Filoni nos presenteia com mais uma ótima animação, que acompanha as histórias de diferentes Jedi.

A série tem o mesmo formato antológico de Star Wars: Visions, apesar da primeira temporada seguir uma trajetória mais próxima de compilados, com três episódios seguindo Ahsoka e os outros três acompanhando o Conde Dooku. No entanto, se Visions procurava os episódios antológicos para se distanciar do cânone, criar novas interpretações da franquia e trazer liberdade visual e narrativa para seus criadores, Histórias dos Jedi segue caminho quase oposto. A animação está intimamente interessada em mitologia, em desenvolver personagens que já conhecemos e em abordar temas e visuais familiares, inclusive com o mesmo estilo de Star Wars: A Guerra dos Clones.

Dito isso, vamos às críticas por episódio, divididas entre mim, com as histórias de Dooku, e meu colega Davi Lima, que escreveu sobre os episódios da Ahsoka, ranqueados do “pior” ao melhor. Digam o que acharam da temporada e deixem seus rankings!

Episódios da Ahsoka

3º Lugar:
Decisão

1X06

Era para estar morta.

Passando pelo nascimento, República e Império, Ahsoka entrega o terceiro módulo Jedi: a iniciativa. Todos os curtas dessa série sobre Dooku e Ahsoka definem fases de um Jedi genuíno, seja em questionamentos ao Conselho, a política, a ideologia, seja em pregações do que é essa vida Jedi. São monges passivos ou são pacifistas ativos? São os que oram, ou são os que evangelizam? Isso varia em tempos de paz e tempos de guerra? Entre tantas perguntas, Filone é um pouco covarde em colocar a decisão de Ahsoka quanto a fase três do Jedi como um gancho para o que se sabe da Fulcrum da série Rebels e da personagem que apareceu em The Mandalorian.

Conexão com a Força, Prática com a Força e a Iniciativa da Força. Poderiam ser os três módulos que ajudariam a desenhar os três momentos de Ahsoka na série de curtas-metragens. Mas infelizmente, há também três categorias de curtas na série para agradar o público, que colocam esses módulos como segundo plano. Há o curta explicativo canônico, há o curta prelúdio do personagem e o curta gancho para alguma obra já feita de Star Wars. Cada um dos Jedi representados na série tem essa produção, formando seis episódios. Então, o momento que a Ahsoka escondida salva um fazendeiro e prejudica o rancho, na verdade se torna um espetáculo visual de empolgação, nada mais, para ver um Inquisidor.

É verdade que os visuais de Star Wars são singulares e definidores de momentos chaves para a franquia. A morte de Qui Gon Jinn pelo vilão mais aclamado pelo visual, o Zabrak Darth Maul, é um exemplo do Episódio I. Mas Filone repete erro semelhante a depender do clímax pelo visual, mesmo que implicitamente retomar o início da Ahsoka, o exemplo de Jedi, sobre a pauta da vida e morte. O Inquisidor diz a Ahsoka: “Era para estar morta”, e a aplicação do combate é na melhor forma Jedi: assassinato rápido, sem prazer de lutar e de matar. Ainda assim, esse clímax, que chama Bail Organa, do começo do curta, ao final, se limita a chamar atenção, não definir a iniciativa de Ahsoka. O suspense se torna gancho, não uma decisão ambígua que personaliza a personagem tão importante para reviver a origem dos Jedi.

Escrito por: Davi Lima

Decisão (Resolve) – EUA
Direção: Saul Ruiz
Roteiro: Dave Filoni (inspirado no Universo Star Wars, de George Lucas)
Elenco: Ashley Eckstein, Phil LaMarr, Clancy Brown, David Shaughnessy, Dee Bradley Baker, Bryton James, Dana Davis
Duração: 15 min.

2º Lugar:
Vida e Morte

1X01

Jedi. Ahsoka é uma Jedi.

De maneira didática e cronológica, essa série de curtas sobre Jedi produzida por Dave Filoni, o aprendiz oficial e evoluído de George Lucas, começa com o nascimento de Ahsoka Tano. É a primeira palavra que entendemos nos primeiros minutos de metragem, após um Togruta falar sua língua nativa anunciando a vila o nascimento da futura Jedi. E o episódio, intitulado Vida e Morte, coloca uma pauta definitiva que caracteriza a responsabilidade dos pacificadores da República, algo que define Ahsoka desde seus primeiros momentos de vida.

Os Jedi sempre tiveram uma conexão forte com a Força, que rodeia todo o universo de Star Wars, semelhante a crença panteísta. Então, esse primeiro curta concebe com um olhar da bebê Ahsoka e a frase da anciã da vila chamada Gantika o que é um Jedi perfeito. Para uma série que escolhe contar a história de dois Jedi que saíram da ordem Jedi por motivos distintos, caracteriza a icônica Ahsoka no seu nascimento sobrevivendo à morte sem violência, sem armas, no momento que só dependeu da Força, não há dúvida: “Jedi. Ahsoka é uma Jedi”.

Esta frase da anciã, a caracterização da vila com um 3D que parece paisagem 2D, a construção da natureza com os animais – desde o kybuck caça ao “tigre” caçador – e a transição calma da história demonstra como Filone conhece Star Wars. Não se trata apenas do seu roteiro do curta que escreve a concepção da Jedi que ele desenhou para a série animada The Clone Wars, se trata de contar uma história comum, quando tradições Togrutas podem ser perigosas – como Pav-it, a mãe de Ahsoka, levá-la para uma caça – e podemos desfrutar como a Força expõe os verdadeiros pacificadores desde o berço. É um conto de como se cria um Jedi: entre a vida e a morte.

Escrito por: Davi Lima

Vida e Morte (Life and Death) – EUA
Direção: Nathaniel Villanueva
Roteiro: Dave Filoni (inspirado no Universo Star Wars, de George Lucas)
Elenco: Toks Olagundoye, Sunil Malhotra, Janina Gavankar, Noshir Dalal
Duração: 15 min.

1º Lugar:
Prática Leva a Perfeição

1X05

Espero que todo o treinamento compense

Após ver três episódios seguidos sobre como um Jedi pode se corromper por forças políticas que afetam a espiritualidade da Força, Ahsoka se torna ainda mais relevante dentro de um percurso de curtas que evidenciam por contraste quem são os verdadeiros Jedi, os pacificadores, como Qui Gon Jinn no episódio dois. Mas além da conexão com a Força, o segundo fator que define um bom Jedi é seu exercício de aperfeiçoamento. E se Filone foi pragmático em contar o nascimento da Ahsoka, nesse penúltimo curta há uma ousadia em mostrar que o Escolhido, Anakin Skywalker, contribuiu para o destino da vida de sua aprendiz, mesmo sendo o representante do expurgo de Jedi como Darth Vader.

Se a Ordem 66 foi tão mortal, até mesmo para os mais conectados à Força, o que diferenciaria um Jedi a sobreviver em tempos obscuros e nebulosos da Força que tanto Yoda reconhece? Curiosamente, Yoda e Ahsoka, com o mesmo estilo de luta chamado Ataru sobreviveram aos primeiros momentos da ordem de Palpatine. Mas o que garante qualidade quase perfeita desse curta é a definição das práticas de resiliência e superação além das máquinas, dos robôs e treinamentos convencionais. Um bom Jedi necessita repetir e repetir para alcançar a perfeição em constante busca. Isso é definitivo na direção da animação, em que a montagem de treinos se torna uma narrativa trágica e de necessidade do que se está aprendendo.

A cada fade in e fade out, a cada tela preta na tela que assistimos o curta quando Ahsoka desmaia com um tiro de concussão dos Clone Troopers, mais vai avançando o percurso da República para o Império. O treinamento de um Jedi ele busca uma eternidade na Força, que garante sua sobrevivência e pacifismo ao longo das eras. Ahsoka, ao ouvir de Rex a seguinte frase: “Espero que todo treinamento compense.”, o curta se completa com o título: Prática Leva a Perfeição. Além do fator canônico que ajuda a explicar o porque Ahsoka conseguiu sobreviver ao expurgo nos últimos episódios de Star Wars The Clone Wars, e o fanservice de ver Kanan empolgado em ver Ahsoka treinando no Conselho Jedi, nesse curta há a definição do segundo módulo do Jedi: a prática da Força, que é o treinamento pela vida.

Escrito por: Davi Lima

Prática Leva a Perfeição (Practice Makes Perfect) – EUA
Direção: Saul Ruiz
Roteiro: Dave Filoni (inspirado no Universo Star Wars, de George Lucas)
Elenco: Corey Burton, Ian McDiarmid, Liam Neeson, Bryce Dallas Howard
Duração: 17 min.

 

Episódios do Conde Dooku

3º Lugar:
Justiça

1X02

Duvido se algo vai mudar de verdade com isso.

O segundo episódio da animação começa a seguir Conde Dooku, famoso Jedi da franquia que sucumbiu ao lado negro e ajudou Palpatine a criar o Império, corromper Anakin e derrubar a República na trilogia prelúdio. Aqui, vemos Dooku mais jovem, antes da sua corrupção e ainda mestre de Qui-Gon Jinn. O personagem e seu padawan são enviados para resolver uma situação de sequestro em um planeta distante.

O primeiro aspecto que me impressiona na história é a morte e pobreza da região que eles pousam, algo enfatizado pelo tom opaco e a paleta de cores escuras da direção artística. É um episódio que traz uma certa ambivalência para o estado da Galáxia durante a República, o Senado e o Conselho dos Jedi. A minutagem curta não dá espaço para uma profundidade política ou melhores nuances para os elementos de ambiguidade, abordados de maneira óbvia, mas há um interesse dramático muito interessante em introduzir as motivações de Dooku para trair a Ordem.

Podemos ver vislumbres da violência do personagem e seu senso de justiça confuso, algo muito bem equilibrado com a persona pacífica de Qui-Gon Jinn. Gosto de como a pequena batalha é carregada de sentimentos, seja a trilha sonora que enfatiza Dooku se perdendo na fúria, seja o foco em cidadãos morrendo em face à corrupção governamental, não muito diferente do que já vimos muitas vezes no Império. Justiça é um episódio, portanto, que funciona como a origem da derrocada de Dooku, e que também demonstra os problemas da República, nessa linha narrativa de muita ambiguidade e questionamentos morais que o meio audiovisual de Star Wars está assumindo desde Rogue One, e que amadureceu bastante em Andor.

Justiça (Justice) – EUA
Direção: Saul Ruiz
Roteiro: Dave Filoni (inspirado no Universo Star Wars, de George Lucas)
Elenco: Corey Burton, Micheál Richardson, Mark Rolston, Josh Keaton, Vanessa Marshall
Duração: 15 min.

2º Lugar:
Escolhas

1X03

Os Jedi clamam por paz, mas, em geral, mantêm lei e ordem para ricos e poderosos.

Na superfície, Escolhas pode parecer um episódio redundante, apenas repetindo a mesma história de Justiça sobre a corrupção da República e a transformação de Dooku frente a tudo isso, com a principal diferenciação sendo a mudança da dinâmica durante a missão do episódio. Saísse Qui-Gon Jinn e entra Mace Windu (infelizmente, sem dublagem de Samuel L. Jackson), com os dois mestres Jedi sendo enviados para investigar a morte de outro Jedi.

A questão é que a mudança da dinâmica é essencial para a história, se distanciando do equilíbrio entre Dooku e seu aprendiz, e se aproximando de uma dicotomia sobre os diferentes ângulos que o protagonista e Windu enxergam para manter a paz e a ordem da galáxia. Existe uma certa ingenuidade e inflexibilidade na visão de Windu, seguindo protocolos e regras que representam a rigidez do Conselho dos Jedis que levou à corrupção do Senado e à invasão dos Sith. Mesmo com boas intenções, Windu e companhia são culpados pela vitória do Império, enquanto Dooku não se mostra como um personagem apenas “maldoso”.

Sua traição é diferente de Anakin, que foi seduzido por poder. Dooku desce ao lado sombrio não por conta de algum tipo de atração ou reação, mas sim por princípios ideológicos. É bastante intrigante perceber como o Império também pode inspirar e até soar como uma solução, dependendo de certos pontos de vistas que abandonam uma representação maniqueísta. Também vemos um pouco do lado mais político de SW, apesar do curta não conseguir explorar isso de maneira mais detalhada.

Escolhas (Choices) – EUA
Direção: Saul Ruiz
Roteiro: Dave Filoni (inspirado no Universo Star Wars, de George Lucas)
Elenco: Corey Burton, Micheál Richardson, Mark Rolston, Josh Keaton, Vanessa Marshall
Duração: 15 min.

1º Lugar:
O Lorde Sith

1X04

Que escolha eu tenho?

O Lorde Sith é o ponto final na transformação de Dooku ao longo dos três episódios da animação. Aqui, já vemos que o personagem estava trabalhando para Palpatine, mas ainda com alguns conflitos internos e escolhas morais sendo questionadas, principalmente quando seu antigo aprendiz morre. Descobrimos, portanto, algumas cenas que se passaram durante os eventos da trilogia prelúdio, inclusive o destino da Mestre Yaddle.

Mas nem só de mitologia e cânone vive o episódio. O que efetivamente assistimos é como escrever um bom vilão, ou, melhor dizendo, como desenvolver um vilão já conhecido, dando mais peso dramático e substância para os eventos dos filmes. Aprendemos sobre a complexidade emocional e a deturpação ideológica do personagem, entendemos suas motivações apesar da trajetória errada e, em determinadas camadas, o espectador consegue sentir empatia pelo antagonista.

O seu ato final de assassinar Yaddle é o momento irreversível, dá conclusão a este arco e ao Jedi que conhecemos. A trilha sonora é épica, a luta é tensa, a participação de Yaddle traz emoção e o manipulador Palpatine ao fundo é o símbolo de que Dooku seguiu o caminho errado. Ainda assim, é impossível deixar de entender como Dooku chegou aqui, não através de sede de poder ou motivações maquiavélicas, mas sim por princípios ideológicos caros aos Jedi que não estavam sendo seguidos pelo Conselho. Sua derrocada e a morte de Yaddle trazem um desfecho amargo, mas nada é mais pessimista ou ambíguo do que refletir que Dooku chegou aqui pelas ações erradas da República.

O Lorde Sith (The Sith Lord) – EUA
Direção: Saul Ruiz
Roteiro: Dave Filoni (inspirado no Universo Star Wars, de George Lucas)
Elenco: Corey Burton, Ian McDiarmid, Liam Neeson, Bryce Dallas Howard
Duração: 17 min.

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