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Crítica | Star Wars: Knights of the Old Republic II – The Sith Lords

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

“O que você quer ouvir? Que eu já acreditei no código Jedi? Que eu senti a chamada do Sith, que talvez, uma vez, eu segurei a galáxia pela garganta? Que para cada bom trabalho realizado, eu trouxe danos iguais sobre a galáxia? Que talvez o que o maior dos lordes dos Sith sabia do mal, eles aprenderam de mim?”―Kreia

Knights of the Old Republic foi um marco dentro do Universo Expandido de Star Wars, criando uma linha narrativa que acabou influenciando dezenas de outras obras e que continua até hoje sendo reverenciado como um dos, se não o melhor game da franquia. Sua sequência, The Sith Lords, contudo, acaba muitas vezes sendo esquecida, fruto sem dúvidas do deadline imposto pela Lucasarts para que a Obsidian Entertainment finalizasse o jogo em um curto período de tempo, o que resultou em uma obra inacabada e que, desde então, passara pelas mãos de inúmeros fãs que criaram mods para aproximar o jogo à visão original dos desenvolvedores. Mesmo sem essas modificações, contudo, KOTOR II é um jogo tão bom quanto o primeiro e, em muitos aspectos, chega a ser superior ao original.

Evidente que se você procura uma história de Star Wars ao pé da letra, uma aventura nos moldes de Uma Nova Esperança ou qualquer um dos outros seis filmes da franquia, o primeiro game irá ser mais atraente. The Sith Lords foge dessa fórmula ao nos entregar um enredo que abandona o maniqueísmo vigente na franquia, colocando tudo em uma área cinza. O Lado Negro e o Lado da Luz nunca tiveram uma linha divisória tão tênue quanto aqui e muitas vezes não sabemos exatamente se nossas ações são boas ou ruins de fato. O maior exemplo disso é a fascinante personagem Kreia, que atua como a mestre de seu personagem ao longo do jogo. Em um ponto chegamos a perguntar se ela é Jedi ou Sith e sua resposta é: isso realmente importa? Em outro momento ela questiona uma de nossas ações, indicando que um ato de bondade pode levar para um inevitável trágico resultado, ao mesmo tempo que a maldade somente gera mais sofrimento a todos ao redor. São diálogos como esse que fazem de KOTOR II uma experiência muito mais profunda, filosófica e intimista que o game original – é uma proposta diferente, arrebatadora e perturbadora que nos aproxima mais do que nunca do perigoso caminho da Força.

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Aqui controlamos o Exilado, um Jedi que seguira Revan durante as Guerras Mandalorianas, antes dos eventos de Knights of the Old Republic, e que fora julgado pelo Conselho Jedi e fora expulso pela sua rebeldia. Anos se passam e esses cavaleiros que zelavam pela ordem na galáxia foram praticamente extintos, fruto da guerra civil iniciada por Revan e seu aprendiz, Malak e de uma silenciosa caçada de outros lordes Sith que começaram a atacar após os eventos do jogo original. Ao que tudo indica, resta somente o Exilado, o último jedi e cabe a ele decidir se irá salvar a galáxia dessa ameaça ou apenas afundá-la mais nas sombras.

Não estamos falando, porém, de uma missão para salvar esse universo. Não, KOTOR II é muito mais intimista, o foco aqui está no protagonista, em suas constantes mudanças, na forma como encara o mundo ao seu redor e seus companheiros. Para isso, a Obsidian criara centenas de diálogos que nos fazem questionar tudo o que sabemos de Star Wars e sobre sua mitologia. Esse é o grande trunfo do jogo e o que destaca até hoje dentre RPGs em geral, ao passo que dificilmente encontraremos um melhor trabalho com as falas de qualquer personagem. Cada um deles nos oferece novos elementos e deixa muito para nossa interpretação, se apoiando fortemente no role playing, que não se resume apenas a escolher habilidades ou poderes. Nós construímos a história de Knights of the Old Republic mais do que nunca.

Em termos de mecânica, o game permanece praticamente o mesmo de seu antecessor, com poucas mudanças que apenas melhoram a fórmula. Uma bela introdução são as classes avançadas, que dão um ar novo ao jogo e permitem um aprofundamento maior do treinamento Jedi visto no jogo anterior. Os novos poderes e habilidades transformam a progressão ainda mais fluida e se encaixam perfeitamente com nosso estilo de jogo e existe um grau de customização ainda maior, com novas armaduras e mais opções de upgrades para nossos equipamentos. Dito isso, amplas novas possibilidades podem ser exploradas pelo jogador.

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Um elemento a ser notado em The Sith Lords é a sua reverência ao game original. Há um respeito profundo pelo trabalho da Bioware, que entregara os direitos para desenvolver essa sequência de bom grado, confiantes no trabalho da Obsidian. Esses pontos em comum são sabiamente utilizados pelos desenvolvedores para expandir a atmosfera mais sombria e triste de KOTOR II, trazendo de volta lockais que apareceram ou apenas foram mencionados no primeiro. Andar pelas ruínas de Dantooine é uma experiência especialmente avassaladora, especialmente pelo fato de que fora lá que conseguimos nosso primeiro sabre de luz em Knights of the Old Republic. Tudo isso cria em nós a perfeita concepção de que esse universo está à beira da ruína.

Nada, porém, poderia nos preparar para o planeta final da história. Não entregarei nenhum spoiler para quem ainda não jogou, mas se preparem para visitar esse local, que, inclusive, fora trazido de volta para o universo de Star Wars na segunda temporada de Rebels. Aqui o brilhantismo do roteiro se eleva à décima potência, nos entregando um desfecho memorável e desesperador. Aqui Kreia é firmada, definitivamente, como uma das melhores personagens do Universo de Star Wars e sua relação com o Exilado um dos pontos altos do game.

Knights of the Old Republic II: The Sith Lords pode acabar sendo, muitas vezes, deixado de lado pelos fãs de Star Wars, mas estamos falando de uma obra simplesmente obrigatória para qualquer apreciador da franquia. Repleto de ambiguidade moral, diálogos muito bem escritos e um design de personagens memorável, o game se destaca entre as obras do Universo Expandido, como uma das que mais apresenta sua própria identidade, de forma que não se trata apenas mais uma história de Star Wars e sim uma narrativa intimista, sombria e avassaladora sobre as consequências das escolhas que tomamos na vida.

Star Wars: Knights of the Old Republic II – The Sith Lords
Desenvolvedor:
Obsidian Entertainment
Lançamento: 06 de dezembro de 2004
Gênero: RPG
Disponível para: PC, Xbox

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