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Crítica | Star Wars: The Fallen Star (A Alta República), de Claudia Gray

Um desastre...

por Ritter Fan
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The Fallen Star é o terceiro romance “para adultos” da estratégia multimídia da Lucasfilm em lançar uma nova era inexplorada de Star Wars, batizada de Alta República, que se passa 200 anos antes dos eventos de A Ameaça Fantasma. O livro, escrito por Claudia Gray, segue Luz dos Jedi, de Charles Soule, e Ascensão da Tempestade, de Cavan Scott, e encerra a primeira fase desse grande projeto. Com audiodramas, contos, livros para o público jovem adulto, infantil e iniciante, além de quadrinhos, a empreitada, iniciada em janeiro de 2021,  continua firme e forte e tem como mote focar da República e nos Jedi em seu auge enfrentando um grande novo inimigo, um grupo de “piratas Vikings” batizados de Nihil.

A obra de Gray, porém, sofre do mesmo problema das duas antecessoras, problema esse que, tenho certeza, vem muito mais do conceito do que é “público adulto” para a Disney do que efetivamente da capacidade da trinca de escritores de entregar trabalhos interessantes. Para todos os efeitos, “adulto”, aqui, significa adolescente ou o tal “jovem adulto”, uma hilária jogada de marketing de tempos para cá que tiraram esse rótulo de obras que não são para o público adulto de verdade, pois, me desculpem os fãs, não é porque esses livros contém mortes é que eles são realmente escritos para adultos. Portanto, a própria classificação é de certa forma enganosa, pois basicamente diz uma coisa e entrega outra.

Peguemos A Luz dos Jedi, para começar. Lá, Soule, compreensivelmente, jogou uma rede ampla para apresentar um novo status quo, com novos personagens e novas situações. Ok, maravilha, entendi o objetivo. O que era de se esperar? Que Scott, em Ascensão da Tempestade, granularisasse e desenvolvesse os tais novos personagens e situações. No entanto, tudo o que ele fez, ainda que com um pouquinho mais de qualidade narrativa, foi continuar a abordagem superficial, mais uma vez lidando com um ataque mortal dos Nihil. Minhas esperanças de que Claudia Gray fizesse algo diferente, especialmente considerando que seus trabalhos anteriores foram todos para o público “jovem adulto”, era nulas e, dito e feito, tudo o que ela oferece é, literalmente, mais do mesmo.

Mais uma vez, Marchion Ro, líder secreto dos Nihil e personagem sem nenhuma personalidade ou qualquer fragmento de desenvolvimento que, neste terceiro volume, não é mais do que uma nota de rodapé para piorar tudo, coloca em movimento seu terceiro plano para atormentar a República em sua vã tentativa de deixar sua marca de unidade e cooperação na Orla Exterior. O alvo, agora, evidentemente, é a estação espacial Farol da Luz Estelar, xodó da Chanceler Lina Soh, com o livro seguindo a estrutura de “filmes de desastre” como Inferno na Torre ou Titanic, mas sem sequer chegar próximo dos citados exemplos em termos qualitativos.

Tudo o que Gray faz é abordar os Jedi como uma entidade amorfa. Sim, há nomes e uma fagulha de personalidade para cada personagem mais importante, mas, no final das contas, com uma única exceção, todos eles são completamente fungíveis, seja o Wookiee Burryaga, os humanos Bell Zettifar e Stella Gios ou outros, até porque Avar Criss torna-se apenas outra nota de rodapé neste terceiro volume, provavelmente para abrir espaço para os demais, espaço esse, porém, que não é aproveitado. A exceção que mencionei fica por conta de Elzar Mann que continua tendo que lidar com sua tendência de usar o Lado Sombrio da Força, algo que é explorado no início, com ele em uma espécie de retiro espiritual e mais tarde, quando criaturas misteriosas começam a afetar o controle da Força pelos Jedi. Mas mesmo ele fica ali na profundidade do proverbial pires, ainda que, talvez, na parte mais funda diante de um ato seu bem chocante no finalzinho.

Com essa característica e, também, como o confinamento dos Jedi e demais personagens à estação espacial que sofre sabotagem depois que os Nihil criam uma crise de refugiados, a progressão da história é caótica, mas, infelizmente, não no bom sentido. Gray não consegue, em primeiro lugar, evocar o tamanho da estação espacial. Todo mundo vai de um lugar ao outro quase que como por teletransporte. Faltou lidar com a grandiosidade do lugar, com a importância da estação de forma que nos preocupemos com seu destino. Depois, a autora falha em criar tensão e, nesse processo, ela emburrece tremendamente os Jedi que, primeiro, não desconfiam nem de longe de um ataque ao lugar e, depois do ataque, não conseguem fazer quase nada direito, parecendo mais um monte de galinha sem cabeça correndo de um canto para o outro. Em terceiro lugar, Gray recorre demais a conveniências narrativas, como os ex-Nihil prisioneiros serem libertados pelos Nihil sabotadores ou Mann ter reduzido seu contato com a Força justamente no momento em que ter contato com a Força é perigoso.

O romance, portanto, não tem personagens e sim uma coletividade genérica e não tem senso de espaço físico para ser trabalhado, assim como mantém os Nihil como ameaças quase fantasmagóricas, com Gray tentando fazer Marchion Ro parecer mais ameaçador do que ele realmente é, um sujeito que nem ele mesmo sabe a razão de agir com age. E o pior é que, mesmo depois de três livros totalizando mais de 1.200 páginas, nenhum personagem ganhou construção decente e os atos do grande vilão permanecem encobertos em mistérios em cima de mistérios para permitir a publicação de mais dúzias de livros supostamente para “adultos” de 14 anos…

Star Wars: The Fallen Star (A Alta República) (EUA, 2022)
Autor: Claudia Gray
Editora: Del Rey
Data original de publicação: 04 de janeiro de 2022
Páginas: 368

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