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Crítica | Stay Alive: Jogo Mortal

Quem não tem o que fazer, imita.

por Felipe Oliveira
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É curioso como desde a chegada do satírico Pânico (1996) o terror e seus subgêneros passaram por reformulações na indústria cinematográfica. A ideia de criticar uma subcategoria tão consagrada como o slasher serviu como um espelho a Hollywood, levando muitos a se reinventarem. Assim, após os vários títulos que acabaram emulando o estilo da saga do Ghostface, o início dos anos foi marcado pela era das refilmagens, ao tempo que o nicho sobrenatural começava a ganhar forma. Dentro dessas produções, uma conseguiu o feito de unir as duas categorias do momento e evocar uma estrutura que se tornaria tendência: Premonição, e sua composta fórmula de slasher sobrenatural.

Não é como se o primeiro a somar esses elementos, mas, a exemplo de A Hora do Pesadelo, o filme dirigido por James Wong não tinha a mesma força criativa de Wes Craven para conduzir uma alegoria categórica, contudo, teve apelo o suficiente para apontar uma receita atraente para Hollywood explorar. E isso era algo que muito provavelmente William Brent Bell entendia, já que seu fraco filme (o segundo, por sinal) o colocou nos holofotes graças a sua concepção que bebia da influência de Final Destination, a crescente popularidade $e jogos de terror, além do apreço do público/ a filmes nipônicos como O Chamado (2002), O Grito (2004), Água Negra (2005).

Coincidentemente, Stay Alive: Jogo Mortal vinha no mesmo ano em que Pulse ganhava uma revisão americana, e naquela fase, Brent já sabia a equação que deveria considerar para agregar a propensa exploração formulada de Hollywood: o esquema da morte, uma maldição desencadeada e adolescentes selecionados para romper o ciclo. Indo nessa lógica, o roteiro escrito por Bell ao lado de Matthew Peterman trazia um jogo com claros acenos a Silent Hill e Fatal Frame, o chamado Stay Alive, onde os efeitos do universo simulado assumia consequências mortais no mundo real. Mas se com isso Brent achou que estaria movimentando um filme metalinguístico de terror sobre jogos de terror na era de ascensão do Playstation, bem, ele literalmente catou o que tinha de referências pelo caminho, jogou no liquidificador e tentou a sorte em quem teria coragem de experimentar a vitamina com cabelo da Samara dentro. Resultado: não rendeu meio copo.

Na época, descrições como essas rapidamente chamavam a atenção do público, e Stay Alive tinha um apelo que parecia ter mais potencial do que a entrega ridícula de seu resultado. A suposta metalinguagem mal utilizada queria servir um subtexto em homenagem a jogos de terror do gênero survival horror, com a mitologia de que há um novo jogo matando pessoas, a ponte de contextualização entre os fãs de filmes de terror e fãs de games de horror. A concepção soava ainda mais interessante por trazer uma representação diferente ao tópico da tecnologia, sendo o dispositivo do jogo e a sua interação online entre jogadores como a maldição conectava várias pessoas. Se fosse comparar as peças da trama, o jogo seria o acidente que dá o pontapé ao tal esquema da morte visto em Premonição e no ciclo que precisava ser quebrado.

Porém, em Final Destination, Wong conseguia executar o roteiro que escreveu junto a Glen Morgan de maneira empolgante, e esse acerto também vinha da forma com qual trabalhava com os personagens sem torná-los convenientemente um grupo de amigos, ponto esse que Bell tentou aplicar ao unir pessoas distintas movidas por um objetivo em comum. O jogo ter sido achado após o velório da primeira vítima, era como a maldição continuaria sendo passada para quem jogasse e lesse o texto de introdução sem saber que tratava de uma forma de conectar a uma entidade vingativa. A versão beta do jogo, que chega na mão “dos amigos” do beta tester não deixa de lembrar a fita com filme caseiro em O Chamado, e era exatamente nisso que se resumia Stay Alive: uma colcha de retalhos em que nada era original, e simplesmente reproduzia elementos do que deu certo em outro filme.

O que Brent não sabia era que não bastava reutilizar elementos que eram tendências; tinha que saber dirigir, contar uma história, escrever um roteiro. E nenhum desses atributos podiam ser reconhecidos na sua estreia ambulante como cineasta. O modo com que a mitologia era tratada sem qualquer artifício lógico que justificasse sua estupidez, piora quando olhamos para os personagens que ao menos representavam gamers e fãs de filmes de terror. Eram todos estereotipados e carentes de personalidade, e ninguém poderia entender como funcionava aquele grupo e nem como uma enxerida no velório, Abigail (Samaire Armstrong) se juntava a trama como par romântico do apático protagonista vivido por Jon Foster.

Se repararmos no elenco, eram nomes que se destacaram em séries teens como The O.C, One Tree Hill, Malcolm in the Middle mas nada supera o desperdício de Sophia Bush   e o roteiro não teve o mínimo de esforço em escrever esses personagens além de esperar que a popularidade suprisse a ausência de criatividade no grupo de jovens adultos que mais se comportavam como adolescentes idiotas, típicas caricaturas. Além disso, o filme só se sabotava pelo excesso de sequências anticlímax e extremamente óbvias no que deveria fazer jus ao terror, o que só piorava com a edição picotada de Harvey Rosenstock.

Embora Brent não tivesse ao menos talento para construir tensão e tampouco reproduzir os clichês com sustos fáceis, o filme teve um conceito interessante ao trazer um filtro escuro toda vez que o universo do jogo se misturava com a realidade, mas até isso foi imitação de Premonição, com as leves sombras observados sempre que “a morte” vinha para cumprir seu esquema. Em suma, Stay Alive tinha potencial por trás da ideia curiosa, mas que, nas mãos certas, conseguiria ser mais que uma caricatura de filmes de terror do momento.

Stay Alive: Jogo Mortal (Stay Alive – EUA, 2006)
Direção: William Brent Bell
Roteiro: William Brent Bell, Matthew Peterman
Elenco: Jon Foster, Samaire Armstrong, Frankie Muniz, Sophia Bush, Jimmi Simpson, Wendell Pierce, Billy Slaughter, Adam Goldberg, Milo Ventimiglia
Duração: 86 min.

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