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Crítica | Suburbia (1997)

Privilegiados alienados.

por Kevin Rick
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De muitas formas, SubUrbia é a antítese de Jovens, Loucos e Rebeldes na filmografia de Richard Linklater. É até curioso que o cineasta tenha filmado as obras quase em sequência, considerando a diferença entre os filmes para o olhar juvenil e o subgênero de coming-of-age. Saísse a filosofia de vida espontânea e livre da geração setentista para termos uma versão sombria, ansiosa e depressiva sobre alguns jovens suburbanos refletindo suas vidas e a sociedade numa “esquina” do lado de uma loja de conveniência. Como sempre, Linklater se utiliza de pequenos eventos, algumas horas, cenários simples e situações ordinárias que representam uma geração, um grupo e/ou uma forma de pensamento do seu período.

O grupo de personagens de 20 e poucos anos é composto por Jeff (Giovanni Ribisi), Sooze (Amie Carey), Buff (Steve Zahn), Tim (Nicky Katt), Pony (Jayce Bartok) e Erika (Parker Posey), todos com diferentes caracterizações, do cara inconsequente até o que racionaliza tudo, da patricinha rebelde com a família até um jovem que alcançou sucesso. Este último personagem, aliás, funciona como a personificação de um elemento dramático importante na história: propósito. Veja, Linklater apresenta um tipo diferente de alienação juvenil em SubUrbia, menos interessada na diversão, e mais preocupada com sua falta de objetivo e seu lugar no mundo adulto. É como se o cineasta fizesse uma transição de eras e idades com os dois filmes, deixando a adolescência e a festividade hippie de Jovens, Loucos e Rebeldes, para trazer o existencialismo alienado da classe média e sua desmotivação (junto com receios) no início da maioridade.

Nesse meio de jovens que não sabem lidar com a responsabilidade, o longa proporciona diferentes sentimentos e sensações nas dinâmicas da história. O personagem de Pony, o único com uma história de sucesso, é invejado por alguns e admirado por outros, enquanto ele mesmo tem conflitos internos com sua carreira. Há diferentes camadas nas interações dos personagens a partir deste conflito, como ressentimento, raiva e desdém, que compõem o quadro cínico do texto e seus personagens propositalmente chatos e desagradáveis. Também acho interessante como o roteiro dilui certos elementos (quase de forma satírica) da vida suburbana nos EUA, como o discurso de ódio e preconceito com estrangeiros, o senso ridículo de superioridade e autoindulgência, e, claro, o privilégio desperdiçado – há também, ainda que levemente, críticas ao militarismo.

Mas a maior sensação de SubUrbia é o tédio. Diferente do espírito livre que segue Linklater, aqui, o artista retrata o desinteresse dos seus personagens com a narrativa. A câmera parece sempre estática e os planos meio óbvios, criando a experiência monótona que é a vida banal desses jovens. A história parece não fluir, ficando em poucos locais e com os personagens parados, muitas das vezes fazendo solilóquios e discursando bobagens, enquanto Linklater se abstêm de seus famosos planos-sequências ou então de qualquer sensação tátil de movimentação (ele sequer filma sequências com veículos, como normalmente gosta de fazer). Também é possível ver a abordagem menos “romântica” com as drogas, apresentadas realmente como vícios e não tanto como escapadas lúdicas da juventude, aspectos de um filme com uma carga menos mágica em relação à juventude, até ensaiando alguns dramas com alcoolismo, uma situação tensa com armas e uma possível tentativa de suicídio.

Esse caráter maduro do filme é consequência direta do roteiro de Eric Bogosian, interessado em uma discussão bem dramatizada dos seus temas juvenis. No entanto, ainda que a história seja sobriamente bacana, sinto a falta de naturalidade nos diálogos e momentos de outros filmes do Linklater. Baseado em sua própria peça, Bogosian articula conversas teatrais e expositivas em sua necessidade de abordar tópicos e conflitos nas palavras e não tanto de uma forma orgânica (notem como os personagens verbalizam que são alienados, cínicos e preguiçosos). É uma abordagem bem textual que atrapalha um envolvimento honesto nas conversações.

Felizmente, Linklater tem uma qualidade absurda para capturar o modo de vida dos personagens que retrata. O cineasta consegue subverter essa sensação teatral com seu aspecto documental e realista, deixando as encenações próximas de um evento urbano e não tanto de um palco. Ainda assim, é meio difícil se conectar com SubUrbia, uma obra propositalmente tediosa e apática, com personagens irritantes e uma narrativa de ritmo monótono. Mas tudo faz parte da exploração do ambiente destes personagens, seu narcisismo velado, seus pensamentos alienantes e seu privilégio insuportável.

SubUrbia – EUA, 1997
Direção:
 Richard Linklater
Roteiro: Eric Bogosian
Elenco: Jayce Bartok, Amie Carey, Nicky Katt, Ajay Naidu, Parker Posey, Giovanni Ribisi, Samia Shoaib, Dina Spybey, Steve Zahn
Duração: 121 min.

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