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Crítica | Succession – 3X06: What It Takes

Uma indigesta dose de política de verdade para os ingênuos.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas. 

Climate said I was going down. Climate said I should just step aside. I guess I’m a climate denier.
– Roy, Logan

Com título retirado diretamente do celebrado livro What It Takes: The Way to the White House, de Richard Ben Cramer, que aborda justamente os jogos de bastidores que levam à presidência dos EUA, o episódio da semana de Succession é consequência direta da desistência do presidente atual, Raisin, em concorrer a reeleição em razão da estratégia mais do que bem sucedida de Logan Roy de colocá-lo contra a parede usando seu poderio midiático. Em apenas um movimento preciso, o patriarca da família sai de investigado pelo Departamento de Justiça e pressionado pela opinião pública à paparicado por todos os possíveis candidatos republicanos em razão do prazo apertado para uma escolha, já que as primárias já se foram.

Novamente um episódio que se passa eminentemente em apenas um lugar, na chamada Future Freedom Summit, ou Cúpula do Futuro da Liberdade, em um hotel na Virginia, What It Takes é capaz de exaurir – e talvez frustrar – o espectador pela forma como a direção de Andrij Parekh lida com a passagem temporal e com a apresentação dos novos personagens e as respectivas posições de cada membro da família Roy, mas tenho para mim que o diretor foi absolutamente brilhante em criar uma atmosfera opressiva, claustrofóbica, capaz de causar ansiedade em qualquer um e até obrigar a revisão de algumas cenas. A pressão é sentida em todos ali presentes, aliás, com exceção de Logan Roy, aparentemente relaxado em seu metiê, como um paxá bajulado por todos e, claro, circulando com uma nova amante/assistente – que por isso se sente também livre para dar seus pitacos – sem qualquer pudor, o que também o ajuda a lidar com escárnio a notícia de que a mãe de seus filhos estava para se casar na Toscana (para o hilário desespero de Roman, vale lembrar).

Nesse fascinante e assustador jogo que tem como cicerone o asqueroso Ron Petkus (Stephen Root perfeito como sempre nesse tipo de papel), vemos Connor Roy ressuscitar seu risível desejo de se candidatar (o que inclui vender sua namorada como se fosse a coisa mais comum do mundo), o vice-presidente Dave Boyer (Reed Birney) alimentando esperanças em ser o grande escolhido por ser a escolha em tese mais fácil, o congressista republicano light Rick Salgado (Yul Vazquez) vendendo-se descaradamente para Shiv, que o compra, e o fascista Jeryd Mencken (Justin Kirk) cortejando Roman. O espaço dado a cada personagem pode não ter sido particularmente grande, mas é meticulosamente perfeito para que compreendamos cada uma de suas personalidades e percebamos que não só todos têm sua própria agenda, o que é natural, como também que, lá no fundo, eles não são tão diferentes assim. O que provavelmente faz Logan eleger Mencken – além do excelente trabalho de Kirk no papel – não foi o viés político dele, mas sim a mistura exata entre ataque frontal ao patriarca e à sua empresa e demonstração de que o candidato fará o que for necessário (what it takes) pelo apoio de Logan, o que é simbolizado pela lata de Coca-Cola que ele leva ao patriarca como seu silencioso gesto de subserviência.

Se Roman joga seu jogo à perfeição, novamente ganhando pontos com o pai, Connor é mais uma vez alijado do seio familiar, mas sem realmente cortar laços – com ninguém menos do que Greg deixando claro sua posição contra o irmão Roy mais velho – e Shiv, a única que se coloca vocalmente contra Mencken, acabar por reduzir sua indignação à figurar na foto distante do escolhido. Mais uma vez fica evidente que ninguém ali tem coragem de se contrapor a Logan de maneira mais relevante do que fazer beicinho e bater os pés. É justamente o que Logan quer, ou seja, um tropa de pessoas que só dizem sim ao que ele estabelece como sendo o melhor caminho e que, mesmo quando dizem não, é algo efêmero, quase teatral, para marcar algum tipo de posição que sempre cederá diante de um olhar severo dele.

Mas e Kendall nessa história toda? Como era de se esperar, especialmente depois daquela patética tentativa de discurso perante os acionistas da empresa ao final de Retired Janitors of Idaho, sua postura de galo de briga derrete completamente diante de sua arrogância e de sua incapacidade de aceitar os conselhos e as críticas de sua advogada. Afinal, o personagem nunca, em momento algum, deixou de ser o filhinho de papai mimado que chora quando tiram o pirulito de sua mão. A única razão para ele ter feito o que fez, de ter cravado uma cunha profunda no seio familiar ao acusar o pai dos crimes que o pai queria que ele assumisse, foi para escapar da prisão. E ele usa esse mesmo pavor para tentar atrair Tom para seu lado, mas mesmo Tom, com toda a sua aparente fragilidade, percebe que o barco de Ken está completamente furado e que, mesmo que ele tenha que ir para a prisão, será melhor do que ficar ao lado de alguém que não sabe nadar.

Logan Roy, mais uma vez, parece ter virado completamente o jogo, mesmo incapacitado momentaneamente no episódio anterior, com seu filho e opositor Kendall Roy afundando-se em sua própria húbris e os demais enfileirando-se, mesmo a contragosto e alguns com chances de irem parar na prisão, para devidamente beijar sua mão. Ainda há potencialmente bastante espaço para o tabuleiro mudar, mas mudar, em Succession – assim como na vida política real – é apenas uma palavra criada para enganar aqueles que são inocentes o suficiente para ainda nutrir alguma esperança de que esse jogo não seja todo ele manipulado, com direito a cartas marcadas e dados viciados.

Succession – 3X06: What It Takes (EUA – 21 de novembro de 2021)
Criação: Jesse Armstrong
Direção: Andrij Parekh
Roteiro: Will Tracy
Elenco: Brian Cox, Jeremy Strong, Sarah Snook, Kieran Culkin, Alan Ruck, Nicholas Braun, Matthew Macfadyen, Peter Friedman, J. Smith-Cameron, Natalie Gold, Justine Lupe, Sanaa Lathan, Hiam Abbass, James Cromwell, Hope Davis, Justin Kirk, Reed Birney, Stephen Root, Yul Vazquez
Duração: 59 min.

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