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Crítica | Succession – 4X03: Connor’s Wedding

Uma inesquecível hora na História da Televisão.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas. 

A morte de Logan Roy não deveria ser nenhuma surpresa. A série começou com sua quase-morte que foi todo o pontapé inicial para a sucessão no conglomerado Waystar-Royco e, claro, toda a razão de ser da série. Logan passou também maus bocados e deu um baita susto em Ken, em Lion in the Meadow, logo antes da metade da temporada anterior, durante um passeio pela idílica propriedade de Josh Aaronson. Sua morte era esperada, portanto, quase que como um espectro sombrio flutuando em proximidade ao personagem. Mesmo assim, o que o showrunner Jesse Armstrong faz em Connor’s Wedding não só é completamente inesperado, como é executado com tamanha ousadia e perfeição que eu tenho dificuldades de verbalizar o que senti. Mas eu acho que o resumo seria algo assim: este episódio não só é o melhor da série até agora, como é um dos melhores episódios isolados de série que eu já assisti em minha vida e olha que eu já assisti talvez a mais séries do que o médico recomendaria (e sim, se eu pudesse colocar 10 HALs aqui em cima na avaliação, eu colocaria).

A jogada de mestre de Armstrong, claro, tem vários movimentos, o primeiro deles sendo ele ter tido a coragem de matar o protagonista, o grande vilão, o personagem mais fantástico de sua série vivido pelo monstruoso Brian Cox faltando ainda nada menos do que sete episódios na última temporada. Ninguém, em sã consciência, faz uma coisa dessas e sai impune e certamente jamais com o nível de qualidade que vemos aqui. O segundo movimento é lidar com a morte de Logan quase que completamente fora da tela, com Logan só aparecendo vivo nos primeiros minutos do episódio e, depois, já no chão do avião recebendo manobra de reanimação cardíaca, com a notícia chegando até o espectador – e a seus filhos – via um telefonema de um Tom abaladíssimo que quer dar uma chance desengonçada, mas desesperada, de os jovens Roys falarem uma última vez com o pai. E o terceiro movimento, claro, é manter a dúvida sobre a morte de Logan – para nós e para os filhos – por pelo menos 42 dos 62 minutos de projeção. Novamente, ninguém em sã consciência consegue executar um conceito tão arrojado como esse sem meter os pés pelas mãos, mas Armstrong, pelo visto, não tem limites para o que ele é capaz de tirar de sua manga de mágico.

Mas o que eu queria mesmo era chegar nesse ponto aqui que começo a abordar fazendo uma indagação de caráter obviamente retórico: que atuações foram essas de Jeremy Strong, Sarah Snook e Kieran Culkin, hein? Pensem aqui comigo que, de certa maneira, Connor’s Wedding é um episódio que se passa próximo ao “tempo real” dos acontecimentos que vemos transcorrer na tela e que a direção de Mark Mylod, provavelmente o melhor diretor da série, faz uso generoso de planos longos que não dão trégua à trinca de atores. Em outras palavras, o que vemos é o que talvez mais próximo possamos ver de uma legítima transformação dos atores diante de nossos olhos, como se o episódio fosse uma encenação teatral. Culkin, que recebe a ingrata e sacana missão de demitir Gerri, tem, possivelmente, vários dos melhores momentos, pois ele passa da raiva extrema do pai para um momento constrangedor em que ele sequer consegue olhar nos olhos da advogada por quem ele nutre um afeto doentio e, depois, para uma reação de interminável negação sobre a morte do pai não só porque ele genuinamente não queria que ele morresse, mas também por ele subconscientemente achar que seu último recado para o pai tenha deflagrado o ataque cardíaco. E isso sem contar o fato de ele ter traído os irmãos, lógico.

Mas Strong não fica muito atrás e é muito interessante ver como seu Ken, apesar de abaladíssimo, é o primeiro e único a dizer claramente que amava o pai mesmo não conseguindo perdoá-lo e é o único que tem ainda compostura e força de raciocínio para pelo menos tentar convocar uma junta médica. E a Shiv de Snook é a surpresa e o desespero em pessoa, também demonstrando sentimentos genuínos pelo pai e tendo dificuldade de entender exatamente o que está acontecendo, até porque ela é a última dos três a ser comunicada, mas a primeira a mostrar a cara perante os jornalistas no aeroporto de Teterboro. Sei que não incluí Alan Ruck e seu Connor Roy na lista das grandes atuações do episódio, mas isso se dá porque seu momento foi em Reherseal e porque o roteiro espertamente – apesar do título – o deixa levemente de lado não por ele não ser importante, mas sim para permitir que nós vejamos o quanto ele “não” não precisa de amor. Sua conversa com Willa sobre cancelar o casamento é breve e a transformação de uma má notícia em algo positivo para eles é a maneira que o roteiro encontrou para nos fazer abrir um sorriso com o casamento pequeno e privado que Willa queria desde o começo.

E quando eu falo que nós abrimos um sorriso nesse final, o que quero dizer é que, antes, nós – sim, você! – estávamos genuinamente abalados e sofrendo junto com os Roys pela morte do patriarca. Não sempre disse que, em Succession, só há gente horrível que todos detestam e queremos ver mortos? Pois não é verdade. Era só bravata minha. E esse é o movimento final da jogada de mestre de Jesse Armstrong. Durante Connor’s Wedding, ao nos fazer acompanhar as dúvidas e as emoções de Ken, Shiv, Roman e até mesmo de Tom e Kerry, o showrunner nos faz entrar em suas mentes e estabelecer laços empáticos como cada um ali. Sentimos a dor da perda. Sentimos que, no final das contas, para além de qualquer dúvida, aquela família se amava de seu jeito horrível. Os sentimentos de todos ali são genuínos e não são só fruto de choque, de não saber o que fazer, mas sim de literalmente perder o chão, perder a estrutura que os mantinha de pé. Aliás, notaram que os três irmãos mal se preocuparam com os negócios, especialmente com a venda da Waystar-Royco para Lukas Matsson e que isso ficou ao encargo dos executivos não familiares da empresa? Trata-se de uma demonstração clara que sim, Logan era amado pelos filhos apesar de todos os pesares.

E eu escrevo essa crítica abalado como os Roys. Ok, não exatamente como os Roys, claro, mas certamente sentindo o baque de uma morte esperada daquela maneira mais básica que as séries nos oferecem por aí, ou seja, no momento e na forma “certos” e não assim, de supetão, a destempo e sem que sequer a vejamos efetivamente ou mesmo tenhamos certeza dela até bem avançado no episódio. Tudo o que me resta, no momento, são perguntas. Como a série continuará sem Logan Roy? O que acontecerá com a Waystar-Royco agora? Será que Ken, Shiv e Roman serão capazes de se unir e defender a companhia enquanto ficam enlutados pela morte do pai? Quem será, afinal de contas, o efetivo sucessor?

Uma última pergunta: como é que eu vou conseguir parar de pensar nesse episódio magnífico até o próximo?

Mentira, tenho uma outra: há vida após Succession?

Succession – 4X03: Connor’s Wedding (EUA – 09 de abril de 2023)
Criação: Jesse Armstrong
Direção: Mark Mylod
Roteiro: Jesse Armstrong
Elenco: Brian Cox, Jeremy Strong, Sarah Snook, Kieran Culkin, Alan Ruck, Matthew Macfadyen, Nicholas Braun, J. Smith-Cameron, Peter Friedman, Cherry Jones, Jeannie Berlin, Alexander Skarsgård, Justine Lupe, Zoe Winters
Duração: 62 min.

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