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Crítica | Succession – 4X05: Kill List

Invasão viking.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas. 

Foi até um pouco desnorteador. Marcando a metade da derradeira temporada de Succession, Kill List é o primeiro episódio a nos transportar para uma ambientação completamente diferente das quatro anteriores, mais fechadas e urbanas, trocando-as por verdejantes, chuvosas e nevadas paisagens na Noruega, com direito a cachoeiras, lagos, fiordes e teleféricos realmente filmados em locação no país escandinavo, fazendo as vezes do deslumbrantemente imoderado retiro corporativo da GoJo de Lukas Matsson. É para lá que os Roys e uma enorme entourage vão para, em um primeiro momento, selar a venda da Waystar-Royco e para Matsson e equipe entenderem com quem estão lidando e quem constará ou não da “lista de morte” do título.

Alexander Skarsgård já havia mostrado a que veio em seu papel do recluso, viciado e mentalmente abalado bilionário, mas, aqui, ele tem todo o espaço do mundo para, sozinho, mostrar-se duplamente titânico perante todo o elenco fixo. Digo duplamente porque é justamente isso. Não só Skarsgård não deixa nada a dever a Jeremy Strong, Sarah Snook, Kieran Culkin, Matthew Macfadyen e outros, como seu Matsson é mais do que páreo para a dupla de irmãos que incessantemente tenta mostrar que é a escolha certa para pilotar o império do pai, seja negociando duramente, seja montando um plano de último minuto para melar todo o negócio que só eles acham realmente fantástico e maquiavélico, mas que é transparente não só para Matsson como – e talvez principalmente – para Shiv.

Aliás, por mais imponente que seja a presença de Matsson e de seus vikings – é hilário quando “Os Cinzas” descrevem as qualidades socioeconômicas europeias como fraquezas -, Shiv Roy é uma discreta, mas gigantesca força de observação e manipulação que o roteiro mantém espertamente em segundo plano, mas com a direção de Andrij Parekh sempre capturando o rosto sapiente de Snook. Quando Matsson diz que ela é muito parecida com o falecido Logan, ele verbaliza não um elogio qualquer, mas a mais pura verdade. Dentre os três Roys, é ela quem muito claramente deveria ser a verdadeira herdeira de todo o império de mídia e entretenimento e não um Ken desesperado para mostrar que seu nome fora sublinhado e não riscado na folha de papel de pensamentos do pai ou mesmo um Roman manipulável e incapaz de seguir uma linha de raciocínio previamente combinada.

Esse embate emudecido entre os irmãos é fenomenal no episódio pela sutileza como tudo é desenvolvido. Se Shiv saiu combalida e afetada da decisão tomada em Honeymoon States, em Kill List ela volta preparada e fortalecida, sendo até mesmo uma das vozes mais ouvidas em relação à lista epônima e a arma que Matsson precisava para destruir a estratégia de Ken de acabar com a compra da Waystar-Royco – com a ATN no meio – pela GoJo. Afinal, não foi sem querer que ele literalmente pede à Shiv que fotografe as caras de tacho de seus irmãos, algo que vem depois que ela quase que inocentemente sugere ao sueco que jogue mais dinheiro no negócio para torná-lo possível (essa é, no final das contas, a única coisa que realmente interessa em meio a todos os esquemas e planos de todos ali), o que gera aquela bizarra confissão sobre praticamente litros de sangue sendo enviados pelo magnata à sua paixão ali de sua empresa.

O momento em que Ken decide trabalhar para fazer a venda ir por água abaixo unicamente para provar que ele foi a escolha certa do pai, levando basicamente alguns segundos para convencer seu irmão da estratégia, a sensação para nós, espectadores, de vergonha alheia, começou a crescer. Afinal, tenho certeza de que não fui só eu que imediatamente percebi a imaturidade da estratégia, algo infantilmente marretado pelo uso da produção inacabada dos estúdios do conglomerado e aquele diálogo patético no cume da montanha que Matsson derruba quase que imediatamente. Mas, claro, o cúmulo da vergonha alheia foi Roman saindo do roteiro para confrontar Lukas – de frente – enquanto ele se aliviava perto de um rochedo. Sensacionalmente impagável essa cena pelas mais diversas razões.

Alguns dirão que eu estou errado e que os dois momentos de real, pura e inacreditável vergonha alheia foram protagonizados por Greg e seu “quad squad” e por Tom e seu resgate de um momento em que ele e Lukas riram de algo há milênios. Mas quem disser isso é que está errado. Esses momentos não foram de vergonha alheia. Esses momentos foram de mais puro horror. Não me lembro de alguma obra de horror – literária ou audiovisual – que tenha me causado tantos calafrios e vontade de esconder o rosto quanto essas cenas. Foi de suar frio quase que literalmente, com um reflexo quase involuntário de trocar de canal para o Big Brother (não, mentira, eu jamais faria isso…).

Quer parecer que, agora, o negócio vai realmente acontecer e, com isso, Ken e Roman ficarão a ver navios em sua egotrip de poder. Mas, claro, ainda faltam mais cinco episódios para a série acabar e eu tenho certeza que Jesse Armstrong ainda tem algumas cartas na manga para nos apresentar nos momentos que menos esperamos. Talvez não tenhamos mais absurdamente tensos e também vergonhosos passeios por paisagens idílicas do outro lado do Atlântico, mas se o showrunner é capaz de transformar uma sala de karaokê em um confessionário de quase tirar lágrimas, ele certamente não precisa de cachoeiras para impressionar.

Obs 1: Está ficando ridículo eu não conseguir dar outra nota que não 5 HALs. Estou quase me sentindo obrigado a dar um 4,5…

Obs 2: Já pensaram se a criança que Shiv espera é do Lukas?

Obs 3: Não é impressionante como o talentosíssimo Brian Cox e seu fascinante Logan Roy não parecem fazer falta na série como achávamos que faria?

Succession – 4X05: Kill List (EUA – 23 de abril de 2023)
Criação: Jesse Armstrong
Direção: Andrij Parekh
Roteiro: Jon Brown, Ted Cohen
Elenco: Brian Cox, Jeremy Strong, Sarah Snook, Kieran Culkin, Alan Ruck, Matthew Macfadyen, Nicholas Braun, J. Smith-Cameron, Peter Friedman, David Rasche, Cherry Jones, Jeannie Berlin, Justine Lupe, Fisher Stevens, Dagmara Dominczyk, Alexander Skarsgård
Duração: 60 min.

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