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Crítica | Suk Suk

por Roberto Honorato
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Suk Suk, dirigido por Ray Yeung, é o típico filme de festival que conquista parte do público logo na premissa, abordando tópicos ignorados não apenas na sociedade de uma Hong Kong conservadora, mas no próprio cinema. Na trama, Pak (Tai-Bo) é um taxista de 70 anos vivendo com sua esposa e um filho que está prestes a casar. Mas ele não está confortável o suficiente para assumir sua outra vida e precisa manter em segredo o seu relacionamento com Hoi (Ben Yuen), um homem divorciado, mas que vive com sua família e possui uma forte ligação com sua religião. Depois de alguns encontros, os dois homens começam a se descobrir cada vez mais e imaginar a possibilidade de um futuro juntos.

Como já mencionei, com uma proposta dessas há pano na manga para debater diversos assuntos, e o longa foca, em sua maior parte, nas estruturas familiares e a mudança na dinâmica de todos assim que os dois homens precisam encontrar maneiras seguras de manter sua relação secreta. Além de terem que lidar com o medo de serem julgados por sua orientação sexual, eles também encaram o problema do idadismo, sendo constantemente lembrados de preconceitos sociais por conta de sua idade avançada. 

É interessante ver essa combinação de temas, principalmente considerando como geralmente temos narrativas sobre relacionamentos LGBTQ+ através de personagens mais jovens (o que fortalece a ideia do parágrafo anterior). Por conta das decisões tomadas pelo filme, ele pode lidar com dilemas mais complexos do que outras obras costumam trazer, assim o maior desafio não é apenas o drama interno dos personagens, mas tentar fazê-los conciliar uma nova vida com outra que cultivaram por décadas. E se não for o suficiente, ainda há o elemento religioso, que pode não ter tanto destaque quanto os outros, mas desempenha um papel importante quando a fé é confrontada por alguém que sequer tem certeza de sua própria identidade. 

Yeung segue uma linha mais minimalista em sua direção, se valendo da rotina dos personagens e a repetição de símbolos. O ritmo lento é bem-vindo em uma narrativa delicada como esta, mas as repetições podem insistir desnecessariamente em algo que já foi bem estabelecido anteriormente, e nesse caso o longa é capaz de ser mais cansativo em algumas instâncias. Felizmente, o elenco de apoio é competente e os dois atores principais fazem um ótimo trabalho em transmitir um certo carisma e até química entre eles.

Também é preciso dizer que, por mais que a proposta seja original e envolvente, o interesse do espectador fica em risco quando percebe que o enredo traz uma execução quase previsível, com uma narrativa similar a de outras obras protagonizadas por personagens homossexuais, tanto que o terceiro ato pode ser um pouco decepcionante para alguns por cair em um estereotípico tropo de filmes do gênero (spoiler apenas neste parêntese: a conclusão de Suk Suk revela que o casal de personagens acabou decidindo por não seguir em frente com a relação, o que seria menos desconfortável se fosse uma decisão que não precisou demais de algumas conveniências da trama).

Suk Suk é um olhar diferente e necessário para uma comunidade bastante negligenciada. O longa de Ray Yeung pode depender demais de uma premissa atraente e deixar de lado uma execução mais original, mas ainda tem algumas ótimas atuações e temas explorados com delicadeza, o que já é alguma coisa.

Suk Suk (Honk Kong, 2019)
Direção: Ray Yeung
Roteiro: Ray Yeung
Elenco: Tai-Ho, Ben Yuen, Patra Au, Lo Chun Yip, Kong To, Yiu-Sing Lam, Yixin Hu, Lau Ting Kwan, Wai-Keung Chu, Gordon Wong Kwok Fai, Tse Kwan Chak, Chung Hin Lau
Duração: 92 min.

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