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Crítica | Super Mario Bros. (1993)

Rolou muito chá de cogumelo na produção desse filme...

por Ritter Fan
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A avaliação que eu deveria dar:

A avaliação que a completa bizarrice desse filme
me força a dar:

Por mais que alguns queiram fazer uma tremenda e benevolente ginástica interpretativa para dizer que Super Mario Bros., longa de 1993 que tem a dúbia honra de ser a primeira adaptação live-action de um videogame (mas, poucos sabem, a segunda adaptação audiovisual do game específico em questão, a primeira sendo um média-metragem animado japonês de 1986), tem algum valor, a grande verdade é que não tem. Péssima direção do casal Annabel Jankel e Rocky Morton, uma dupla central de atores que está perdida na mixórdia que é o filme, um roteiro que não encontra seu tom em momento algum, uma direção de arte tumultuada que dá dor de cabeça em quem assiste e um uso no mínimo duvido de efeitos especiais e práticos.

No entanto, o filme é tão bizarro, mas tão bizarro, que ele é inegavelmente curioso, mas essa afirmação só funciona de verdade para quem conhece o jogo da Nintendo criado por Shigeru Miyamoto em 1985 (alguém não conhece, mesmo que não o tenha jogado?) ou suas versões posteriores, pois, mesmo considerando que o game em si é repleto de viagens lisérgicas com encanadores em um mundo repleto de cogumelos que dão poderes variados e vilões que são variações de tartarugas, é impossível imaginar como a trinca de roteiristas formada por Parker Bennett, Terry Runte e Ed Solomon chegou ao ponto de escrever o que escreveu. Afinal, o roteiro conecta a extinção dos dinossauros há 65 milhões de anos com a criação de um universo paralelo em que estes mesmos dinossauros não só não foram extintos, como evoluíram a ponto de ficar parecidos com humanos, vivendo em uma versão alternativa de Nova York. Sim, essa é a premissa do longa que usa como catalisador o sequestro de Daisy (Samantha Mathis) pelos capangas do Rei Koopa (Dennis Hopper), que é o primeiro nome que o Bowser teve, e os irmãos encanadores Mario (Bob Hoskins) e Luigi (John Leguizamo) correndo atrás – e pulando – para salvá-la depois que Luigi se apaixona pela moça.

Claro que minha sinopse é até injusta com as bizarrices extremas do longa, pois há uma série de outros elementos que fazem da criação de Miyamoto algo até domado e lógico. A direção de arte tenta até mesmo – inexplicavelmente, eu diria – criar um ar de Blade Runner para o universo paralelo, com uma pegada decididamente mais sombria, apesar de o texto ser, também decididamente, uma bobajada pretensamente cômica, com Hoskins e Leguizamo claramente batendo cabeças ao longo da filmagem, provavelmente por eles mesmos não terem conseguido entender o que Jankel e Morton estavam tentando criar. Talvez Dennis Hopper, que, como sabemos, viveu intensamente os anos 60 e 70, talvez tenha conseguido captar alguma coisa durante as filmagens, mas minha impressão é que mesmo ele – seu Bowser é Bowser unicamente porque ele tem um penteado estranho que nenhuma relação tem com o Bowser, até porque seu personagem evoluiu de um Tiranossauro Rex (WTF?) – estava no automático, só lendo suas linhas de roteiro da maneira mais histriônica possível, algo que ele sempre fez muito bem.

E olha que eu sequer quero dizer que adaptar Super Mario Bros. (o videogame) em live-action era uma missão simples, pois certamente não era e continua não sendo, mas o processo de construção de ponte entre a criação de Miyamoto e a adaptação de Jankel e Morton é absolutamente incompreensível e, talvez por isso mesmo, fascinante. Fico só imaginando as sessões de “toró de palpite” durante a pré-produção para a equipe chegar a esse emaranhado narrativo completamente enlouquecido que, se tem algum verdadeiro mérito, é a coragem de transformar uma amada propriedade intelectual em um longa quase assustador de ruim, mas, ao mesmo tempo, quase brilhante em termos de cojones para fazer o que deu na cabeça certamente cheia de cogumelos deles. E eu tenho ainda uma outra pergunta: será que a Nintendo (ou melhor, Miyamoto) chegou a ter alguma ingerência no filme, chegou pelo menos a ler alguma versão do roteiro?

Por muitos e muitos anos, era comum dizer que as adaptações live-action de videogames eram amaldiçoadas (isso, hoje em dia, em geral, continua sendo verdade, mas já há bons exemplares por aí que funcionam para quebrar a maldição) e talvez Super Mario Bros. tenha culpa no cartório. Afinal, os cineastas que vieram depois de Annabel Jankel e Rocky Morton devem ter se auto desafiado a fazerem algo pior. O bom é que nunca realmente conseguiram – nem Uwe Boll -, mas o ruim é que demoraram demais para entregar algo digno. No entanto, como eu disse algumas vezes, Super Mario Bros. é tão completamente viajante e mal executado em toda sua loucura, que aqueles que, ao longo dos anos, criaram uma espécie de culto ao redor dessa atrocidade talvez tenham mesmo conseguido encontrar algo que vale ser apreciado. De minha parte, eu aceito o longa como uma curiosa experimentação científica que terá grande valor quando os cérebros dos responsáveis puderem ser dissecados para que finalmente possamos entender a verdadeira extensão dos danos causados pelas drogas pesadas…

Super Mario Bros. (Idem – EUA/Reino Unido/Japão/França, 1993)
Direção: Annabel Jankel, Rocky Morton
Roteiro: Parker Bennett, Terry Runte, Ed Solomon (baseado em criação de Shigeru Miyamoto)
Elenco: Bob Hoskins, John Leguizamo, Dennis Hopper, Samantha Mathis, Fisher Stevens, Richard Edson, Fiona Shaw, Mojo Nixon, John Fifer, Dana Kaminski, Francesca P. Roberts, Gianni Russo, Don Lake, Lance Henriksen, Frank Welker, Dan Castellaneta
Duração: 104 min.

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