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Crítica | Superman & Lois – 1X02: Heritage

por Ritter Fan
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Depois que nosso agora não mais tão querido colaborador Davi Lima desistiu de fazer as críticas por episódio de Superman & Lois, a mais nova série da DC na CW, relegando o primeiro episódio à coluna Plano Piloto, resolvi mais uma vez arregaçar as mangas para encarar essa jornada. Como muitos leitores de longa data sabem, minha experiência com o chamado Arrowverse não foi das melhores, já que tive o desprazer supremo de acompanhar Arrow por oito dolorosos anos, ainda que somente a última temporada por episódio (não sou o Homem de Aço…), além de ter dado meus pitacos também em The Flash e Supergirl, com resultados não muito superiores. Por outro lado, poucos devem lembrar que também fiz a crítica dos dois primeiros anos de iZombie, uma surpreendente boa adaptação do mesmo canal (ok, é fora do Arrowverse, mas vocês entenderam), além de ter recentemente encarado (e me decepcionado com) Stargirl que, ainda que não tecnicamente da CW, tinha a mesma atmosfera, além de, agora, ser oficialmente dela. Feito esse introito, não pude resistir ao que tinha chances de ser mais uma demonstração de meu incurável masoquismo.

E foi assim que tive uma agradabilíssima surpresa, tendo gostado até mesmo mais do que meu colega do piloto de Superman & Lois que, em pouquíssimas palavras só para não perder a oportunidade de abordá-lo diretamente, conseguiu equilibrar muito bem um show de efeitos visuais de qualidade com uma história que captura a essência do Superman clássico, mas adicionando, aqui e ali, pitadas de um tempero mais forte para de certa forma “atualizá-lo” aos anseios do público atual. Em muitos aspectos, chega a ser irônico que a pegada mais “família” que Superman – O Retorno tenha trazido talvez da forma certa, mas certamente no momento errado, seja exatamente a tônica da nova série do Azulão e que tenha sido tão bem recebida agora. Até mesmo o antes (por “antes” leia a época em que ele era o coadjuvante de luxo de Supergirl) completamente insosso Tyler Hoechlin passou a funcionar, não sei se em razão de um maior tempo de tela ou da história ou até mesmo uma combinação disso tudo com um uniforme muito melhor que só precisa mesmo do cuecão vermelho do lado de fora para encaixar-se 100% à ambientação estabelecida na série capitaneada por Greg Berlanti (sim, estou elogiando o Berlanti!!!) e Todd Helbing (que foi produtor supervisor de Black Sails, uma das melhores séries já feitas, então o cara tem seu valor para além de material da CW).

O recorte feito na série faz o que tradicionalmente as séries da CW fazem, que é aproximar a narrativa de um drama adolescente e o clichê de irmãos diametralmente opostos em suas personalidades chegou a me fazer rolar os olhos tamanha a obviedade (inclusive sobre quem manifesta poder primeiro), mas a grande verdade é que há algo mais ali. Há uma ode à simplicidade, um retorno do Superman às suas raízes humildes de fazendeiro em uma cidadezinha no Kansas que torna a narrativa, até o momento, absolutamente irresistível. Sim, é dificílimo conciliar o dever de Kal-El como protetor da Terra e as obrigações de Clark Kent como marido da mais famosa jornalista do mundo e pai de dois filhos adolescentes, mas isso é reconhecido dentro do próprio texto da série, algo que é amplificado em Heritage que, como não poderia deixar de ser, lida primordialmente com a investigação exata sobre os poderes de Jordan lá na Fortaleza (ou seria caverna?) da Solidão.

Não tenho dúvidas que haverá um incessante vai e volta em relação a esse elemento da série, ou seja, se Jordan tem ou não poderes e em que nível e quando (não “se”) Jonathan manifestará os seus e como isso acontecerá, mas o que realmente importa nesses passos iniciais é a relação familiar entre os quatro protagonistas, mesmo que isso signifique que muito da minutagem não terá Superman sendo Superman e sim Clark Kent sendo pai, marido e fazendeiro, o que é esperado e, devo dizer, muito agradável de se ver considerando que há o reconhecimento do enorme abismo que existe entre essas duas figuras mitológicas (não sou muito amigo em não haver esforço algum para diferenciar Clark Kent e Superman fisicamente para além do uso quase desnecessário dos óculos, mas não se pode ter tudo…). Com isso, a investigação de Lois Lane sobre o magnata inescrupuloso Morgan Edge, retirado diretamente dos quadrinhos e que já aparecera em Supergirl, ainda que vivido por outro ator e o conflito de Superman contra o Capitão Luthor de Wolé Parks, com direito à careca lustrosa e armadura, fazendo um callback ao Lex Luthor clássico dos quadrinhos (e um pouco, claro, do Batman de Frank Miller) e que parece vir de outro universo, com a série aproveitando o resultado do crossover Crisis on Infinite Earths, parecem, apenas, aquelas bonitas decorações de bolo. Em outras palavras, o que interessa mesmo é o que está abaixo delas e isso, a relação familiar, Heritage faz muito bem mesmo quando emprega artifícios batidos de dificuldades amorosas e escolares dos garotos ainda tentando entender quem exatamente são e de Lane galgando novos caminhos agora também fora do Planeta Diário.

No entanto, de forma alguma eu quero dizer que o que eu chamei de “decoração” não funciona, pois, muito ao contrário, funciona muito bem. Não me interessei ainda particularmente pela linha narrativa de Lois Lane, pois ela me parece trivial demais, mas a do Capitão Luthor, incluindo sua estratégia de semear dúvida na mente do general Samuel Lane, tem grande potencial de se tornar uma “decoração” realmente saborosa, ainda que, claro, esteja cedo demais para bater o martelo. O que realmente interessa nesse fronte é que não só há verossimilhança narrativa, como há um delicioso olhar de trama de quadrinhos envolvendo o multiverso que pode facilmente ocupar a temporada toda em termos de foco de ação que, aliás, tem sequências muito bem executadas, especialmente a pancadaria na órbita da Terra. Vamos ver onde isso vai dar!

Se alguém estava achando que, depois do episódio piloto, Superman & Lois iria esmorecer, só tenho boas notícias a dar. Heritage mantém a solidez do início, aprofundando as relações familiares dos Kents em meio a duas ameaças que colorem sem exageros em potencialmente fascinante universo que está sendo criado para essa mais nova versão do Superman em série solo. Para o alto e avante!

Superman & Lois – 1X02: Heritage (EUA, 02 de março de 2021)
Criação: Greg Berlanti, Todd Helbing
Direção: Lee Toland Krieger
Roteiro: Todd Helbing
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Jordan Elsass, Alex Garfin, Erik Valdez, Inde Navarrette, Wolé Parks, Dylan Walsh, Emmanuelle Chriqui, Michele Scarabelli, Fred Henderson
Duração: 44 min.

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