- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Com constância que acho quase inacreditável para uma série de super-heróis, Todd Helbing vem mantendo a terceira temporada de Superman & Lois no ousado trilho do grave câncer de Lois Lane com desvios apenas para linhas narrativas que conseguem, mesmo que indiretamente, se conectar com esse drama central. Muito sinceramente, achava que, a essa altura, as exigências de uma produção do gênero falariam mais alto e o showrunner teria encontrado algum tipo de saída para abrir espaço para a típica demonstração de poderes nos céus de Smallville e Metrópolis. No entanto, fico muito feliz que, mesmo que isso porventura (e inevitavelmente) venha a acontecer nos quatro últimos episódios, o foco humano seja ainda a grande atração da temporada.
Mesmo que a produção tenha evitado mostrar Lois sofrendo perda de cabelo durante sua quimioterapia, escolha que entendo perfeitamente não só pelo quão difícil seria de ver isso, como também pela possibilidade de ficar algo falso se, compreensivelmente, Elizabeth Tulloch se recusasse a cortar suas madeixas, o fato de o assunto ser abordado e, ainda por cima, abrir espaço para a segunda e ainda mais violenta – e definitiva – fase de seu tratamento com uma mastectomia dupla, é algo que precisamos reconhecer como corajoso e, mais do que isso, extremamente relevante. Ainda que a cirurgia não venha a acontecer – estamos falando de uma série de super-heróis, afinal de contas -, abordá-la é o que importa e o, por meio de flashbacks, uso da simbologia do vestido de gala que Clark Kent presenteara sua então noiva depois de vender sua coleção de cartões de beisebol é muito bem conduzida, ainda que a metáfora seja um tantinho quanto óbvia e direta.
O silêncio assustado de Lois, a hesitação e medo de Clark e, mais para a frente, a franca e, sob certos aspectos, libertadora conversa de Lana com sua amiga e, em seguida, de Clark com sua esposa em que até a potencialmente interrompida vida sexual dos dois é discutida são momentos do mais alto gabarito e são momentos assim que definitivamente destacam Superman & Lois da vasta oferta de obras do gênero. Superman deixa de ser super e passa a ser aquilo que o também diferencia dos demais super-heróis apesar (ou talvez em razão) de ele ser um alienígena amorosamente adotado por um casal sem filhos de uma fazenda no Kansas: um ser humano. Não há nada mais sensacional do que lidar com o homem mais poderoso da Terra completamente rendido diante da inevitabilidade da vida, algo que ele, por suas características fisiológicas, desconhece e precisa lutar para entender. Tyler Hoechlin mais uma vez entrega uma performance que eu sinceramente nem de longe esperava do ator ao fragilizar e humanizar seu Superman de maneira que só mesmo Christopher Reeve conseguira antes dele.
Do outro lado do episódio, por assim dizer, a abordagem não é menos interessante. Ver a transformação de John Henry Irons em um homem capaz de absolutamente tudo para proteger sua família é assustador se considerarmos que ele é, também, um super-herói. O contraste das ações de Irons com as de Superman, que, sendo quem ele é, tenta compreender o lado do vilão e evitar a maldosa chantagem que o impede de sequer ver sua esposa moribunda é muito bem conduzido pela direção de Stephen Maier que inclusive usa iluminação diferente para trabalhar Irons, como se ele estivesse literalmente mergulhando nas sombras como o Batman. Aliás, Wolé Parks tem se mostrado muito eficiente em seu papel e, aqui, ele convincentemente deixa claro que seu personagem não está para brincadeiras.
Conectado a isso, o drama adolescente ganha excelente relevo, com os gêmeos Kent ao lado de Sarah fazendo de tudo para suavizar a dor que Natalie sente depois das revelações e da consequente separação forçada de seu amado Matteo que, por seu turno, também é visto separadamente em sua relação agora extremamente conturbada com o pai. Aqui, Jonathan tem outra oportunidade de mostrar que, como bombeiro, ele é um excelente psicólogo, promovendo o que acaba sendo uma reunião secreta entre os dois adolescentes que leva a mais revelações (para Natalie sobre seu pai) e à conexão mais definitiva entre eles, criando material muito interessante para manter Bruno Mannheim em rota de colisão com John Henry.
The Dress é outro grande e emocionante episódio de Superman & Lois que se aproxima do fim da temporada sem cair na tentação do gênero em que a série está inserida. Mesmo que Helbing não tenha saída e intensifique o lado super-heróico a partir de agora com a entrada do Superman Bizarro na jogada (repararam que ele está sem as cicatrizes?), o showrunner já terá feito muito mais do que qualquer outra série do tipo em humanizar seu protagonista.
Superman & Lois – 3X09: The Dress (EUA, 23 de maio nos EUA e 1º de junho de 2023 no Brasil)
Criação: Todd Helbing
Direção: Stephen Maier
Roteiro: Kristi Korzec
Elenco: Tyler Hoechlin, Elizabeth Tulloch, Alex Garfin, Michael Bishop, Erik Valdez, Inde Navarrette, Wolé Parks, Tayler Buck, Sofia Hasmik, Chad L. Coleman, Dylan Walsh, Emmanuelle Chriqui, Mariana Klaveno, Angel Parker, Karen Holness, Samantha Di Francesco, Spence Moore II, Daya Vaidya
Duração: 41 min.
