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Crítica | Superpata: O Colar de Ariadne

Eis que surge a faceta super-heroica da Margarida!

por Luiz Santiago
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Em 1969, Guido Martina escreveu o roteiro de O Diabólico Vingador, a partir de uma ideia da editora Elisa Penna. História ilustrada por Giovan Battista Carpi, ela trouxe ao mundo um personagem que se tornaria muitíssimo popular, o imparável e terrível… Superpato! Em 1973, Martina se uniu ao desenhista Giorgio Cavazzano para criar uma versão feminina do famoso herói vivido pelo Pato Donald. E claro, essa versão não poderia ser outra que não a Margarida. Foi assim que surgiu a base para a concepção da Superpata (Paperinika, no original, em contraparte ao Paperinik, do Superpato). Seu uniforme inicial era azul, com um manto preto às vezes refletindo tons de vermelho. Com o passar do tempo, essa paleta de cores seria modificada para uma vestimenta vermelha e um manto preto refletindo luzes azuis, que é o uniforme mais conhecido da personagem.

O princípio da história aqui é a frustração de um possível dia de diversão entre Donald e Margarida, que simplesmente não acontece porque o Tio Patinhas convoca o sobrinho para cuidar do banco, enquanto o alarme está passando por uma reformulação. Margarida fica muitíssimo ofendida com toda a conversa que se dá entre os dois patos, especialmente o mais velho, que utiliza todos os clichês machistas para diminuir e ridicularizar a garota. Desse ponto em diante, a gente vê surgir uma característica marcante da Superpata: um feminismo sui generis. Essa versão do “feminismo” da heroína não propõe a igualmente entre os gêneros, como o ideal feminista faz; mas a superação do masculino pelo feminino. Não chega a ser uma manifestação de misandria, mas tampouco é o feminismo como conceito, por isso, toda vez que me referir a essa veia ideológica vinda da Superpata, usarei o termo entre aspas.

Mesmo com essa corruptela do ideal de luta das mulheres por mais direitos, oportunidades e espaço na sociedade, a personagem tem graça, e a revolta contra as piadinhas e falas do Tio Patinhas é bem justificada, assim como as brincadeiras visuais e dramáticas que Guido Martina vai fazendo com a passagem da Margarida para a sua versão super-heroica. Particularmente, acho que é uma transição muito rápida e que não tem a elegância de construção que teve a do Superpato, mas o pretexto faz tanto sentido e o contexto do surgimento se amarra tão bem à trama do assalto ao Banco Patinhas, que esse aspecto negativo acaba perdendo um pouco o peso e não afeta tanto a história como afetaria se o restante não tivesse um encadeamento interessante. Aqui, quem substitui o Professor Pardal como gênio de criação de tecnologias para o herói é Eugênia, que entrega em poucas horas a roupa da Superpata e o seu sapato deslizante. O disfarce facial com os óculos sempre me fez rir demais, e acho que ele combina bastante com a personalidade meio fútil da Margarida, convenhamos.

Além de referenciar A Megera Domada (a Margarida e a bandida Paula Drona fingindo flertar e se submeter aos homens para conseguirem algo em troca), o texto traz o “fio de Ariadne” como ideia para atrair a gangue que a heroína enfrenta, imitando o conceito do novelo dado a Teseu, para que não se perdesse no labirinto. Como sempre encontramos nessas histórias maiores com personagens da Disney nos quadrinhos, o enredo vai acabar utilizando referências externas, das mais inúmeras áreas, e misturá-las com o humor típico de cada escritor e de cada personagem. Nesta aventura, o ciclo se fecha com a reafirmação da excelência do trabalho feminino e com Patinhas tendo que engolir as falas de antes (o roteiro não faz estardalhaço em torno disso, apenas traz a aceitação do velho pato para o mapa que tinha em mãos), terminando por correr atrás de Donald, para ensinar-lhe uma lição… a pauladas.

Uma das coisas que a gente vê aqui, e que muito colaborou para que os italianos não curtissem a Superpata (ao menos à época de seu lançamento), é que nas duas primeiras tramas dela o Donald, que originalmente já é um perdedor estressado, é ainda mais humilhado, em detrimento de um destaque para a personagem. Porém, nas histórias em que ela aparece no Clube dos Heróis (junto com o Superpato), a situação é bem diferente. Aliás, o trato que os roteiristas brasileiros dão à Superpata deixam-na até mais interessante que a sua versão original. O Colar de Ariadne é uma trama divertida e muito gostosa de acompanhar, introduzindo essa personagem de uma forma que gera curiosidade no leitor para saber quais serão os seus próximos passos. E a compensação é grande, porque a aventura seguinte já traria o primeiro encontro da recém-criada vingadora de Patópolis com… o Superpato!

Paperinika e il filo di Arianna — Itália, 8 de abril de 1973
Código da História: I TL 906-C
Publicação original: Topolino (libretto) 906
Editora original: Mondadori
No Brasil: Tio Patinhas 164 (com layouts remontados)
Roteiro: Guido Martina
Arte: Giorgio Cavazzano
Capa original: Giovan Battista Carpi
44 páginas

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