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Crítica | Superpateta: Origem e Primeiras Aventuras

Os três nascimentos do Superpateta e outras histórias...

por Luiz Santiago
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O presente compilado traz críticas para as cinco primeiras histórias com o Superpateta. É importante considerar, porém, que o personagem teve três distintas histórias de origem, todas elas publicadas no mesmo ano de 1965. Aqui, faço a abordagem para todas essas versões e também para mais outras duas aventuras já com o herói definido como um “comedor de super-amendoim” para conseguir seus poderes. Você conhece o Superpateta? Gosta do personagem? Já teve a oportunidade de ler essas primeiras histórias em quadrinhos em que ele aparece? Confira as críticas abaixo e deixe os seus comentários ao final da postagem!

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Nasce Um Super-Herói

A jornada do Superpateta começa apenas com o nome de “Superpateta”, mas não mostra, de fato, o surgimento de um super-herói. É um falso início: simples assim. Publicada na revista do Mancha Negra, em abril de 1965, Nasce Um Super-Herói (The Phantom Blot Meets Super Goof) começa com uma busca simples, algo que a gente já viu de outras missões investigativas ou policiais do Mickey: o Mancha fugiu da prisão, o Coronel Cintra (como sempre) não tem nenhuma pista de como isso pode ter acontecido e vai pedir ajuda para o rato, que, como sempre, está acompanhado do amigo Pateta. A situação é velha conhecida nossa, mas o roteiro de Del Connell consegue imprimir a ela uma boa quantidade de charme, especialmente na segunda parte, quando passa a fazer uma paródia divertida das tramas do Velho Oeste.

Na verdade, a parte realmente interessante dessa aventura é a que se passa na cidade de Vila Brava, no Arizona, onde um indivíduo chamado Tex Nefasto fez história, no passado. O objetivo do Mancha é superar esses feitos com os mais intensos ataques e crimes possíveis. A narrativa fica boba quando o autor insiste em fazer o Mancha escrever um livro sobre sua “carreira” no mesmo tempo em que está cometendo os crimes. Parece algo mal acoplado à narrativa, não funciona muito bem. Já o lado da ação, os planos do Professor Pardal e as trapalhadas do Pateta são bacanas, trazem bons momentos de riso, mesmo quando parecem infantis demais. Não é uma história de um super-herói, apenas a imaginação do Pateta que acredita que virou alguém com poderes incríveis “só” porque bebeu o líquido que Pardal fez para a máquina identificadora de crimes. Coisas da cabeça do Pateta.

The Phantom Blot meets Super Goof — EUA, abril de 1965
Código da História: W PB    2-01
Publicação original: The Phantom Blot 2
Editora original: Gold Key
No Brasil: Mickey (Abril) 164, Disney Especial (1ª Série) 63, Disney Especial Reedição 59, Superpateta 1
Roteiro: Del Connell
Arte: Paul Murry
Capa: Paul Murry
32 páginas

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O Supertrapalhão

Depois do pequeno delírio heroico de Nasce Um Super-Herói, o Pateta parece ter insistido nessa atividade, tanto que pediu ao Pardal para que inventasse uma capa com a capacidade de dar-lhe super-poderes. E aqui vou compartilhar uma opinião que pode ser impopular: eu acho essa ideia umas 500 vezes melhor do que a ideia do super-amendoim. É uma proposta cheia de classe, está ligada a algo coerente dentro do Universo dos quadrinhos da Disney (ou seja, uma invenção do Pardal que, em aventuras posteriores, poderia dar problemas — para variar sua onipresença nas histórias — e ser modificado das mais impensáveis formas), além de fazer muito mais sentido do que o negócio dos amendoins, dos quais eu realmente não gosto, apesar de já ter me acostumado ao longo dos anos, de tê-los aceitado, e achá-los até engraçadinhos, mas nunca “gostar de verdade” deles.

Temos aqui a mesma dupla de artistas da aventura anterior: Del Connell no roteiro e Paul Murry nos desenhos, mas numa história muito curtinha, de apenas quatro páginas. É uma trama cheia de maluquices do Pateta, vestindo uma super-capa, saindo em patrulha pela cidade e fazendo mais estragos do que se deixasse as cosias seguirem o seu fluxo normal de desastre. Se fosse uma história mais longa, tenho a impressão de que essa abordagem acabaria enjoando o leitor, mas não é o caso aqui. A gente dá risada de todos os momentos do personagem e acompanhamos a sua mente bagunçada analisar as prioridades que ele deve ter como um salvador das pessoas. Uma pena que não seguiram com esse negócio da super-capa inventada pelo Pardal como linha regular das aventuras do Superpateta. Uma pena mesmo!

All’s Well that Ends Awful — EUA, julho de 1965
Código da História: W DD  102-03
Publicação original: Donald Duck 102
Editora original: Gold Key
No Brasil: Mickey (Abril) 163, Cinqüentenário Disney 1, Superpateta 1
Roteiro: Del Connell
Arte: Paul Murry
Capa: Tony Strobl
4 páginas

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O Ladrão de Zanzipar

Chegamos! Esta sim é a verdadeira história de origem do Superpateta! Na primeira página, o roteiro mostra uma cena em flashback, dizendo que não aconteceu há muito tempo. Pateta está verificando a sua plantação de amendoins e, ao experimentar um deles — com casca e tudo, claro –, acaba se transformando em um super-herói, igual ao protótipo que Paul Murry desenhou em aventuras publicadas nos meses anteriores (Nasce Um Super-Herói e O Supertrapalhão). Infelizmente, esse negócio dos amendoins é muito ruim mesmo, principalmente no começo das tramas do personagem. Eu lembro de não ter gostado nada da primeira vez em que li essa história, há muitos anos, e agora, em uma releitura para escrever o presente texto, vejo que a primeira impressão negativa só foi reforçada. O que temos de bom nessa apresentação oficial do personagem é o encadeamento temporal entre a descoberta e o estabelecimento dele na cidade. Ou seja, depois da breve introdução, no passado, passamos para um momento onde o Superpateta já é famoso, já estampou a primeira página de diversos jornais e é muito querido pelo povo. E claro, ninguém sabe quem é a pessoa “por trás do manto”, apesar da semelhança física e do nome.

O roteiro de Bob Ogle, nesta aventura, procura expandir um pouco o Universo do Superpateta, não perdendo tempo com introduções básicas. A gente descobre de maneira rápida a fonte dos poderes do herói, onde ele leva os amendoins ao longo das viagens ou missões, e a maneira dele se comportar diante da fama e das responsabilidades que lhe são atribuídas. No caso, essa responsabilidade ganha corpo quando o herói percebe que Clarabela , que está indo cozinhar para o sultão de Zanzipar, após ter ganhado um concurso internacional, pode estar correndo perigo. Essa parte da história é a que flui melhor, pois mostra a boa intenção do atrapalhado “Superman do mundo Disney” se chocar com o desprezo de Clarabela pela ajuda, porque ela acha que está tudo bem. Em paralelo, vemos o Bafo também chegar a Zanzipar, e a tensão se ergue com essa possibilidade de ação do bandido. A correria que se dá a partir daí e, principalmente, o final da história, são bem fracos. Não é um bom início para as aventuras do Superpateta, mas consegue apresentar o personagem com um  bom número de detalhes para o público, o que já é alguma coisa.

The Thief of Zanzipar — EUA, outubro de 1965
Código da História: W SG    1-02
Publicação original: Super Goof 1
Editora original: Gold Key
No Brasil: Mickey (Abril) 160, Disney Especial (1ª Série) 54, Disney Especial Reedição 50, Aventuras Disney (Abril) 12, Superpateta 1
Roteiro: Bob Ogle
Arte: Paul Murry
Capa: Paul Murry
16 páginas

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O Mistério do Zoológico

Historinha simples, mas bacana, que fala muito sobre as bobagens do Pateta e um tanto menos do Superpateta, personagens que são mais uma vez citados como “tendo grande semelhança um com o outro“. Pois é. Uma vergonha para o Mickey, grande investigador, não ter sacado isso, não? Só mesmo com muitos anos de leituras para se acostumar com essas coisas e gostar desse uso do super-amendoim guardado no chapéu. Essa para mim era uma aventura inédita, diferente da origem do super, que eu conhecia desde a adolescência. Aqui, o Pateta vai até o zoológico juntamente com o Mickey para ver animais invisíveis. Sim, é isso mesmo. Como disse mais acima, é uma história sobre as bobagens do Pateta. Porém, como a visita ao zoológico foi feita ao lado do Mickey, a mutreta do roubo dos animais é rapidamente identificada pelo rato, que inicia uma investigação.

A ação do Superpateta acaba sendo forçada em muitos de seus momentos de trapalhadas — eu disse isso na aventura anterior: em enredos maiores, esse tipo de abordagem pode enjoar rapidinho, exatamente o que ocorre aqui –, mas gostei da interação do herói com os animais e também da participação dos Irmãos Metralha, pelo menos no início da narrativa. Tratando-se de uma aventura dos anos 1960 e escrita por um americano, a citação da “África” da maneira mais genérica possível não é de se espantar. Aliás, esse ponto da história é o mais estranho, porque o roteiro não dá nenhum tipo coerente de passagem do tempo para a chegada a outro continente. Já o encadeamento do enredo em seu final é o padrão para aquilo que a gente conhece das histórias policiais do Mickey, padrão que, pelo menos no início, se mostra como um espelho para as histórias do Superpateta também.

The Vanishing Zoo — EUA, outubro de 1965
Código da História: W SG    1-03
Publicação original: Super Goof 1
Editora original: Gold Key
No Brasil: Mickey (Abril) 160, Almanaque Disney 21, Edição Extra 135, As Melhores Histórias Disney 7, Aventuras Disney (Abril) 2, Disney Jumbo 1, Disney de Luxo 11
Roteiro: Bob Ogle
Arte: Paul Murry
Capa: Paul Murry
16 páginas

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O Estranho Caso do Dr. Tictac

Com participação ilustre de Geppetto (sim, o criador do Pinóquio) essa história cria blocos dramáticos que não conseguem fazer muito sentido ao longo do texto, acumulando, no decorrer das páginas, um número grande coincidências e absurdos que poderiam facilmente ser evitados com um pensamento um tantinho mais criterioso do roteirista (Bob Ogle) para aquilo que estava concebendo. Neste caso, estamos diante de um vilão bastante peculiar. Um baixinho vestido de roupas pretas (achei até que fosse o Mancha, de alguma forma alterado), que se comunica por bilhetinhos e que tem o nome de Dr. Tictac. Se fosse uma aventura do Mickey, com participação menor do Pateta, com certeza poderia ser uma história muito gostosa de se ler. Só que não é o caso. O Superpateta aqui é um personagem que tropeça na chatice sem fim de ficar comendo super-amendoins, se “destransformando” e se transformando novamente. É muitíssimo irritante e não chega a lugar nenhum, dramaticamente falando, só atrasa o desenvolvimento da história.

As melhores partes do enredo são as partes em que o Mickey investiga as explosões, além dos breves momentos do Pateta com um cão São Bernardo. Também vale dizer que a concepção para o Dr. Tictac é muito boa. O mistério em torno dele é bem escrito e toda sua trajetória vale muito a pena de se acompanhar, porque parece alguém muito poderoso e muito esperto para se safar das forças policiais, do Mickey e… bem, não precisa ser nada inteligente para se ver livre do Superpateta nessa fase inicial de sua carreira, mas vá lá, vou adicioná-lo à lista também só para ele não ficar triste. O que se coloca como urgência, aqui, é impedir imediatamente que Geppetto construa novos bonecos ou qualquer outro tipo de “companhia” de madeira, já que existe uma tendência dessas criações saírem por aí criando muitos problemas. A propósito, até agora não consegui entender qual foi a motivação para o roubo dos rubis pelo Tictac. O que exatamente ele queria fazer com aquilo? Enquanto vilão oculto, achei ele um fantástico personagem, mas depois da revelação e com a falta de maiores explicações para contextualizá-lo, muitas perguntas ficaram no ar. Seria melhor não terem revelado nada, assim essa parte negativa não apareceria justamente no desfecho.

The Strange Case of Doctor Syclocks — EUA, fevereiro de 1966
Código da História: W SG    2-02
Publicação original: Super Goof 2
Editora original: Gold Key
No Brasil: Mickey (Abril) 163, Disney Especial (1ª Série) 1, Disney Especial Reedição 1, Disney Superespecial 1, Aventuras Disney (Abril) 4, Almanaque dos Super-Heróis Disney (2ª Série) 1, Superpateta 1
Roteiro: Bob Ogle
Arte: Paul Murry
Capa: Paul Murry
32 páginas

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