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Crítica | Surfista Prateado / Thor – Anual 1998

por Davi Lima
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Surfista Prateado / Thor

Na década de 90 a Marvel estava com sérios problemas financeiros, e essa edição estilo Team-Up representa bem isso, sem que leia os meandros da falência da editora de quadrinhos. Desde antes da situação econômica se agravar, décadas antes, Marvel Team-Up é uma linha de quadrinhos que surgiu muito influenciada pela popularidade do Homem-Aranha no seu início. A regra era sempre unir o cabeça de teia com algum herói da Marvel, com histórias de qualidade contestável, mas legível de uma maneira geral, divertidas, sem dúvida. Porém, essas HQs de dupla de heróis começaram a virar caça-níqueis mais exacerbados, formando one-shots anuais que às vezes não tinham continuação, apenas faziam interlúdios entre séries regulares, incluindo um vilão genérico. Essa edição do Surfista Prateado e Thor pode até ter o espírito heroico de cada personagem para justificar o excesso de disposição de lutas bem diagramadas nas páginas da HQ, mas refletem bastante alongamentos de uma narrativa em busca de dinheiro, não de sustentar a descompromissada aventura em busca de dignidade.

Tanto Thor e Surfista Prateado são super-heróis conhecedores do cosmos intergalácticos, personagens de fácil construção de pequenas histórias que permitem conhecer mais da mitologia Marvel e expandir poderes em desenvolvimento criativo no meio de descobertas espaciais. Embora o princípio da edição pareça seguir esse caminho, quando mais uma vez os gigantes de gelo invadem a Terra por algum portal misterioso dos reinos asgardianos, há uma quebra de narrativa com a apresentação do vilão Millennius, que na verdade é a pausa completa de um começo de história. É como um filler descarado, em que formula uma grande desculpa para que a resolução do problema inicial, quanto a Asgard e a destruição que ocorre no reino de Thor, seja puramente prorrogada, talvez, para uma próxima edição da série regular do Thor. 

Surfista Prateado / Thor

Embora isso seja comum quando se acontece crossovers, em que a intenção seja puramente ver os heróis lutarem juntos, essa ideia central é tangenciada, tanto pela as lutas individuais de cada herói com Millennius, quanto pela substância da história focar na honra e dignidade que cada personagem, incluindo o vilão. Isso é o que acontece quando o plano original, em aparência, não é o crossover diretamente, e sim criar um interlúdio para as séries regulares que dê um descanso na progressividade em um típico anual, ou a chamada enrolação. Mesmo que isso seja característico dos anuais terem histórias isoladas, eles não vendem um grande problema que não é resolvido, ao menos não como essa HQ escrita Tom DeFalco faz. A sensação de defraudação com a interrupção na investigação de Thor e Surfista no espaço, que se resume a lutas exageradas com Millenius, é o efeito básico de não dignidade da história pensar além da conquista monetária do leitor.

Apesar do ilustrador Ramon Bernado construir entretenimento digno de grandes personagens, fortes e poderosos para lutas grandiosas, a dignidade que Surfista Prateado tanto preserva como herói, que salva as pessoas como grande foco de suas missões, e que Thor tanto almeja em aprender com os humanos para defender Asgard de corrupções, ou até Millennius que acredita tanto em sua justiça que torna sua vilania indulgente em dignidade; tudo isso fica apenas em frases de efeito, num aparente looping de lutas e construções imagéticas descoladas com motivações rasas. Diante disso, os recordatórios pelo menos contribuem para executar uma harmonia narrativa, tornando o contexto de lutas menos dependentes de diálogos e mais de um narrador que dimensiona qual a grandiosidade das lutas e as dificuldades enfrentadas. Isso ajuda bastante para que haja mais efeito dramático, semelhante ao suspense criado pelos pensamentos nas batalhas no anime Dragon Ball.

Finalmente, se tudo gira em torno de buscar dignidade para provocar a leitura no início da HQ Surfista Prateado / Thor, tudo se cessa. O cansaço dos personagens se torna o cansaço do leitor, convenientemente, para não prosseguir na investigação dos heróis. Em verdade, falta dignidade em um entretenimento barato que almeja tanto economicamente, sem muito esconder um projeto que torna as páginas múltiplas de quatro uma evidência de fazer mais um fã da Marvel preso por motivos quase nada artísticos.

Surfista Prateado / Thor Anual 1998 (Silver Surfer / Thor Annual ‘98) – EUA, agosto de 1998
Roteiro: Tom DeFalco
Arte: Ramon Bernado
Arte-final: Mark Pennington
Cores: Tom Smith
Letras: John Costanza
Capa: Ramon Bernado
Editoria: Haye Gardner
40 páginas

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