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Crítica | Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

por Bruno dos Reis Lisboa Pires
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Durante a década passada, Tim Burton dedicou-se a articular e aperfeiçoar cada uma das suas particularidades que o fazem um autor. Fantástica Fábrica de Chocolate foi uma espécie de recomeço dentro do terror imaginário infantil, ponto de partida da carreira do diretor, A Noiva Cadáver foi o ápice de controle cênico por meio da manipulação de imagem graças à animação, e Sweeney Todd deu ao artista a possibilidade de reintegrar seus vícios visuais góticos dentro de sua lógica original: o romance inglês vitoriano. Enquadrar este filme como o extremo fetichista de Burton é coerente, desde a estética aos atores recorrentes, mas dessa vez tudo paginado numa espécie de gênesis na carreira do autor, que propõe encenar a morte como mote principal de um gênero tão vivo quanto o musical, que já havia flertes em seus dois últimos filmes, mas aqui é levado às últimas instâncias.

Em relação à parte musical, o tom cartunesco de Burton foi suficiente para encadear essa nova perspectiva dentro de seu cinema e levá-la à última potência. Para o público acostumado com musicais baseado em alguns números cantados entre porções de história, Sweeney Todd será um filme difícil de ser engolido, já que o diretor busca trazer a essência do gênero às telas, onde as vastas sequências musicais atingem o ápice dramático e narrativo que é fundamental para a história mover-se. O musical é facilmente concebido como um terreno ideal à mise-en-scène do autor, cuja dramaturgia corre o caminho de requentar sempre que possível cada um dos planos e quadros compostos, detalhes que sobrecarregam os cenários e interpretações, mas graças à concepção do público geral, o musical não precisa ser levado à sério, um cheque em branco para Burton pirar na medida de seus próprios sonhos. Seus efeitos e estética digital estão mais apurados que nunca, e graças à isso sua recriação da Inglaterra do século XIX foi impecável.

É possível dizer que esse filme seja uma espécie de Frankenstein de Tim Burton, que teve de reanimar um romance vitoriano e dar vida à carne morta. O mundo escolhido é o encontro perfeito entre as raízes de suas influências góticas somado às possibilidades de requinte steampunk, acrescentando um pouco da famosa encenação das histórias de época contadas em livros infantis. Burton agracia-se com uma cultura morta, um tempo perdido, para reencenar a morte como princípio de seu cinema, iluminando uma história desaparecida e sem rosto, maleando a penumbra.

As tortas de carne assadas pela esposa de Sweeney refletem exatamente a questão do cinema de Burton: como um desastre pode ser acobertado por uma fantasia tão inocente? As raízes do medo são fundadas nos materiais de origem mais virtuosas, como é o caso de algo de tanto sucesso como as tortas vendidas por Lovett encobrirem tragédias sem tamanho que no fundo carregam o fardo de uma vingança. A estranheza é passada sem qualquer cerimônia, mas apenas os mais detalhistas irão desvendar os mistérios por trás da encenação cadavérica de Burton, que assombra com total controle o espetáculo das hiper sensações que é seu musical, um jogo de luzes e sombras que no fundo carrega a história da violência consigo.

Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street) – EUA, Reino Unido, 2007
Direção: Tim Burton
Roteiro: John Logan
Elenco: Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Timothy Spall, Sacha Baron Cohen, Jamie Campbel Bower, Jayne Wisener, Ed Sanders, Laura Michelle Kelly, Buck Holland
Duração: 116 min.

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