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Crítica | Sweet Tooth – 2ª Temporada

O cativeiro de Gus.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, a crítica da temporada anterior.

A merecida renovação de Sweet Tooth para a segunda temporada demorou a sair, o que deixou todo mundo que havia gostado da série bastante nervoso por uns meses. No entanto, isso não aconteceu com a terceira e última, que não só foi anunciada simultaneamente ao lançamento da segunda, como o Netflix revelou que as filmagens até já aconteceram, provavelmente ao mesmo tempo para evitar o “efeito Stranger Things” em relação aos astros mirins que protagonizam a série e, claro, para economizar em basicamente tudo. Certamente um alívio para quem acompanha a produção, pois é garantia de que saberemos o fim do pequeno Gus (Christian Convery) e das demais crianças híbridas em um mundo em que 98% da população humana foi exterminada por uma feroz e mortal pandemia.

Começando basicamente de onde a primeira temporada parou, com a clássica separação do encantador núcleo central formado pelo menino veado Gus, a adolescente Bear (Stefania LaVie Owen) e o atormentado Jep (Nonso Anozie), o segundo ano da série mantém essa estrutura por provavelmente tempo demais, só reunindo a trinca no começo do penúltimo episódio, o que esvazia muito do que fazia de Sweet Tooth uma obra especial, de pegada fabulesca, que dependia sobremaneira da excelente conexão entre os três citados personagens. Ao seguir esse caminho, o showrunner Jim Mickle arriscou-se demais (ou de menos, dependendo da forma que encaramos) e fez o coração da série bater de forma menos compassada, por diversas vezes parecendo que o objetivo era enrolar, já que a progressão narrativa ficou não só cambaleante como lenta, especialmente no núcleo do zoológico agora transformando em quartel general dos Últimos Homens comandados pelo General Abbot (Neil Sandilands), com Gus, Wendy (Naledi Murray) e os demais híbridos encarcerados enquanto o Dr. Aditya Singh (Adeel Akhtar) continua suas terríveis experiências para achar uma cura e salvar sua esposa Rani (Aliza Vellani) da doença.

Era de se esperar que o clima de jornada da temporada inaugural fosse reduzido, mas, sinceramente, não esperava que ele fosse completamente eliminado para abrir espaço para diversos núcleos essencialmente transitando em espaços confinados, com a vilania de Abbot ganhando traços ainda mais caricaturais que chegam ao ponto de ele parecer um daqueles vilões mais histriônicos da franquia James Bond em que o que interessa é falar sem parar e apresentar planos mirabolantes (aquele momento em que ele revela seu projeto Evergreen, com direito àquela maquete, foi vergonhoso de ruim). Da mesma forma, a história supostamente repleta de ambiguidades do tipo “só sei fazer o bem fazendo o mal” foi cansativa, com o arco de sua investigação científica mais parecendo um cachorro correndo atrás do rabo, mesmo considerando que tudo acontece em um período não muito superior a alguns pouquíssimos dias.

E o pior é que os acontecimentos que gravitam separadamente ao redor de Bear de um lado e de Jep e Aimee (Dania Ramirez) de outro não trouxeram nenhuma empolgação ou qualquer senso de urgência ou perigo, mesmo sabendo que eles em tese estavam correndo contra o tempo para salvar as crianças híbridas. Foi como se tudo o que acontece fora do zoológico tivesse sido pensado posteriormente, de forma a dar funções aos referidos personagens e permitir o tardio reencontro de todos eles depois de uma confusa e pouquíssimo inspirada batalha aérea em que geladeiras são arremessadas de aviões. Em meio a tudo isso, não ajudou muito que os híbridos mais elaborados do que aqueles que só tenham chifres ou narizes diferentes não tenham ficado muito bons, talvez com exceção do garoto elefante, criando um tipo de Vale da Estranheza que impede a imersão completa.

Por outro lado, o descortinamento mais completo do que aconteceu com Birdie (Amy Seimetz) e o que estava por trás da pandemia prende a atenção, assim como os ótimos dois episódios finais que conseguem equilibrar, com bastante eficiência, ação com revelação, sem perder tempo com monólogos cansativos, construções falhas de tensão e personagens redundantes e sem função clara na temporada (vamos combinar que os adultos em tese salvadores da pátria foram quase que inúteis até o grupo chegar a Yellowstone, não é mesmo?). Diria até que os episódios sete e oito foram mais apressados do que deveriam ser, pois ficaram espremidos e sem espaço depois dos não-acontecimentos dos seis anteriores, o que deixa ainda mais claro que a temporada teria se beneficiado demais de uma distribuição mais cuidadosa de sequências de ação organizadas ao longo de todos os capítulos e não só no final.

Seja como for, a história do encantador Gus e companhia nessa abordagem que subverte as normalmente sombrias pegadas de obras pós-apocalípticas (ainda que a segunda temporada tenha sido bem mais sombria que a primeira, claro) continua muito interessante, com um desenvolvimento que aproximou bastante a série dos quadrinhos originais de Jeff Lemire e que aponta para uma derradeira temporada cheia de potencial, com uma nova vilã, a Sra. Zhang (Rosalind Chao), e uma jornada reveladora até o Alasca atrás de Birdie e os mistérios da expedição marítima que começou tudo em 1911. Tomara que a segunda temporada tenha sido só um soluço, portanto.

Sweet Tooth – 2ª Temporada (EUA, 27 de abril de 2023)
Desenvolvimento: Jim Mickle (baseado em obra de Jeff Lemire)
Showrunners: Jim Mickle
Direção: Jim Mickle, Toa Fraser, Carol Banker, Robyn Grace, Ciaran Foy
Roteiro: Jim Mickle, Carly Woodworth, Oanh Ly, Noah Griffith, Daniel Stewart, Zaike LaPorte Airey, Bo Yeon Kim, Erika Lippoldt
Elenco: Christian Convery, Nonso Anozie, Adeel Akhtar, Stefania LaVie Owen, Dania Ramirez, Aliza Vellani, James Brolin, Naledi Murray, Neil Sandilands, Marlon Williams, Yonas Kibreab, Christopher Sean Cooper Jr., Rosalind Chao, Amy Seimetz
Duração: 412 min. (oito episódios)

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