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Crítica | Sweet Tooth – Vol. 2: Cativeiro

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas de Sweet Tooth.

Tendo cumprido com eficiência a tarefa de introduzir seu universo pós-apocalíptico em que uma praga matou grande parte da população do mundo e crianças híbridas (parte humanas, parte outros animais) começaram a nascer e tendo estabelecido a cobiça de uma milícia científica justamente por essas crianças, de forma a estudá-las para descobrir uma cura, Jeff Lemire parte para o aprofundamento sobre o passado de seus personagens, focando Cativeiro não no inocente e frágil Gus, híbrido de cervo e humano, mas sim no violento, mas moralmente conflitado Jepperd. É neste volume que passamos a entender as motivações do personagem em enganar Gus, dizendo que o estava levando para uma mítica Reserva, mas, na verdade, queria justamente entregá-lo para a tal milícia.

Pouco efetivamente acontece com Gus para além da confirmação de que ele realmente antecede a praga que matou o mundo, o que é uma surpresa para o cientista que investiga o jovem. Enquanto ele tenta descobrir pistas sobre onde Gus foi criado (já que ele não nasceu no sentido clássico da palavra, por não ter umbigo e, portanto, conexão com a placenta materna) e sobre o que o pai dele fazia, claramente desconfiando de manipulação genética. Por outro lado, usando o artifício de trafegar entre presente e passado, Lemire vai aos poucos revelando a trágica “origem” de Jepperd que em praticamente todos os aspectos paraleliza o drama atual de Gus.

Enquanto vemos o Jepperd do presente enterrando o que restou de sua esposa – os ossos dela foram entregues a ele em troca de Gus – e tentando se matar, mas falhando e, daí em diante, procurando consolo com bebida e violência, o roteirista nos conta detalhes sobre como ele conheceu sua futura esposa, depois sua vida à dois, a chegada da praga, a tentativa de eles chegarem em um lugar seguro e, claro, a gravidez dela que a torna alvo da mesma milícia científica que tem Gus em cativeiro e que captura os dois. Apesar de Lemire não procurar justificar a atitude de Jepperd em relação a Gus com uma história triste, ele cria contexto suficiente para confirmar que aquele homem ali, apesar de violento e capaz de fazer qualquer coisa, lá no fundo tem bom coração, certamente um clichê narrativo mas que é muito bem contado ao longo das seis edições que compõem o volume.

Retornado à analogia óbvia que fiz na crítica anterior, Cativeiro é o equivalente em quadrinhos da transformação de Max Rockatansky em Mad Max que vemos no primeiro filme da franquia australiana. E o roteiro nem tenta esconder as conexões, ou, talvez melhor dizendo, inspirações, já que coloca Jepperd, em defesa de sua esposa, contra motoqueiros mascarados no meio da estrada em uma sequência simples, mas muito bem executada que mostra o valor do personagem para o grande vilão da série em quadrinhos, explicando o porquê de ele não ser simplesmente morto logo de cara.

Lemire, ainda bem, sabe equilibrar com precisão o quanto de presente e de passado ele revela e, mais ainda, consegue estabelecer um equilíbrio diria cientificamente exato entre as duas linhas narrativas de forma a não cansar o leitor em nenhuma das duas pontas e tornando-as inclusive igualmente interessantes em seu paralelismo, tudo para encerrar em um cliffhanger cinematográfico que promete a volta de Jepperd ao local de cativeiro de Gus para exterminar todos por ali e salvar os prisioneiros até como uma forma de expiar seus pecados e de aliviar um pouco o peso da culpa que sente pelas mortes de sua mulher e de seu filho no parto. A arte, novamente por conta do roteirista, permanece naquele estilo simples e sujo que ele sempre soube imprimir a seus trabalhos, com a paleta de cores de José Villarrubia ganhando matizes ainda mais sombrias que torna emblemática a descida de Jepperd ao Inferno para que ele então levante a cabeça finalmente procurando algum tipo de redenção.

Em Cativeiro, Lemire mantém a simplicidade de sua proposta, utilizando muito bem todos os clichês de “histórias violentas de origem” para dar o devido estofo a Jepperd e criar as condições para a reunião dele com Gus novamente. Sweet Tooth, com isso, revela-se como um pequeno recorte, tendo o apocalipse como pano de fundo, sobre as profundezas que somos capazes de ir nas condições exatas, sem sequer perceber o tamanho do mal que impingimos no processo.

Sweet Tooth – Vol. 2: Cativeiro (Sweet Tooth – Vol. 2: In Captivity – EUA, 2009/2010)
Contendo: Sweet Tooth #6 a 11
Roteiro: Jeff Lemire
Arte: Jeff Lemire
Cores: José Villarrubia
Letras: Pat Brosseau
Capas: Jeff Lemire, José Villarrubia
Editoria: Brandon Montclare, Bob Schreck
Editora: Vertigo Comics
Datas originais de publicação: fevereiro a julho de 2010
Editora no Brasil: Panini Comics
Data de publicação no Brasil: fevereiro de 2013
Páginas: 148

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