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Crítica | Sweet Tooth – Vol. 3: Exército Animal

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas de Sweet Tooth.

No lugar de começar o terceiro arco de Sweet Tooth exatamente de onde o anterior parou, Jeff Lemire dá uma respirada e cria uma quebra de ritmo para abordar mais detalhes da praga que dizimou e continua dizimando o universo que ele criou, tudo sob os olhos e com a narrativa do Dr. Singh, o cientista indiano que trabalha para a milícia científica e percebeu que Gus pode ser a chave de tudo, por ele aparentemente ter sido criado em laboratório em período anterior ao apocalipse. É o perfeito e importante intervalo que permite ao leitor entender o escopo do que atingiu o mundo e, com isso, também compreender que o trabalho científico feito sob os auspícios da milícia, por mais imoral que seja, realmente tem sustentação.

Mas é claro que é uma sustentação tênue, pois não era necessário aprisionar os híbridos ou mulheres grávidas de híbrido, transformando o local em um campo de extermínio e Singh, para todos os efeitos, um Doutor Mengele da vida. E é para desmistificar isso, ou seja, retirar a pecha completamente negativa do Dr. Singh, que eu acredito que a edição #12 de Sweet Tooth exista na verdade, já que os eventos que ele conta sob sua perspectiva, apesar de ser um enfoque interessante e útil, já haviam ficado claros de uma forma ou de outra no arco anterior.

Quando, porém, Lemire encerra seu interlúdio, por assim dizer, ele retorna com força total ao momento em que Jepperd, compreendendo o horror que havia perpetuado ao deixar Gus com a milícia, decide salvar o garoto e todos os demais híbridos que estejam lá aprisionados. Mas, para fazer isso, além de arregimentar a ajuda das duas mulheres apresentadas em Saindo da Mata, ele – com elas – parte para convencer o culto dos malucos mascarados que ele enfrentou em seu passado, quando sua esposa ainda era viva, a trabalhar com eles. É como se Mad Max pedisse ajuda para Humungus ou Immortan Joe, só para o leitor ter uma ideia do quão é arriscado é essa ideia. E olha que nenhum dos dois vilões citados anda cercado por cinco crianças ferais híbridas de lobo – seus próprios filhos, aliás – que fazem tudo o que ele quer, inclusive devorar qualquer membro do próprio culto que o desobedeça, sem pensar duas vezes…

O que segue daí é o esperado, ou seja, uma guerra campal entre cultistas e milicianos com uma altíssima contagem de corpos que, porém, Lemire não mostra acontecendo, só quando tudo já acabou. Ou seja, no lugar de mostrar os detalhes das violências cometidas, algo desnecessário pela própria premissa da HQ e do que já vimos que acontece com os híbridos nesse mundo doente, o autor desvia a história para os corredores subterrâneos do complexo onde fica o “canil” em que as crianças são trancafiadas, reduzindo o escopo da narrativa e focando tanto em Gus, agora como líder de seus semelhantes que até tenta uma fuga anteriormente, como também no furioso e imparável Jepperd.

Que fique claro que o que disse acima sobre violência não quer dizer que ela não é mostrada no arco, pois é sim, e muito. Há para todos os gostos aqui, mas o que Lemire consegue fazer é não exagerar, é não mostrar a violência pela violência, pois ver um mar de corpos no “campo de batalha” costuma ter um efeito muito mais aterrador do que efetivamente acompanhar cada detalhes do embate. Mas, no recorte menor que ele faz, há violência sem freios e, pior, com crianças envolvidas, o que torna a leitura por vezes muito difícil, especialmente quando o vilão revela a Jepperd que seu filho ainda está vivo, levando a um excelente e doloroso momento climático na história que, para Jepperd, fica sem resolução, mas que o leitor vê o que acontece, já preparando a ação futura, com todo mundo se dirigindo ao Alasca, onde aparentemente Gus foi criado.

Exército Animal é mais um ótimo arco de Sweet Tooth que chega à sua metade (tecnicamente um pouco menos, pois foram 40 edições no total) com toda a narrativa bem encaminhada e todos os seus personagens bem estabelecidos e desenvolvidos, inclusive com direito a mais um misterioso sonho premonitório de Gus. Lemire sabe como dar ritmo às suas histórias, o que torna irresistível a assustadora saga de Jepperd e Gus no fim do mundo.

Sweet Tooth – Vol. 3: Exército Animal (Sweet Tooth – Vol. 3: Animal Armies – EUA, 2010/11)
Contendo: Sweet Tooth #12 a 17
Roteiro: Jeff Lemire
Arte: Jeff Lemire
Cores: José Villarrubia
Letras: Pat Brosseau
Capas: Jeff Lemire, José Villarrubia
Editoria: Brandon Montclare, Bob Schreck
Editora: Vertigo Comics
Datas originais de publicação: agostos de 2010 a janeiro de 2011
Editora no Brasil: Panini Comics
Data de publicação no Brasil: maio de 2013
Páginas: 148

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