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Crítica | Sweet Tooth – Vol. 5: Habitat Anormal

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas de Sweet Tooth.

O penúltimo volume da série original de Sweet Tooth é composto de dois arcos, com o segundo, Habitat Anormal, sendo também o título do encadernado que compila as sete edições. Já caminhando para o final, é interessante ver como, de um lado, Jeff Lemire trata de “adiantar” a revelação sobre a origem da misteriosa praga que assolou o mundo e também dos híbridos e, de outro, trata a ação propriamente dita de maneira surpreendente, subvertendo expectativas sobre quem salva quem.

O primeiro arco, O Taxidermista, é um flashback em três edições com Matt Kindt na arte criando lindíssimas aquarelas que contrastam com a violência dos eventos situados em 1911, quando uma expedição comandada pelo rico britânico James Thacker, que tem na taxidermia seu hobby, chega no Alasca para tentar resgatar Louis, que deveria ser seu futuro cunhado, mas que, antes de casar com sua irmã Anne, parte para ser missionário e nunca mais retorna. Quando Thacker e seus homens chegam no frio desolado da região, eles não só encontram uma doença que matou os missionários, como também o próprio Louis, vivo, mas, como em Dança com Lobos, completamente assimilado à cultura Inuit, inclusive casado e com um filho que, surpresa, surpresa, tem galhada na cabeça exatamente como Gus.

A história que segue é um espelho da colonização europeia nas Américas, só que com um recorte bem específico e com elementos potencialmente místicos ou, até, de ficção científica, com a fonte da praga sendo revelada como estranhos sarcófagos com animais totêmicos de deuses híbridos em uma caverna escondida e reverenciada pelos nativos até que, por curiosidade, Louis abre um deles, o que pareceu ser o gatilho para a doença e o nascimento de seu filho à imagem justamente do ser misterioso com aparência de cervídeo cujo túmulo ele viola. Mas o interessante é que Lemire para por aí, não oferecendo mais detalhes, elegendo trabalhar a reação horrorizada de James Thacker a tudo o que testemunha que, claro, no lugar de tentar entender, decide eliminar o que teme, sempre com um subtexto religioso de fundo que permeia toda essa terrível história de 100 anos antes dos eventos principais.

No presente, já com a arte sob comando de Lemire e as cores de José Villarrubia, um mês se passou desde que Gus foi alvejado misteriosamente, com Jepperd tendo decidido morar nas imediações da represa depois de se recusar a aceitar toda a bondade demonstrada pelo simpático Walter Fish. O que catalisa a ação e o Dr. Singh chegando com Gus “contrabandeado” ao acampamento de Jepperd, de forma que os três, que nunca quiseram permanecer no paraíso de Fish, pudessem recomeçar a viagem ao Alasca. Mas, para tanto, eles precisam de transporte e o alvo é a gangue de Haggarty, que vive em um prédio próximo, com alguns veículos. Como era de se esperar, porém, tudo o que sabemos sobre Walter é a mais pura mentira e ele, na verdade, é o próprio Haggarty que invadiu e matou grande parte das pessoas que moravam na represa, mantendo as demais do lado de fora.

No entanto, no lugar de fazer o óbvio, que seria colocar Jepperd em rota de colisão com o psicopata que finge ter problemas de locomoção, Lemire cria uma situação em que o raivoso grandalhão não pode ajudar Lucy e os demais, com todo o ônus caindo nos ombros de Gus que, fugindo do Dr. Singh, retorna à represa e toma para si a responsabilidade de libertar os amigos. E é assim que a história segue, com Gus e seu estilingue salvando o dia, somente para Jepperd, acompanhado de outro jogador de hóquei de sua época em uma daquelas coincidências que incomodam, mas que não temos escolha que não aceitá-la, chegar quando tudo já está completamente resolvido e a tempo de ainda falar com Lucy uma última vez antes que a horrível doença a consuma.

Fica evidente a metáfora aqui. Gus chegou ao ponto alto de sua maturidade, tornando-se uma versão ainda humana, ainda moralmente incorrupta do próprio Jepperd, sacrificando-se pelo demais e se recusando a matar sem necessidade. Vemos, em Gus, a essa altura, o verdadeiro futuro da humanidade e que a praga parece muito mais um expurgo de uma raça há muito condenada do que realmente o apocalipse. O pequeno e assustado garoto híbrido que vivia recluso em uma reserva florestal com seu suposto pai é, agora, um homem muito melhor do que qualquer um ao seu redor e é essa pontada de esperança que Lemire quer que o leitor tenha ao final do penúltimo arco de sua saga.

Com Habitat Anormal, Sweet Tooth aproxima-se de seu encerramento – até o recente recomeço! – reservando o embate final contra a milícia comandada pelo sanguinolento Abbott e seus híbridos ávidos por dilacerar suas vítimas para o derradeiro volume. Jepperd e Gus, agora uma verdadeira e inseparável dupla, ainda têm um bom caminho pela frente.

Sweet Tooth – Vol. 5: Habitat Anormal (Sweet Tooth – Vol. 5: Unnatural Habitat – EUA, 2011/12)
Contendo: Sweet Tooth #26 a 32
Roteiro: Jeff Lemire
Arte: Matt Kindt (#26 a 28), Jeff Lemire (#29 a 32)
Cores: Matt Kindt (#26 a 28), José Villarrubia (#29 a 32)
Letras: Carlos M. Mangual
Capas: Jeff Lemire, José Villarrubia
Editoria: Mark Doyle, Gregory Lockard
Editora: Vertigo Comics
Datas originais de publicação: outubro de 2011 a abril de 2012
Editora no Brasil: Panini Comics
Data de publicação no Brasil: novembro de 2013
Páginas: 164

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