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Crítica | Tales of the Walking Dead – 1X05: Davon

TWD no século XVIII?

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leia, aqui, as críticas da série, e, aqui, as críticas de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Eu não sei exatamente o que acabei de assistir em Davon. O episódio traz mais uma história da antologia com conceito até interessante e diversificado, sobre um jovem (Jessie T. Usher) que acorda algemado a um zumbi, sem memórias de como foi parar ali e sendo perseguido por uma cidade que o acusa de assassinato. A sinopse do episódio insinua um thriller misturado com noir (tem que forçar muito a barra para dizer que isso aqui é noir), e contém uma daquelas narrativas de memória fragmentada, se respaldando bastante em montagem e reviravoltas para nos explicar os acontecimentos.

A execução, no entanto, é muito estranha. A edição até tenta criar algum suspense com flashbacks estilizados como filmagens antigas de câmera ou de fitas de VHS, com as cenas meio que se dissolvendo, meio saturadas. As escolhas estilísticas também me parecem inspiradas em games de suspense à la Silent Hill e Resident Evil, mas tudo acaba sendo mais confuso do que misterioso, sem falar que o roteiro é extremamente pobre com a parte investigativa e de quebra-cabeças da história (o protagonista só vai lembrando as coisas e pronto, sem nenhuma criatividade narrativa).

Mas o episódio fica verdadeiramente estranho com o cenário de Madawaska, Maine, no Canadá. Não acredito que o local tenha sido escolhido de modo arbitrário, pois a comunidade parece ter saído do século XVIII, seja pelas suas formas de vestimenta, comportamentos e modo de falar, sejas as alusões ao período da Revolução Francesa. Alguns exemplos: a execução da escavadeira representando a pena de morte pública com a guilhotina; os habitantes falando francês, sempre numa conotação hiperbólica, como se estivessem fazendo discursos; e o subtexto racial e revolucionário com Davon, o único personagem negro na história que é perseguido pela comunidade julgadora, com o protagonista inclusive fazendo manifestação sobre liberdade, igualdade e fraternidade no desfecho do episódio.

Não sei exatamente o que o roteirista Channing Powell estava pensando quando decidiu usar essas metáforas, mas sua interpretação do período é extremamente caricata, principalmente com os diálogos exagerados e inorgânicos. Todo mundo conversa como se estivesse num palco (algo afirmado pela direção teatral), e sempre com reações excessivas e falta de lógica. Nada soa muito natural no episódio, seja o comportamento da comunidade, andando de preto e com tochas como se fossem um culto, seja os retornos de memória convenientes de Davon.

Nosso querido A-Train até traz uma boa atuação, buscando um sentimento de desespero que a direção e o roteiro não conseguem trazer, mas o ator não é o suficiente para transpor qualquer sensação de perigo em mais um episódio em que a ameaça dos zumbis é subutilizada. Tudo isso sem falar de como toda essa caricatura não dialoga nem um pouco com a abordagem de suspense da premissa, nos dando momentos de puro constrangimento exagerado, como a cena da execução, ou então o discurso sem sentido do sequestrador.

Não sei exatamente o que o Channing Powell estava querendo com essas representações de época misturadas com uma narrativa fragmentada de suspense, mas o resultado é completamente vergonhoso de todos os lados que possamos pensar. Os elementos de memórias são mal construídos e só servem para a confusão do protagonista, enquanto as metáforas de período são simplesmente burras, tanto pensando por algum tipo de crítica social quanto por um conceito anacrônico da comunidade.

Tales of the Walking Dead – 1X04: Davon – EUA, 04 de setembro de 2022
Criado por: Scott M. Gimple, Channing Powell (baseado em obra de Robert Kirkman, Tony Moore e Charlie Adlard)
Direção: Michael E. Satrazemis
Roteiro: Channing Powell
Elenco: Jessie T. Usher, Loan Chabanol, Gage Munroe, Embeth Davidtz
Duração: 46 min.

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