- Há spoilers. Leia, aqui, as críticas da série, e, aqui, as críticas de todo nosso material do universo The Walking Dead.
La Doña segue a mesma lógica de Blair/Gina: trazer um conceito que não se encaixa na mitologia de The Walking Dead. Se lá tivemos loop temporal, aqui temos uma história mais mística sobre uma casa amaldiçoada e um fantasma, também contendo leves elementos de religião que são típicos em narrativas de terror latinas. Entendo que os roteiristas querem ter uma abordagem diferenciada e surpreendente, e até aplaudo a coragem criativa, mas tem que existir alguma coesão com os princípios deste universo, senão deixa de ser um conto de TWD.
Isso já torna o episódio automaticamente ruim para mim. Mas a execução de La Doña, dentro de seus preceitos, não é tão tenebrosa, apesar de não conter nada de especial ou memorável. A história acompanha dois sobreviventes do apocalipse que encontram refúgio na casa de uma velhinha misteriosa, provavelmente uma espécie de bruxa. Ela faz um jantar para o casal, mas não quer que eles fiquem na casa, fazendo com que um deles fique nervoso. Em uma estranha cena de acidente, a dona da residência acaba morrendo e os dois sobreviventes decidem ficar no local.
O restante do episódio mostra os personagens sendo assombrados pela casa e a La Doña, sofrendo uma série de alucinações. A direção de Deborah Kampmeier tem algumas ideias cênicas, com alguns jogos de câmera que me pareceram inspirados em Sam Raimi (alguns zooms; muitos giros; e até uma cena de uma mão saindo da terra que me remeteu a um momento clássico de Raimi), mas a cineasta é extremamente limitada, pouco se aproveitando de espaços ou então das ameaças da casa.
Falta uma certa composição das cenas de alucinações, acontecendo aleatoriamente e com muita rapidez, sempre com uma abundância de clichês. Alguns jumpscares aqui e ali, alguns objetos ganhando vida, sangue escorrendo pela parede e figuras do passado aparecendo para assombrá-los, numa sucessão de elementos batidos de terror. A maneira como elas se repetem sem algum escalonamento de tensão ou um senso de perigo faz com a narrativa vá se tornando chata, desaguando em um desfecho bem anticlimático.
Confesso que uma abordagem mais escrachada e com humor tinha mais potencial, explorando elementos como o papagaio, as figuras ganhando vida e a própria bruxa por um lado mais cômico. Mas, bem, a direção escolheu um tom sério que não traz muita novidade, brindando o público com uma história de fantasma e casa amaldiçoada que vimos um milhão de vezes.
Além disso, como recorrente nos roteiros do seriado, há muitos dramas e choques entre os protagonistas. Até gosto de alguns elementos dramáticos, como a questão da sobrevivência versus a culpa de tomar a casa da velhinha, mas todo o joguinho de confio-não confio entre o casal me soou enfadonho, considerando que ambos estavam tendo alucinações. Teria sido bem mais interessante ver os dois simplesmente aterrorizados juntos do que tendo discussões sobre falta de confiança. Um final decepcionante para mais um spin-off medíocre de TWD.
Tales of the Walking Dead – 1X06: La Doña – EUA, 11 de setembro de 2022
Criado por: Scott M. Gimple, Channing Powell (baseado em obra de Robert Kirkman, Tony Moore e Charlie Adlard)
Direção: Deborah Kampmeier
Roteiro: Lindsey Villarreal
Elenco: Daniella Pineda, Danny Ramirez, Julie Carmen
Duração: 43 min.
