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Crítica | Tell It Like a Woman

Sete curtas que não valem um longa.

por Ritter Fan
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Tell It Like a Woman é um longa-metragem composto de sete curtas-metragens conectados unicamente por serem dirigidos, roteirizados e protagonizados por mulheres, um critério que até faz sentido, mas que poderia ter sido acompanhado de outros elementos que criassem um conjunto mais homogêneo ou que fizesse um mínimo de sentido temático. No entanto, muito ao contrário, o que vemos são curtas de assuntos e estilos completamente díspares – alguns baseados em fatos e pessoas reais, outros completamente fictícios, um deles até animado, com vários estruturados de maneira convencional, mas um tentando ser completamente diferente e ousado ao enveredar por um lado mais onírico – que foram reunidos sem maiores critérios.

E isso nem seria um problema sério se, como toda obra em formato de antologia, houve uma gangorra qualitativa que oscilasse entre obras mais fracas, talvez até ruins, e obras boas, talvez até excelentes. Infelizmente, porém, Tell It Like a Woman sequer consegue ser cheia de altos e baixos, ficando apenas constantemente ali em uma incômoda e insossa linha mediana, com diversos exemplares que, se não chegam a ser imprestáveis pela nobreza e importância do que tentam trazer à tona (mulheres que trabalham incessantemente com pessoas em situação de rua, violência contra a mulher, maternidade), também não conseguem cumprir com qualidade seus objetivos. A grande verdade é que apenas um curta merece realmente destaque – o penúltimo, sobre uma esteticista que se aproxima de uma mulher trans depois de conhecê-la quando compartilha um serviço de transporte – e não por ser exatamente fora de série, porque não é, mas sim por pelo menos ter a coragem de enfocar o assunto de maneira original, além de a sequência climática contar com a canção Applause, de Diane Warren, que concorreu ao Oscar 2023.

Apesar de contar com um elenco com alguns nomes famosos, a grande verdade é que só mesmo Marcia Gay Harden é uma atriz de naipe diferenciado, ainda que o curta que estrele – o primeiro, sobre duas médicas que cuidam de pessoas que não têm onde morar – se passe durante a pandemia e, portanto, com sua personagem o tempo todo de máscara cirúrgica. O restante dos supostos grandes nomes, como Cara Delevingne, Eva Longoria e Jennifer Hudson sofrem para chegar ali no sarrafo mínimo para ser possível considerar seus trabalhos como verdadeiras e relevantes atuações. Isso casado com curtas que por vezes parecem fragmentos de “um dia na vida de…”, outras vezes até contam com um roteiro completo, mas que falha em sua urgência (como o curta da veterinária que esbarra em um caso de violência doméstica), acabam tragando a antologia para um lugar-comum cansativo que acaba sendo um desserviço para os assuntos e pessoas que aborda.

A grande verdade é que Tell It Like a Woman é desorganizado e mal concebido. Era necessário não só estabelecer algumas mínimas regras, como também contar com um trabalho de curadoria semelhante ao de David Fincher em Love, Death + Robots. É pedir demais? Creio que não, pois ter um norte e um propósito facilita a tarefa das roteiristas e diretoras, além de criar homogeneidade temática. E isso não quer de forma alguma dizer que os estilos de cada diretora não poderiam ser mantidos. Muito pelo contrário até, pois a antologia, com isso, só teria a ganhar força e relevância para além de poder dizer que “foi indicado os Oscar” em seu material publicitário.

Tell It Like a Woman (EUA/Itália – 2022)
Direção: Silvia Carobbio, Catherine Hardwicke, Taraji P. Henson, Mipo Oh, Lucía Puenzo, Maria Sole Tognazzi, Leena Yadav
Roteiro: Krupa Ge, Shantanu Sagara, Leena Yadav
Elenco: Cara Delevingne, Marcia Gay Harden, Margherita Buy, Eva Longoria, Danielle Pinnock, Leonor Varela, Nate’ Jones, Jennifer Hudson, Pauletta Washington, Jacqueline Fernandez, Jesse Garcia, Alex Bentley, Jennifer Ulrich, Katia Gomez, Katie McGovern, Anne Watanabe, Brandon Win, Ayesha Harris, Gabriel Ellis, Jasmine Luv, Holly Gilliam, Iacopo Ricciotti, Sergio Allard, Freddy Drabble, Flaminia Sartini, Anjali Lama, Andrea Vergoni
Duração: 112 min.

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