Home TVTelefilmes Crítica | Tempestade (Oväder, 1960)

Crítica | Tempestade (Oväder, 1960)

por Luiz Santiago
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Tempestade foi a primeira das quatro peças de câmara que August Strindberg escreveu em 1907 (as outras são O Enredo do Conhaque, A Sonata dos Espectros e O Pelicano), e a primeira adaptação que Ingmar Bergman fez do dramaturgo para a televisão. Pelo caráter da própria obra, esse tipo de adaptação mais contida e com menos exigências na construção de cenários, cai como uma luva ao projeto, dando interessantes camadas à obra, em termos de observação do espaço em torno dos personagens e andamento da rotina na vida do senhor protagonista.

Um certo momento da velhice é o tema central de Tempestade. Herrn (Uno Henning, que também apareceria em O Sonho, adaptação que Bergman faria de outra peça de Strindberg para a TV, três anos depois) vive com uma memória ao mesmo tempo afetiva e opressiva da jovem ex-esposa, de quem se divorciou por motivos que vão da diferença de idade até questões mais filosóficas e sentimentais envolvendo um relacionamento, como a percepção da liberdade e o tipo de companhia que se é para alguém versus o tipo de companhia que se exige do outro.

Sob a simplicidade do cenário, todavia, esconde-se uma potente reflexão sobre os anos da velhice, sobre as atitudes tolas de um homem em alta idade, com seu reconhecimento dessas atitudes e algumas realizações que surgem apenas nessa fase da vida, abrindo possibilidades de reflexão e mudanças de opinião. Embora eu não tenha gostado da concentração, num único espaço, da ex-esposa (agora com um novo parceiro) e do ex-marido (que não sabe que ela é a nova moradora do andar de cima), pude aproveitar bem a dinâmica de fuga, ciúmes e “vingança” que cerca os dois indivíduos, como uma espécie de ciclo de consequências para ações da vida que, no fim, não é nada exatamente grave. É apenas… a vida e suas circunstâncias em cada faixa etária.

Vivendo em um mundo de mudanças (a discussão sobre como o toque do telefone lhe acelerava o coração denota isso) e começando a aproveitar de fato esse momento outonal de sua existência, Herrn é um daqueles personagens adoravelmente complexos que temos em dramas que discutem relacionamentos humanos — especialmente os amorosos — para além da superfície. Suas birras e recusas são simbolicamente ligadas à tempestade que se aproxima da cidade, mas ao fim de uma maior reflexão, uma conversa séria e um olhar acurado para a ralidade, simplesmente se dissipa. A ameaça de uma tragédia com todos os seus ingredientes que não formam o terrível evento esperado. Para a felicidade todos, um sinal de real maturidade.

Tempestade (Oväder) – Suécia, 1960
Direção: Ingmar Bergman
Roteiro: August Strindberg
Elenco: Uno Henning, Ingvar Kjellson, Gunnel Broström, Mona Malm, John Elfström, Birgitta Grönwald, Curt Masreliez, Axel Düberg, Axel Högel, Erik ‘Bullen’ Berglund, Heinz Hopf
Duração: 91 min.

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