O advento da sociedade tecnológica trouxe um feixe enorme de facilitações para as nossas vidas. Pagamentos sem enfrentar filas, contato com pessoas situadas muito longe de nosso cotidiano, arquivos dificílimos de encontrarmos, digitalizados e compartilhados em prol de pesquisas acadêmicas ou pessoais que antes custavam horrores, dentre outras vantagens. Desafiador, por sua vez, é achar uma produção que retrate exclusivamente este ponto de vista. Quando as palavras-chave internet, rede social e ciberespaço são digitadas nos recursos de pesquisas em serviços de streaming, buscadores gerais, no You Tube ou buscadas em nosso catálogo pessoal de mídia física, a maioria dos materiais encontrados são direcionados ao processo de reflexão problemática da conexão em nossas vidas. Terra de Ilusões: Internet, Morte e Mentiras é uma destas produções, uma série em seis episódios lançada em 2022, focada em cinco histórias sobre os problemas que envolvem os desdobramentos dos comportamentos de determinados usuários, alguns vítimas de situações obscuras, outros agentes do crime na virtualidade.
Coprodução de Ron Howard, o mote da narrativa seriada é o problema originado pelo anonimato na esfera virtual. Uma breve exposição sobre como a tecnologia melhorou as nossas vidas é rapidamente colocada como prólogo, num aprofundamento posterior acerca da facilitação do surgimento e estabelecimento de perigosos criminosos, mais difíceis para se capturar no pantanoso terreno em questão. Ataques racistas, disseminação de ideais homofóbicos, espalhamento da cultura da desinformação e roubos suntuosos que esfacelam a economia e mina a confiança dos cidadãos estão no desenvolvimento desta série que dialoga com uma vertente bastante adotada e disponibilizada pelo catálogo da Netflix: as produções sobre casos criminais envolvendo pessoas comuns, mergulhadas em histórias mais escabrosas que as tramas que contemplamos no segmento ficcional. Tudo muito aterrador e absolutamente realista.
Dirigidos por Brian Knappenberger, os episódios de Terra de Ilusões: Internet, Morte e Mentiras refletem o mencionado problema do anonimato e ainda reforça como tais criminosos se beneficiam dos algoritmos, da inconstância da virtualidade que pode situá-los em qualquer lugar do mundo, mesmo que os seus crimes sejam realizados bem ao nosso lado. Os obstáculos para captura-los, neste processo, aumentam ainda mais as chances de impunidade, colocando todos os envolvidos em risco e deixando os espectadores receosos de se tornarem uma das prováveis vítimas de algo semelhante no futuro. Para narrar esta trajetória de episódios com a média de 45 minutos de duração, os realizadores contaram com os efeitos visuais gerenciados pela equipe de Steve Biggert, Sean Jarret e Aaron Crozier, os responsáveis por colocar em cena os recursos que colaboram com as histórias contadas, ilustrações que ampliam a imersão dos espectadores, material acompanhado pela condução sonora de John Dragonetti, também assertiva.
No primeiro episódio, temos um caso de assassinato cometido pela SWAT, envolvendo um jovem gamer que passava trotes para o serviço de emergência, simulando situações, numa história que termina em tragédia. Logo mais, acompanhamos o caso de assassinato em Washington DC, a aniquilação da vida de um importante membro do comitê democrata que arrasta os envolvidos numa rede de conspiração curiosamente extensa. No terceiro episódio, uma garota revela os pormenores de um projeto de supremacistas brancos no qual ela esteve envolvida como facilitadora do campo comunicacional, noutra situação que também acaba em tragédia. Mais adiante acompanhamos uma história já comum neste segmento documental sobre a virtualidade: os casos de extorsão sexual na internet. Os episódios finais apresentam uma história dividida em duas partes, sobre a busca do FBI por um dos hackers mais perigosos e safos do mundo. Em linhas gerais, uma série de relatos que nos fazem temer qualquer instância de conexão, demonstração do quão estamos expostos na era da virtualidade, mesmo quando não percebemos. Visto pelo lado pedagógico, é uma reflexão sobre os cuidados que precisamos ter nesta era de banalização da informação, do compartilhamento de intimidades, etc.
Terra de Ilusões: Internet, Morte e Mentiras – 1ª Temporada (Web of Make Believe: Death, Lies and the Internet – EUA, 2022)
Direção: Brian Knappenberger
Roteiro: Brian Knappenberger
Elenco: Daniel Rigmaiden, Diane Kelber, Jess Berry, Luke Pengelly, Mike Roche (X)
Duração: 62 a 52 min (6 episódios, cada)
