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Crítica | Terra dos Mortos

por Leonardo Campos
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Após alguns anos afastados do campo de produção, George A. Romero retornou para a ressuscitação dos monstros que reformulou nos anos 1960. Em Terra dos Mortos, os zumbis tomaram conta do planeta. Há alguns poucos humanos que vivem cercados por muros que impedem a invasão destas criaturas. As ruas estão caóticas, os ricos moram em seus prédios extremamente protegidos, enquanto os indivíduos de classes mais baixas sentem-se vulneráveis, ou seja, uma metáfora para as extensões feudais do período medieval, presentes com seus contornos no mundo contemporâneo.

O local é comandado por Kaufman (Dennis Hopper), numa cidade planejada protegida por soldados. Os indesejados (latinos, africanos, orientais, etc.) fazem o trabalho sujo e ocupam o perímetro de tais construções, enquanto os ricos jantam ao som de músicas eruditas e se alimentam do melhor. O que eles não esperam é que os zumbis evoluíram e não são apenas a massa perambulando pelas ruas, mas, agora, lideradas pelo zumbi de “grande porte do grupo” (Eugene Clark), as criaturas começam a entender a sua força de vingança contra os humanos opressores.

A classe operária trabalha nas ruas. Eles precisam limpar, eliminar zumbis, deixar os ricos com a mesma segurança de sempre e manter a ordem. Entre eles há o latino que quer a sua moradia, mas será traído pelo gestor local, mesmo depois de ter realizado todas as ordens de uma lista pré-estabelecida. Há outras figuras, como uma prostituta (Asia Argento), o valentão Riley (Simon Baker), dentre outros heróis desta história tão trágica, numa fuga constante dos zumbis maquiados pelo excepcional Greg Nicotero.

No que tange aos aspectos temáticos do filme, os personagens são muito bem desenvolvidos. O ótimo Dennis Hopper lidera a cidade protegida e age com truculência com as pessoas ao seu redor, sempre abusando do poder. Ao observar o período e a forma como ele dá as ordens, é possível associar como uma versão de Rumsfeld, secretário de Defesa dos Estados Unidos da administração Bush (e, anteriormente, na de Gerald Ford), homem de posição crucial nas respostas ao 11 de setembro e conhecido por escândalos envolvendo tortura na Prisão Abu Ghraib.

Em entrevistas, o ator alegou ter se inspirado nessa figura política, além de trazer traços de Donald Trump, empresário e ex-apresentador do The Apprentice, dono do famoso bordão “Você está demitido” (You´re Fired). Resumindo, o personagem ocupa um espaço de poder em uma narrativa que nos apresenta como crítica social a desigualdade de classes e o imperialismo. Os ricos, as classes operárias e os zumbis do terceiro mundo. Para que uma metáfora melhor do que essa?

Diferente de Madrugada dos Mortos, os zumbis não estão mais velozes fisicamente, mas agora utilizam a velocidade para pensar e agir. O desejo deles é dominar esse “Primeiro Mundo” e estabelecer a desordem no espaço de poder e opressão dos ricos. Entre outros temas, temos a banalização da violência, num local onde há parques temáticos com zumbis: no espaço, as pessoas tiram fotos com zumbis acorrentados, lutam em jogos com estas criaturas, além de tornar a cena rentável, pois os zumbis são utilizados para arrecadação monetária.

Terra dos Mortos, assim, ao trazer as metáforas clássicas de filmes deste sub-gênero, combinando-as com suas versões atualizadas para o público moderno, é mais um triunfo de George A. Romero.

Terra dos Mortos (Land of the Dead, Estados Unidos, França, Canadá, 2005)
Direção: George A. Romero
Roteiro: George A. Romero
Elenco: Simon Baker, John Leguizamo, Dennis Hopper, Asia Argento, Robert Joy, Tonny Nappo, Shawn Roberts, Sasha Roiz
Duração: 93 minutos

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