Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Texone – Vol. 2: Terra Sem Lei

Crítica | Texone – Vol. 2: Terra Sem Lei

por Luiz Santiago
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Segundo volume original da série Tex Albo Speciale – TexoneTerra Sem Lei foi publicado na Itália em 1989 e facilmente se enquadra no tipo de produção do Universo do western ligadas ao “publique-se a lenda“. A trama começa com uma conversa entre Tex, Kit Carson e o comandante do Forte Grant, no Arizona, que coloca na mão dos rangers o caso da “terra sem lei”, a desregulada cidade de Safford, controlada pela quadrilha de Paul Morrison e Lola Chavez. Dominada pelo crime, com o xerife na folha de pagamento dos bandidos e os cidadãos amedrontados e em menor número para resistir aos capangas que Morrison  pode contratar, Safford precisa de ajuda urgente e o governo não tem condições de envolver o Exército nessa libertação.

Hábil em fazer com que uma narrativa ganhe fôlego de maneira rápida e com um considerável número de detalhes, o roteirista Claudio Nizzi cria um bom ponto de partida para a missão de Tex, Kit Carson e mais dois convidados, Kit Willer e Jack Tigre, o navajo de poucas palavras que tem um ótimo papel nessa história. Como marca adicional, temos os desenhos de Alberto Giolitti que enlevam o território do western a um patamar de mito visual, quase uma memória afetiva, com seus espaços geográficos dominadores, convidando para uma ação grandiosa o mais rápido possível, algo que o roteiro não demora a fornecer, sob diversas vias de movimentação (brigas, tiroteios, incêndios, passagem de diligência e perseguição a cavalo).

A caminho de um local isolado onde crimes permanecem impunes, a voz da lei é comprada e corrupção, roubo, tráfico e assassinato são os negócios recorrentes, os mocinhos passam por um longo período de busca por informações (o primeiro momento é um dos mais cuidadosamente ritmados, indo desde a saída dos rangers do Forte Grant e terminando depois do conflito na cabana do ex-Sargento e amigo MacCormick). O roteiro cria pouco a pouco a sensação de que algo muito ruim está para acontecer, mas como temos dois pensamentos grandiosos na criação, os mocinhos estão sempre um passo à frente ou tomam vantagem rápida, embora isso não seja colocado de maneira gratuita no texto. É apenas uma forma de olhar para esses indivíduos e vê-los suplantando o mal. A colocação é parcialmente ideológica (ou histórica, ou simbólica, como queira) e tem uma justificativa prática, amparada pela habilidade do quarteto de salvadores do dia.

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Quando você não rejeita um pedido de ajuda e sabe que terá muita encrenca pela frente.

Os atos seguintes carregam peso diferente, tendo um andamento parcialmente arrastado no último bloco, quando os rangers estão na cidade de Safford. Por mais que Giolitti tenha a capacidade de nos fazer olhar para todos os cantos dos quadros e por mais que pequenas ações sigam-se rapidamente umas às outras, o ritmo da narrativa de Nizzi na parte final é mais plácido, com Tex brincando de acreditar no Xerife corrupto e as idas e voltas dele pela cidade, culminando com o enfrentamento dos heróis contra o bando de Kevin Crosby. Os blocos isolados são interessantes, mantêm à distância o tom cômico que o roteiro adotara no ato anterior — Kit Willer vestido de “dama” e Kit Carson de reverendo + os diálogos de toda essa sequência são impagáveis! — e o término da história é coerente com sua proposta. Mas o texto perde, nesta fase, a fluidez absoluta que apresentara no começo.

Terra Sem Lei é um conto de aplicação de justiça rápida aliada à uma história de investigação. Tomando como base o período histórico em que a trama acontece, sabemos que a “Conquista do Oeste” não foi feita unicamente pelas mãos de pessoas bem intencionadas e muitas vezes a lei oficiosa era a que realmente valia e fazia as coisas funcionarem, enquanto a oficial, desde sempre, se perdia em papéis, jogos de interesses e rabos-presos, como vimos acontecer direta e indiretamente inclusive nas histórias do próprio Tex.

Com o protagonista irascível e durão desenhado por Giolitti, os bandidos têm pouca chance aqui e o leitor percebe que Tex anda sem paciência, montando estratégias para avançar pelo terreno quase inóspito do Arizona e cumprir rapidamente a missão que lhe foi dada. A leitura é ágil, cheia de momentos engraçados e com um suspense deliciosamente incomum, pelo caráter de “vitória rápida” percebido no início, alcançando o seu clímax em uma daquelas ironias sempre bem-vindas de Claudio Nizzi, arrancando um riso de cumplicidade do leitor ao ver a justiça, por mais “olho por olho” que seja, sendo feita.

Tex: Terra Sem Lei (Terra Senza Legge / Tex Albo Speciale – Texone #2) — Itália, 1989
Sergio Bonelli Editore

No Brasil: Tex Gigante n°3 (Editora Mythos, 1999) e Tex Edição Gigante em Cores n° 2 (Editora Mythos, 2014)
Roteiro: Claudio Nizzi
Arte: Alberto Giolitti
240 páginas (edição da Mythos, 2014)

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