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Crítica | Tex Willer: Histórias Curtas (1951 – 2015)

por Luiz Santiago
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O presente compilado reúne histórias curtas e extras de Tex publicadas entre 1951 e 2015, em diversas mídias na Itália. A primeira delas é O Bando do Campesino e a última, O Vale Desconhecido. A maioria dessas histórias foram publicadas aqui no Brasil pela editora Mythos, em sua antologia Tex e os Aventureiros.

Já leram essas histórias? Gostaram delas? Não deixem de comentar ao final! E boa leitura a todos!

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O Bando do Campesino

La Banda del Campesino, 1951

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Numa das cem tavernas de El Paso, fronteira com o México“, assim começa essa pequena história extra de Tex, escrita por Gianluigi Bonelli e desenhada por Galep. Os quadrinhos desta aventura foram inicialmente publicados sem ordem definida, como um tipo de desafio para os leitores, que deveriam organizar as tiras até formar com elas uma história coesa. Anos mais tarde, em 1975, a pequena trama foi publicada, em sua versão colorida, pela ANAFI, na revista Il Fumetto.

Na trama, Tex está em perseguição a um bando de espiões mexicanos agindo em território americano. Nesta perseguição ele descobre que Buffalo Bill caiu em uma armadilha e está para ser usado como moeda de troca junto ao governo americano. A trama é bastante simples, sendo mais intensa e dando melhores aparências de “histórias de Tex” no início do que no desenvolvimento ou no final. Por serem apenas 10 páginas, a trama não consegue avançar em praticamente nada do que propõe, mas isso é compreensível diante do pouco espaço.

O final, onde a justiça é empregada e a promessa de que ações na região continuarão a ser tomadas pelos rangers dá um suporte mais sólido para a vitória do Águia da Noite e para a libertação de Buffalo Bill. A propósito, vale destacar que não existe uma real preocupação com cronologia e cânone de Tex diante esse encontro tão importante e citações ou aparições ao longo de outras publicações do personagem.

La Banda del Campesino (Itália, 1951)
No Brasil: Tex e os Aventureiros – Edição Especial (Mythos, 2006)
Roteiro: Gianluigi Bonelli
Arte: Aurelio Galleppini
10 páginas

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Assalto ao Trem

Assalto al Treno, 1986

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Desde O Grande Roubo do Trem (1903), filme de Edwin S. Porter que deu origem ao gênero western no cinema, narrativas que mostram assaltos a meios de transporte no Velho Oeste possuem uma mítica toda especial. Caravanas, diligências e trens são alvos constantes de indígenas e bandidos e é este último grupo que G.L. Bonelli e Aurelio Galleppini escalam nessa pequena história de oito páginas, com Tex e Carson viajando num trem que vai de Flagstaff a Holbrook, no Arizona, numa tarde quente de junho.

Claro que a viagem não é por acaso. Eles receberam a incumbência de verificar a suspeita de roubo do soldo destinado ao 7º Regimento da Cavalaria. Tex imagina que o roubo deverá acontecer próximo à ponte sobre o rio Walnut e é justamente neste ponto da viagem que as coisas começam a esquentar. A história é muitíssimo mais interessante na arte do que no argumento, especialmente na velocidade como as coisas acontecem e na simplicidade didática e pouco interessante da cena final. Ainda assim, a trama apresenta uma boa linha de suspense antes de a grande ação acontecer e o tiroteio, apesar de rápido, é muito bom.

Assalto al Treno (Itália, 1986)
No Brasil: Tex e os Aventureiros – Edição Especial (Mythos, 2006)
Roteiro: Gianluigi Bonelli
Arte: Aurelio Galleppini
8 páginas

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Morte no Deserto

Morte nel Deserto, 1992

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Originalmente publicada em cores no suplemento Fumetti d’Estate, Morte no Deserto (que me lembrou, ao menos em parte, uma história futura de Tex, Drama no Deserto) é um grande exemplo de como algo pode ser bom e objetivo e como uma trama pode aludir organicamente a diversos eventos sem realmente explorá-los. E melhor: mesmo não os explorando, fazendo com que eles tenham relevância para dar contexto à história. É o que ocorre neste roteiro de Claudio Nizzi, que se passa numa tórrida tarde de verão, no Deserto Tularosa (Novo México).

Tex está à caça de bandidos que roubaram um banco. Ele está sozinho e cita Carson, que está repousando após receber um tiro no ombro. A citação dos eventos anteriores à perseguição tem duração o bastante para nos deixar curiosos, mas sem irritar pela falta de informações. Colocado na medida certa, esse tipo de informação dá o suporte necessário para a trama principal, que mostra, mais uma vez, como funciona o pensamento de Tex em relação aos bandidos, seu senso de justiça e sua reação a algumas atitudes de criminosos.

Até na parte final, com a caminhada no deserto e o suspense em torno de Tex e do homem que ele carrega, temos uma situação bem explorada, garantindo um fechamento tão instigante quando sua apresentação. Uma das melhores histórias curtas do personagem.

Morte nel Deserto (Itália, junho de 1992)
No Brasil: Tex e os Aventureiros #4 (Mythos, setembro de 2005)
Roteiro: Claudio Nizzi
Arte: Giovanni Ticci
13 páginas

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Uma Tarde Quente

Un Caldo Pomeriggio, 1992

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Aqui está a prova de que a simplicidade e as poucas páginas de uma história podem sim gerar algo realmente impressionante. Passando-se no No Arizona, em uma tarde quente de junho, esta trama de Guido Nolitta desenhada por Giovanni Ticci brinca diretamente com dois grandes ditados: “quem não deve, não teme” e “as cartas não mentem“.

Num bar isolado no meio do deserto, dois bandidos esperam que o irmão de um deles chegue com os cavalos roubados para que possam atravessar a fronteira com o México e se verem livres das autoridades americanas. Há um interessante clima cinematográfico na obra e isso vai se intensificando no roteiro, especialmente após a chegada de Tex. Algo muito interessante aqui é que o Águia da Noite não suspeita do que está acontecendo, mas o texto joga diretamente com a ameaça de morte, algo que faz o tiroteio parecer um absurdo para o ranger e adiciona até uma pontada de humor no desfecho.

Originalmente publicada na revista italiana Comic Art #96 e relançada posteriormente em outras coleções de Tex, Uma Tarde Quente é o tipo de aventura bem gostosa de se ler, um conto rápido que só não é melhor porque não dura mais e não tem tempo de fortalecer melhor tudo aquilo que já traz de bom.

Un Caldo Pomeriggio (Itália, outubro de 1992)
No Brasil: Tex e os Aventureiros – Edição Especial (Mythos, 2006)
Roteiro: Guido Nolitta
Arte: Giovanni Ticci
12 páginas

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Trilha de Sangue

Pista di Sangue, 1995

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Uma história de perseguição com a arte favorecendo bastante a busca de Tex e de um velho amigo por bandidos que roubaram o banco de uma cidade e sequestraram um garoto do local. A história já começa com a ação em andamento, mas o roubo em si não é a principal atração do texto. A fuga é que se torna o elemento mais importante e Tex sai em busca dos ladrões pelo desfiladeiro do rio Walnut, onde se passa uma das cenas mais apelonas e ao mesmo tempo mais legais da trama.

O prólogo da história não é exatamente chamativo, mas a caçada de Tex torna a saga bem mais interessante, com cenas de ações acontecendo em diversos lugares e com diferentes personagens envolvidos, dando ao texto uma forte sensação de movimento e intensidade. Ao final, a trama volta a ter a mesma simplicidade do início, o que torna essas extremidades bem distintas do que acontece em seu miolo, derrubando um pouco a qualidade do conto. Todas as partes são boas, mas o desenvolvimento, sozinho, é bem melhor.

Pista di sangue (Itália, abril de 1995)
No Brasil: Tex e os Aventureiros #2 (Mythos, abril de 2005)
Roteiro: Claudio Nizzi
Arte: Giovanni Ticci
32 páginas

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O Duelo

Il Duello, 1998

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Publicado como suplemento da Specchio #119, revista semanal pertencente ao jornal La Stampa, O Duelo foi uma história que inicialmente o editor Sergio Bonelli havia recusado. Fabio Civitelli havia proposto a história em formato colorido e queria fazer nela uma pequena mudança no modo como ele desenhava, utilizando esse personagem para experimentar algo novo em seu estilo. O artista cuidou da concepção do enredo, que de pronto entregou a Claudio Nizzi para que escrevesse os diálogos.

No texto e na arte podemos encontrar aqui inúmeras referências cinematográficas, dentre as quais podemos citar Matar ou Morrer, O MatadorOs ImperdoáveisO Portal do ParaísoO Cavaleiro SolitárioDe Volta Para o Futuro 3Rápida e Mortal. Há também uma representação visual de Sergio Bonelli e Decio Canzio entre os espectadores do saloon onde Tex é desafiado pelo egoico Arizona Kid, o pistoleiro que queria ser o melhor do Oeste.

Esse tipo de história nos é bastante conhecida, mas o roteiro cria um ponto de partida pouco orgânico para o flashback e faz um trabalho ainda menos interessante na forma como finaliza o conto. Apesar disso, O Duelo é uma daquelas tramas que capturam bem certos clichês do Velho Oeste e com eles criam algo capaz de nos fazer esperar pelo pior. Apesar dos tropeços, o resultado entretém e conta com a bela arte de Civitelli, o que ajuda em muita coisa.

Il Duello (Itália, maio de 1998)
No Brasil: Tex e os Aventureiros #3 (Mythos, junho de 2005)
Roteiro: Fabio Civitelli, Claudio Nizzi
Arte: Fabio Civitelli
15 páginas

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A Presa

La Preda, 2012

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Publicada no jornal Il Corriere della Sera em 24 de junho de 2012, esta aventura de quatro páginas e em grande formato tem como grande destaque a arte de Fabio Civitelli. Em quatro páginas é muitíssimo difícil estabelecer uma história sólida ou mesmo marcante, então o que podemos aproveitar realmente dessa trama é mais uma demonstração do olhar moral de Tex para algumas situações e como ele nunca é cego por um tipo específico de lei, ordem ou dever.

Seguindo a ideia de que “cada caso é um caso“, o Águia da Noite faz aqui uma curiosa escolha e segue impressionando pela forma como guia situações relativamente simples, mas com implicações imensas para os envolvidos. O roteiro não se aprofunda em nenhuma dessas coisas e do texto, o ponto realmente notável é esse impacto final. Por ter poucas páginas, a história prima pela ação e é por isso que o trabalho de Civitelli acaba se destacando. Uma aventura interessante para curiosos, mas não essencial ou particularmente imperdível na lista do Águia da Noite.

La Preda (Itália, junho de 2012)
Roteiro: Mauro Boselli
Arte: Fabio Civitelli
4 páginas

O Vale Desconhecido

La Valle Sconosciuta, 2015

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Publicada como parte de um álbum de figurinhas, O Vale Desconhecido me lembrou consideravelmente a trama de O Bando do Campesino, guardadas as devidas proporções. Em ambos os casos nós temos uma história de resgate, mas nesta de 2015, apesar de não haver uma personalidade histórica em perigo, existe uma sensação de importância e grandeza de ações ainda maior, tudo pelo fato de Tex não estar sozinho, mas acompanhado de seus pards Kit Carson e Jack Tigre e do filho Kit Willer.

Ambientado na Cidade Fantasma de Dry Gulch, em Montana, este roteiro de Mauro Boselli — com ótima arte de Alessandro Piccinelli — conta uma história de resgate, mas traz um inteligente drama de busca por ouro, motivando ações criminosas. Por se tratar de uma cidade fantasma, o leitor não sabe exatamente o que esperar no início, mas de pronto a ação vai se tornando intensa e então descobrimos que o Águia e seus companheiros caíram em uma espécie de armadilha e devem evitar a todo custo que sejam cercados e dominados.

O que mais marca a leitura é a conclusão trágica, não necessariamente no sentido de violência, mas como causa da violência. A ganância e a estupidez que o dinheiro causa nos homens fracos é, no fim, o grande tema dessa história curta, que mesmo tendo as limitações esperadas para uma trama assim — feita apenas para que, em alguns quadros, os leitores colassem as figurinhas nos lugares corretos –, traz de a marca inconfundível das histórias de Tex.

La Valle Sconosciuta (Itália, outubro de 2015)
Roteiro: Mauro Boselli
Arte: Alessandro Piccinelli
12 páginas

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