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Crítica | The Boys – 2X01 a 03: The Big Ride / Proper Preparation and Planning / Over the Hill with the Swords of a Thousand Men

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas da 1ª temporada e demais episódios e, aqui, de todos os quadrinhos.

Sei que muita gente discorda do que vou afirmar, mas ver temporadas que caem em nosso colo de uma vez na sofreguidão, é, para mim, uma moda que passou. Ver semanalmente é infinitamente melhor, pois dá tempo para pensar, discutir, rever e esperar, com ansiedade, o capítulo seguinte em um ritual que acaba com aquela pouco sadia corrida pelo direito de gritar “acabei primeiro”. Portanto, fiquei muito feliz quando o Amazon Prime Video decidiu mudar a forma de disponibilização de The Boys, cuja 1ª temporada é fenomenal, para a estrutura semanal, mesmo que o serviços de streaming tenha começado soltando os três primeiros episódios da 2ª temporada de uma vez.

Para seguir minha lógica, decidi também trazer, ainda que em um artigo só, críticas separadas para cada um dos três episódios disponibilizados, que seguem abaixo:

The Big Ride
(Uma Viagem e Tanto)
2X01

O retorno de The Boys em The Big Ride é, comparativamente falando, até razoavelmente calmo, funcionando mais como uma maneira de situar novamente o espectador em relação ao novo status quo e rearrumar algumas peças do tabuleiro. Não que o episódio não tenha a já tradicional dose de momentos… hummm… explosivos e repletos de sangue e pedaços humanos, mas ele é sem dúvida um recomeço mais preocupado em preparar o retorno triunfal de Billy Bruto ao grupo.

O cliffhanger da temporada anterior é usado muito eficientemente como justamente o artifício para construir curiosidade e até mesmo um pouco de ansiedade para entender exatamente o que aconteceu. Mas, no lugar de nos entregar isso, o roteiro escrito pelo showrunner Eric Kripke usa esse gancho para comprar tempo, sem demonstrar nenhuma pressa em mergulhar na pergunta quente: onde está Billy? Com isso, vemos os quatro Boys remanescentes escondidos no quartel-general da bandidagem amiga de Francês, um submundo de todo tipo de marginais e de crimes, ou seja, o lugar perfeito para representar toda a podridão que a série aborda.

Hughie, por incrível que pareça, tenta estabelecer-se como uma forma de líder, impondo-se vagarosamente em relação a seus demais colegas e usando sua conexão com Annie para sabotar Os Sete e a Vought. Jack Quaid tem excelente espaço para brilhar na pele do inseguro personagem que vai galgando seu espaço, mesmo que sob olhos desconfiados de Leitinho de Mãe, Francês e Fêmea (ou Kimiko), com direito até mesmo a encontro secreto com sua namorada e um plano para obter uma amostra do composto V, responsável pelos poderes de todos os super-heróis.

Do lado dos supostos super-heróis, não só Annie precisa fazer seu papel de heroína-objeto para agradar o marketing de seu empregador, como vemos a despedia de Translucent, enterrado, muito apropriadamente, em um caixão transparente à la Branca de Neve. O Capitão Pátria discursando e chorando por seu “colega” é o ponto alto da patifaria, em um momento tão extremamente artificial que só me cabe elogiar a capacidade de Antony Starr de derramar canalhice em cada palava que fala, em cada passo que dá, em cada gesto que faz. Seu papel é o protótipo do personagem que amamos odiar.

Mas o grande acontecimento super-heroico é a escolha, à revelia do Capitão Pátria, que rejeitara educadamente o cego Blindspot (Chris Mark) em uma sequência cheia de delicadeza e amor, da sétima integrante do grupo: Stormfront (Aya Cash). Além das poucas papas na língua que ela demonstra de cara, pouco aprendemos sobre a personagem a essa altura, porém, o que ajuda a construir o mistério sobre quem exatamente ela é (algo que nos quadrinhos fica muito evidente logo de cara).

Em termos macro, a morte explosiva de Susan Raynor cria um novo mistério ao mesmo tempo em que abre espaço para a entrada, no episódio seguinte, de Grace Mallory (Laila Robins), personagem importante das HQs, assim como a ameaça dos super-terroristas é acentuada, seja pela missão de eliminação que vemos Black Noir executar, seja pela chegada de um deles em um barco com imigrantes ilegais ou pela introdução de Stan Edgar, personagem vivido por Giancarlo Esposito, CEO da Vought. Estruturalmente, é bom notar que os assuntos abordados na 1ª temporada continuam ganhando desenvolvimento aqui, além de haver um surpreendentemente bom desenvolvimento para a maioria dos personagens, certamente com muito mais camadas do que o que Garth Ennis conseguiu fazer em sua criação da Nona Arte.

The Big Ride pode não ter sido o retorno esperado da série, mas definitivamente era o que a temporada precisava. Recorrer a artifícios explosivos e chocantes o tempo todo não é a receita e Kripke parece saber muito bem disso.

Melhor momento: Capitão Pátria dando uma tapuda em Blindspot.

Proper Preparation and Planning
(Armando a Arapuca)
2X02

Billy Bruto não poderia ficar de fora da série por muito tempo, obviamente. Seu retorno ao final do episódio anterior foi telegrafado desde o começo e sua efetiva reentrada em Proper Preparation and Planning funciona bem pois deflaciona o ego de Hughie, imediatamente transformando-o em uma espécie de zumbi e colocando a ação em turbo. Sem Rayner para tentar tirar o grupo da lista negra, ele é obrigado a fazer um acordo com Mallory – que se mostra poderosa mesmo não mais estando na CIA – para permitir o prometido retorno de Becca para ele, algo que sem dúvida me parece algo inocente de ele acreditar que acontecerá assim tão facilmente.

Por outro lado, a maneira como o roteiro lida com a cronologia do que aconteceu ao final da temporada anterior me pareceu desconjuntada, sem muita preocupação com a lógica. Onde estava Billy esse tempo todo? Na verdade, nem sei se é mesmo “tempo todo”, pois tudo indica que poucos dias se passaram desde que ele descobriu que sua esposa estava viva. E o que o Capitão Pátria fez – ou não fez – com ele é também algo muito enevoado que, espero, ganhe algum tipo de explicação mais para a frente.

No entanto, o episódio sai-se muito bem em efetivamente iniciar a ação da temporada, com os Boys partindo para caçar o super-terrorista telecinético em uma loja de festa de aniversário. A revelação de que ele é irmão de Kimiko, algo que ela estava tentando dizer há tempos para Francês, é uma reviravolta que desenvolve melhor o passado da personagem, dando-lhe mais contexto e propósito, além de estremecer a conexão dela com seu grupo.

Longe dali e afastado dos Sete, Profundo continua lidando com seu drama pessoal e, depois de ser libertado da prisão por Eagle, o Arqueiro (Langston Kerman), ele é levado pelo herói menor para uma sessão terapêutica que, na verdade, parece ser a iniciação em alguma lavagem cerebral pseudo-religiosa, como a Cientologia. O que decorre daí são inesquecíveis e bizarras sequências em que ele, sob a influência de chá de cogumelos, conversa com suas próprias guelras, atributo físico que é razão para profunda vergonha pelo “herói”. Com voz de Patton Oswalt, a sessão alucinógena é fenomenal e hilária, ainda que carregue um subtexto importante e sério, que é a aceitação do próprio corpo e, em última análise, de quem você.

O segundo episódio da 2ª temporada acelera a narrativa e, sem perder tempo, já integra Billy de volta ao seu grupo no mesmo movimento em que afasta Hughie. Erik Kripke mostra-se hábil na adaptação dos quadrinhos, fazendo grandes,  às vezes radicais, mas sempre ótimas alterações no material fonte, tornando sua série uma das raras que conseguem superar o original.

Melhor momento: A conversa de Profundo com suas guelras.

Over the Hill with the Swords of a Thousand Men
(Mil Homens Armados com Espadas)
2X03

Não existe nenhum cenário em que um episódio em que Billy e seu grupo abalroa uma baleia cachalote com uma lancha não seja uma obra-prima que precisa ser apreciada pela insanidade da coisa. Ver os Boys ensanguentados saindo de dentro da baleia moribunda – desculpem-me os protetores de animais, mas isso não tem preço! – foi um daqueles momentos em que você percebe muito claramente que a mensalidade do serviço de streaming é dinheiro bem gasto.

Sim, é o choque pelo choque e pela vontade de fazer mais, mas o “mais” de Hollywood tem sido muito sem graça e sequências surreais assim, com direito a Hughie completamente aturdido se recusando a sair de dentro da baleia e Profundo chorando por “Lucy” é o tipo de originalidade que estamos precisando para a oxigenação da máquina criativa. É o politicamente incorreto sendo elevado à décima potência para o divertimento raso de alguns minutos? Sim, sem dúvida é. Mas a série como um todo já oferece comentários sociais suficientes para ela se permitir extravagâncias como essa.

Aliás, se é comentário social que queremos, então basta ver a outra cena de ação, aquela protagonizada por Stormfront. Na crítica do primeiro episódio, mencionei que a natureza desse personagem nos quadrinhos – que, só por curiosidade, é homem e não faz parte d’Os Sete – era mais clara e que o episódio introdutório da temporada e o seguinte fizeram um ótimo trabalho para mascarar isso. O caso é que Stormfront é um nazista nas HQs. Mas nazista mesmo, vindo da Alemanha Nazista, algo que é convertido em algo muito mais sutil e insidioso para a série. Afinal, vemos na Stormfront que se junta aos Sete uma personalidade expansiva, que fala o que acha que tem que falar e que age de maneira independente, chegando até mesmo a ganhar a admiração de Annie. No entanto, por trás dessa qualidades, ela esconde seu racismo, algo que a perseguição ao irmão de Kimiko revela da maneira mais terrível possível. Basta reparar no olhar da personagem quando ela invade apartamentos e nota uma família afro-descendente ali, com a consequente eliminação de todos sem dó nem piedade. É uma rasteira muito bem dada pelo roteiro de Craig Rosenberg que imediatamente a coloca em pé de igualdade com o Capitão Pátria.

Falando nele, sua ausência dos Sete precisa de comentários, já que abre toda uma trama paralela sobre Becca, esposa de Billy e Ryan, filho dela com o Capitão Pátria que descobrira sobre isso não muito antes de revelar tudo a Billy. Sua presença no complexo onde Becca e Ryan vivem é de arrepiar os cabelos da nuca, com Antony Starr novamente revelando um vilania impressionante. A forma como ele se impõe em relação à Becca, o que ele faz para despertar os poderes no garoto é de uma malignidade impressionante que eu realmente não esperava ver na série mesmo já tendo lido os quadrinhos (até porque essa maldade é mais acentuada na série, diria). Realmente não sei o que esperar dessa subtrama e, mais ainda, do pareamento dele com Stormfront daqui em diante.

A 2ª temporada de The Boys não veio para brincar e, entre cabeças explodindo, baleias sendo alvejadas por lanchas e nazista aniquilando famílias negras e latinas, as portas estão escancaradas para absolutamente qualquer coisa. Dá até receio de gostar demais do caminho que a série está seguindo…

Melhor Momento: Ahab versus Moby Dick ou, melhor dizendo, Billy contra a coitada da cachalote.

The Boys – 2X01 a 03: The Big Ride / Proper Preparation and Planning / Over the Hill with the Swords of a Thousand Men (EUA, 04 de setembro de 2020)
Showrunner: Eric Kripke
Direção: Phil Sgriccia (2X01), Liz Friedlander (2X02), Steve Boyum (2X03)
Roteiro: Eric Kripke (2X01), Rebecca Sonnenshine (2X02), Craig Rosenberg (2X03) (baseado em criação de Garth Ennis e Darick Robertson)
Elenco:
The Boys: Karl Urban, Jack Quaid, Laz Alonso, Tomer Capon, Karen Fukuhara
The Seven: Antony Starr, Erin Moriarty, Dominique McElligott, Jessie Usher, Chace Crawford, Nathan Mitchell, Aya Cash
CIA: Jennifer Esposito, Laila Robins
Vought: Colby Minifie, Giancarlo Esposito
Outros: Shantel VanSanten, Cameron Cravetti, Nicola Correia-Damude, Patton Oswalt, Langston Kerman, Jessica Hecht, David Thompson, Chris Mark, Abraham Lim
Duração: 62 min. (2X01), 59 min. (2X02), 59 min. (2X03)

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