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Crítica | The Boys – 2X08: What I Know

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas da 1ª temporada e demais episódios e, aqui, de todos os quadrinhos.

Se existe um sentimento geral de desconfiança em relação a corporações, a mensagem final do encerramento de The Boys é ainda mais potente: não confie naqueles que nos representam. Não é nenhuma novidade desde que o mundo é mundo, claro, mas é sempre bom lembrar. A revelação de que a “explodidora de cabeças” é a senadora Victoria Neuman (Claudia Doumit), secretamente uma super e não Cindy, esta aparentemente usada apenas como uma forma de despistar o espectador, abre novas possibilidades para a vindoura 3ª temporada, especialmente considerando que Hughie, agora, tentará um “trabalho honesto” com ela e que Neuman provavelmente é marionete da Vought, mais precisamente do impiedoso – para usar o adjetivo de Billy – Stan Edgar.

Para quem leu os quadrinhos, apesar de esse final específico não se conectar diretamente com nada do que Garth Ennis escreveu, em linhas gerais ele estabelece a relação promíscua entre política e o empresariado que é sim a base narrativa das HQs, com o vice-presidente lá sendo a versão sem poderes e completamente idiota de Neuman. Além disso, quer parecer que, pelo menos em relação aos Rapazes, agora não mais procurados e com sua ação sancionada – ainda que por debaixo dos panos como um black ops – pela CIA marca exatamente a forma como é dado o pontapé inicial nos quadrinhos, com tudo o que aconteceu até agora funcionando como um longo prelúdio. Só espero que isso não signifique que o plano é manter The Boys no ar indefinidamente (medo do spin-off anunciado…), sem uma estrutura rígida de começo, meio e fim. Mas só o tempo dirá.

Em termos narrativos, o episódio põe alguns pontos finais (ou pelo menos um ponto final pelo momento) a arcos específicos. Becca é morta pelo próprio filho quando este tenta salvá-la de Tempesta que, no processo, tem seus membros decepados e o restante do corpo horrivelmente queimado depois que seu passado – e presente – nazista é finalmente revelado ao mundo com a ajuda de Trem Bala, os arquivos da Igreja da Coletividade e Annie. Billy finalmente faz uma coisa verdadeiramente boa e altruísta ao voltar atrás no acordo cretino que havia feito com Stan Edgar para entregar Ryan à Vought, acabando do lado de Becca e do garoto apesar de todos os pesares, mesmo que, no final das contas, ele o tenha deixado sob os cuidados da Coronel Mallory. Rainha Maeve, Starlight e Fêmea têm seu ótimo momento girl power contra a nazista, com as duas primeiras mostrando-se muito unidas e abertamente anti-Vought e anti-Capitão Pátria, mas ainda fazendo parte da máquina super-heroica para seguir o ditado que diz que se deve manter os amigos próximos e os inimigos mais próximos ainda. Além disso, quer parecer que a Igreja chegou a seu fim com Alastair explodido, mas não descartaria seu renascimento com Profundo como líder. Com isso tudo, a dinâmica da próxima temporada promete ser completamente alterada, o que pode ter grande potencial especialmente se Eric Kripke posicionar os Rapazes como efetivas ameaças à Vought e não apenas jogadores em um jogo de cartas marcadas e final conhecido.

Apesar de isso não pesar em minha avaliação – afinal, é uma escolha legítima do showrunner – diria que a retirada de Tempesta do jogo (partindo da premissa que ela não é Wolverine e, portanto, não tem fator de cura para voltar saltitante para criar um Quarto Reich) em tão pouco tempo é um enorme desperdício. Sim ela merecia e merece sofrer o pior possível, mas a luta dela contra as mulheres super-poderosas talvez fosse o suficiente pelo momento, já que poderia ser ainda melhor vê-la enfrentar a reprovação popular com a revelação de seu passado, inclusive com a criação de uma facção super-poderosa que a apoiasse, o que colocaria os Sete e os Rapazes contra ela. Mas tudo bem. É sempre bom ver nazista virar churrasco, ainda que eu tivesse gostado mais se a efetiva cena de Ryan usando seu poder fosse mostrada em detalhes, especialmente depois que Tempesta tenta treiná-lo incitando ódio e fazendo a raça branca de vítima com o “genocídio branco” que ela cospe para surpresa até mesmo do Capitão Pátria.

No entanto, o episódio não é apenas seu final. Toda a primeira metade é lenta. Muito lenta. E, ainda por cima, cheia de blá, blá, blá vazio entre Hughie e Starlight que não leva a lugar nenhum a não ser ocupar minutagem de um capítulo que talvez devesse ter sido mais curto e dinâmico, com mais foco na ação, desdobrando em mais detalhes o plano de Billy, inclusive usando MM, Francês e Hughie como algo mais do que apenas figurantes no momento climático. Sim, tenho plena consciência de que eles não aguentariam dois segundos diante de Tempesta ou Capitão Pátria (algo que, espero, mude na próxima temporada, com o possível uso do Composto V por eles), mas não é isso que eu queria ver. Apenas creio que os Rapazes (Billy é a exceção, claro) ficaram em terceiro ou quarto plano na estrutura do episódio, com suas participações reduzidas a quase nada, algo que trai até mesmo o que vinha sendo mostrado até agora, especialmente no exemplar Nothing Like It in the World.

What I Know encerra bem – não maravilhosamente bem – a temporada e aponta para um recomeço da série em seu próximo ano. Os Sete enfraquecidos, os Rapazes fortalecidos, ainda que separados, e a Vought mostrando-se muito mais ardilosa do que parecia, com laços profundos na política, são os ingredientes perfeitos para um apetitoso festival de atrocidades. Basta que Eric Kripke continue trilhando seu caminho, mas sem perder de vista um final programado para evitar prolongamentos que venham esvaziar o que ele conseguiu até agora.

P.s.: A cena final do Capitão Pátria no topo do prédio como um Batman pervertido foi doentia, mas sensacional exatamente por isso.

The Boys – 2X08: What I Know (EUA, 09 de outubro de 2020)
Showrunner: Eric Kripke
Direção: Alex Graves
Roteiro: Rebecca Sonnenshine (baseado em criação de Garth Ennis e Darick Robertson)
Elenco:
– The Boys: Karl Urban, Jack Quaid, Laz Alonso, Tomer Capon, Karen Fukuhara
– The Seven: Antony Starr, Erin Moriarty, Dominique McElligott, Jessie Usher, Chace Crawford, Nathan Mitchell, Aya Cash
– CIA: Laila Robins
– Vought: Colby Minifie, Giancarlo Esposito
– Outros: Shantel VanSanten, Cameron Cravetti, Nicola Correia-Damude, Langston Kerman, Jessica Hecht, David Thompson, Jessica Hecht, Dan Darin-Zanco, Ann Cusack, Claudia Doumit, Goran Visnjic, P.J. Byrne, Katy Breier
Duração: 67 min.

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