Home TVEpisódio Crítica | The Boys – 3X04: Glorious Five Year Plan

Crítica | The Boys – 3X04: Glorious Five Year Plan

Quando vibradores temáticos e um hamster voador fazem todo sentido.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todos os quadrinhos.

Red Dawn, motherfucker. Rocky IV, motherfucker.
– MM

Como mencionei na crítica da trinca de episódios que abriu a terceira temporada, The Boys amadureceu e, agora, parece estar em outro patamar narrativo que vai muito além da violência extrema, sexo pervertido e dos absurdos inomináveis em favor da paródia e da sátira que tanto ganham manchetes por aí. Retirem os elementos característicos da série e ela mesmo assim permanece de pé como um thriller de ação sobre a corrupção do poder e todas as piores consequências que normalmente decorrem daí. Em outras palavras, a camada que nos apresenta, dentre outros, ao sensacional massacre de um magnata russo e de seus guarda-costas com vibradores temáticos d’Os Sete ou ao hamster superpoderoso que atravessa a cabeça de um soldado – e que já merece um curta-metragem só dele, digo logo – é como a proverbial cereja em um bolo já muito saboroso, mas não uma cereja que pode ser descartada e sim uma que é também parte da maneira como a história é contada.

E o mais interessante é que não há nada gratuito na série (ok, não há quase nada gratuito, mas o que é gratuito, como foi a desminiaturização explosiva em Payback, é MUITO divertido, então compensa). Muito ao contrário, o termo “violência gratuita” é constantemente desafiado pelos roteiros da série sob comando de Eric Kripke. Peguem novamente o tal massacre com vibradores, cortesia de Kimiko, como exemplo. O uso da personagem superpoderosa por Billy Butcher (Karl Urban está cada vez mais sinistro em seu papel, não?) como uma mera máquina de matar sem sentimentos é asqueroso e o trauma que o morticínio causa nela é forte, o que estabelece, de imediato, um paralelo com justamente o arqui-inimigo de Butcher, Homelander, que faz exatamente a mesma coisa com todo mundo ao seu redor. Aliás, falando em paralelos, é sensacional como o roteiro de Meredith Glynn é cuidadosamente concebido de maneira a lidar com esse tema e com a dissolução prática dos grupos comandados por cada um desses líderes. Billy e Homelander são os dois lados da mesma moeda, com Billy aproximando-se ainda mais de sua contrapartida ao usar o V24, e a inevitável rota de colisão não leva mais ninguém em consideração, pois todos são meros instrumentos frios e descartáveis a serviço de psicopatas altamente inteligentes e controladores que têm objetivos muito claros em suas mentes corrompidas que são apenas em tese opostos.

Se a missão dos Rapazes na Rússia abre um Caixa de Pandora chamada Soldier Boy (aparentemente mantido em estase pelos russos como o Soldado Invernal), que fere Kimiko mortalmente com um poder que ele aparentemente não consegue controlar, e que pode ser a chave para a derrota de Homelander – ainda que isso esteja longe, especialmente diante da renovação da série para uma quarta temporada – em algum momento mais lá para a frente, as ações do “super-herói” mais poderoso da Terra é sensacionalmente insidiosa. Surfando na repercussão positiva de seu discurso que, descontextualizado, realmente o transforma em uma vítima, Homelander não demora em aproveitar as circunstâncias para restabelecer a liderança de seu grupo e, mais do que isso, finalmente puxar o tapete de Stan Edgar ao manipular Vic a trair seu pai adotivo em troca de – e isso consegue ser mais perturbador do que qualquer outra coisa, vide o que próprio Billy fala para Hughie sobre superpoderes – ter acesso ao Composto V para promover a transformação de sua filha.

Mas Edgar não vai embora de cabeça baixa, levando Giancarlo Esposito a mostrar todo o seu gabarito em encarnar vilões inesquecíveis. Se todos os elogios à atuação de Antony Starr são mais do que merecidos, é somente quando Esposito divide tela com ele em uma cena destruidora é que vemos que o nem ainda quarentão ator tem que comer muito feijão com arroz para chegar no nível de seu colega veterano, algo que reflete também em seus respectivos personagens. Edgar pode ter perdido a batalha, mas sua previsão de que Homelander sem controle é a receita para a sua própria derrocada é muito provavelmente verdadeira e será interessantíssimo acompanhar esse processo.

O jogo político de cadeiras dentro d’Os Sete é outro aspecto que merece destaque. De um lado, vemos os borra-botas Profundo e Trem Bala competindo para ver quem bajula mais o líder, o que leva os dois a literalmente brigarem e, claro, o inocente Alex, recém cooptado por Annie a ajudá-lo quando necessário como parte do plano ainda inexistente que envolve Maeve, Hughie e os Rapazes, a ser morto por Homelander. Aliás, morto não. Destroçado. O boy band, que eu achei que teria pelo menos uma função mais heroica antes de ser sumariamente morto, porque era óbvio que isso aconteceria, basicamente mereceu ganhar o cobiçado Prêmio Darwin, com essa violência – também longe de ser gratuita – servindo para colocar Annie definitivamente em seu lugar de submissão e horror.

Com Homelander, agora, no controle total da Vought, fica até difícil imaginar como a série continuará por muito mais tempo, mas o showrunner parece ter um plano muito bem concatenado para manter a história sempre interessante – e doentia, não podemos esquecer disso – e repleta de reviravoltas que permitam sua continuidade por algum tempo. Só espero que o sucesso não suba à cabeça da produtora, fazendo com que a série seja estendida indefinidamente, pois não tem Composto V que a faça ter força suficiente para funcionar sem um fim já bem definido no horizonte.

The Boys – 3X04: O Glorioso Plano de Cinco Anos (The Boys: Glorious Five Year Plan – EUA, 10 de junho de 2022)
Showrunner: Eric Kripke
Direção: Julian Holmes
Roteiro: Meredith Glynn
Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Laz Alonso, Tomer Capon, Karen Fukuhara, Antony Starr, Erin Moriarty, Dominique McElligott, Jessie Usher, Chace Crawford, Nathan Mitchell, Aya Cash, Colby Minifie, Giancarlo Esposito, Claudia Doumit, Jensen Ackles, Laila Robins, Cameron Crovetti, Katy Breier, Miles Gaston Villanueva, Laurie Holden
Duração: 61 min.

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