Home TVEpisódio Crítica | The Boys – 3X05: The Last Time to Look on This World of Lies

Crítica | The Boys – 3X05: The Last Time to Look on This World of Lies

A lenda viva e a lenda supostamente morta.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todos os quadrinhos.

With great power, comes the absolute certainty that you’ll turn into a right cunt.
– Butcher, Billy

The Boys é e provavelmente sempre será mais lembrada por ter violência e sexo em níveis hilariamente absurdos. Faz parte do jogo e, entre assassinatos com vibradores temáticos e abalroamento de baleia com lancha, isso é praticamente inevitável. Mas, como comentei longamente na crítica de Glorious Five Year Plan, a série vem amadurecendo a olhos vistos, deixando a paródia de lado e mergulhando intensamente no drama, com a violência e o sexo sendo muito mais o molho que realça o gosto do prato principal. The Last Time to Look on This World of Lies é mais um passo a frente nesse sentido e um baita passo a frente, acrescentaria.

É notável como, ao longo de seus 61 minutos, com direito a um divertido número musical no hospital protagonizado por Kimiko e Francês, tudo o que transcorre é um drama sério, que poderia acontecer em qualquer série ou filme, sem que o roteiro recorra às marcas registradas de The Boys. As únicas vezes em que vemos poderes sendo usados de maneira violenta ocorrem essencialmente sem exageros performáticos, duas delas com Soldier Boy e sua rajada peitoral descontrolada e a outra com Blue Hawk e sua super-força, e sempre com objetivos claros dentro da narrativa, evitando toda e qualquer gratuidade. Com isso, até consigo antever alguns reclamando da “falta de ação” ou algo nessa linha, mas, correndo o risco de parecer um daqueles críticos de nariz empinado e de cachecol enrolado no pescoço – e que eu sei que às vezes sou – ação cansa, especialmente a ação pela ação. O difícil é justamente não depender dela e o quinto episódio da temporada, graças ao roteiro bem construído de Ellie Monahan com a direção cuidadosa e sem firulas de Nelson Cragg, consegue por vezes até mesmo nos fazer esquecer que estamos vendo uma série que em tese poderia ser classificada como sendo de super-heróis.

Há o drama de um homem fora do tempo que tenta se reencontrar no mundo, mas que, para os Rapazes, ele não passa de uma arma a ser usada contra uma ameaça ainda maior; há o sexo catártico entre um homem e uma mulher muito diferentes que sabem que precisam fazer o mal para fazer o bem; há a mentira dividindo um casal que se ama; há um homem negro finalmente descobrindo que seu silêncio sobre a violência histórica sobre seu povo tem um preço alto e, claro, há a continuada manipulação do poder absoluto por um vilão que não tem limites para o que pode fazer. Essas poderiam muito facilmente – com algumas modificações aqui ou ali – ser linhas narrativas usadas em séries como Succession, Yellowstone, Peaky Blinders, Billions e outros marcos modernos da televisão só para citar algumas ainda em andamento. Há uma linguagem universal em The Boys e que vem ganhando particular relevo em sua terceira temporada, linguagem essa que se resume na frase de Billy Butcher que pincei para servir de citação de abertura e que, claro, é uma subversão da famosa frase que o Tio Ben diz a Peter Parker antes de morrer. O único “problema” nisso tudo é que The Boys nos faz ver que o que Butcher fala é a mais pura verdade, enquanto que a versão do Tio Ben não passa de conto de fadas, de uma história em quadrinhos, o que, como corolário, seria afirmar que, se o Superman realmente existisse, haveria muito mais chances de ele ser parecido com Homelander do que com Kal-El.

Mas chega de filosofar – ou não! – e vamos aos detalhes do episódio, começando pela introdução efetiva – e nos dias de hoje – de Soldier Boy, com Jensen Ackles vivendo uma versão do Capitão América que, como a Condessa Escarlate diz, era odiado por seus supergrupo, o que imediatamente o paraleliza com Homelander que, não muito antes, ouve basicamente o mesmo da Rainha Maeve. Essa conexão entre os dois personagens parece apontar para um conflito entre eles patrocinado por Billy Butcher e Hughie, este cada vez mais corrompido pelo poder proporcionado pelo V24. Simultaneamente, porém, fica a dúvida mais do que apenas razoável se a similaridade entre os dois não poderia levar a outros resultados, seja um team-up superpoderoso entre Soldier Boy e Homelander, o que seria devastador ou a mera substituição de um mal pelo outro, o que seria trocar seis por meia dúzia. Ackles não aponta nem para um lado, nem para o outro, com o roteiro fazendo de tudo para estabelecer a ambiguidade do “homem traído” e uma aparente aliança com os Rapazes. Veremos onde é que isso vai dar.

No lado de Homelander, é chover no molhado afirmar que Antony Starr continua a destroçar o cenário toda a vez que aparece. Tentem lembrar de algum personagem que consiga tão efetivamente exalar horror ao meramente proferir uma palavra, ao sorrir ou até mesmo ao virar o rosto em sua direção e falhem miseravelmente. Agora em controle absoluto da Vought, o mais poderoso homem da Terra tem, nas palmas de suas mãos, todos os instrumentos de dominação não-destrutiva que poderia querer – mesmo tendo que se preocupar com coisas “chatas” que ele não faz ideia o que são como EBITDA -, até o momento e é aí que mora o perigo, quando esse seu brinquedinho novo perder a graça e o psicopata partir para brincar de deus.

Apesar de tardia, gostei da adaptação da Lenda para o audiovisual, com Paul Reiser acertando em cheio em seu personagem meio-magnata de Hollywood, meio-cafetão da esquina (ou seja, duas metades da mesma coisa…), mesmo que essa versão para um personagem que deveria ser a fusão – e uma homenagem a – de Stan Lee com Jack Kirby seja bem diferente da dos quadrinhos. Acrescentou-se uma camada a mais no universo da série que, espero, ganhe mais abordagem em futuro próximo, talvez até mesmo já no episódio seguinte, o tão esperado Herogasm (aliás, será que foi para lá que Maeve foi mandada?).

E, finalmente, tivemos o que espero que seja o efetivo despertar do A-Train para a realidade da comunidade que deveria representar de verdade e não apenas usar como jogada de marketing. Apesar de consideravelmente mais didática do que deveria ter sido, toda a sequência envolvendo Blue Hawk (Nick Wechsler), que quebrou um pouco a narrativa principal, conseguiu lidar com eficiência com essa linha narrativa subsidiária do velocista que não mais pode correr d’Os Sete. Avizinha-se, agora, um encontro de contas que eu espero que tenha a dupla função de lidar de maneira coesa com a questão do racismo e da violência policial, assim como ter seu uso bem amarrado com o arco do personagem e da Vought e Homelander.

Já são cinco episódios e cinco grandes acertos de Erik Kripke, um mais maduro e complexo do que o outro. The Last Time to Look on This World of Lies vem para ser, provavelmente, a prova final de que a série não precisa depender de momentos ultrajantes de sanguinolência total e de depravação absoluta para funcionar, mesmo que o ansiosamente aguardado sexto episódio tenda a nadar exatamente na direção oposta. No entanto, a Lenda certamente já diria que, com grande qualidade, vem a possibilidade de se fazer tudo e qualquer coisa que der na telha funcionar como mágica. E desconfio que Kripke acertará novamente.

The Boys – 3X05: A Última Oportunidade para Olhar Este Mundo de Mentiras (The Boys – 3X05: The Last Time to Look on This World of Lies – EUA, 17 de junho de 2022)
Showrunner: Eric Kripke
Direção: Nelson Cragg
Roteiro: Ellie Monahan
Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Laz Alonso, Tomer Capon, Karen Fukuhara, Antony Starr, Erin Moriarty, Dominique McElligott, Jessie Usher, Chace Crawford, Nathan Mitchell, Colby Minifie, Claudia Doumit, Jensen Ackles, Laila Robins, Cameron Crovetti, Katy Breier, Miles Gaston Villanueva, Katia Winter, Laurie Holden, Nick Wechsler, Paul Reiser
Duração: 61 min.

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