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Crítica | The Boys: Deeper and Deeper

Profundo mergulha em seu vitimismo.

por Ritter Fan
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  • spoilers de The Boys. Leiam, aqui, as críticas de todo o material da franquia.

Depois de Profundo abusar sexualmente de uma ainda inocente Starlight, forçando-a a fazer sexo oral nele, a Vought, para evitar um escândalo maior – e apenas porque isso seria ruim para a imagem da empresa, claro, – afasta o suposto herói d’Os Sete, enviando-o para Sandusky, Ohio, para ser um herói de “cidade pequena”. Lutando para se adaptar, ele acaba preso e sai em condicional graças à ajuda de Arqueiro Águia, que o apresenta à Carol, da Igreja da Coletividade comandada pelo todo-poderoso Allistair Adana, que promete trabalhar para reconstruir sua imagem de forma a fazê-lo voltar ao supergrupo, o que inclui casá-lo com Cassandra Schwartz, também devota da igreja. Não demora e, principalmente em razão do não cumprimento da principal promessa, Profundo se volta contra a Igreja, passando a vocalmente atacá-la por manipulação psicológica.

Esse é o brevíssimo resumo do que acontece com o Aquaman fajuto de The Boys, nas duas primeiras temporadas da série do Amazon Prime Video. Ao longo dos quatro primeiros episódios da terceira temporada, Profundo continua em sua jornada de franca reconstrução de sua vida, com Cassandra basicamente controlando tudo o que ele faz e diz e com o lançamento de uma autobiografia, Deeper, que o leva a ser entrevistado na televisão e que ganha uma adaptação audiovisual televisiva por um dos canais da própria Vought. Deeper and Deeper é um audiodrama produzido pela Audible (empresa da Amazon) como se fosse um podcast de entrevistas com Profundo (Chace Crawford) e Cassandra (Katy Breier) por Hailey Miller (Leigh Bush), com apoio da Vought Fresh Farms, como parte da divulgação do livro que (infelizmente) não existe em nosso mundo, em uma bem bolada maneira de se expandir metalinguisticamente a linha narrativa envolvendo o perturbado personagem que é obrigado a comer Timothy vivo por Homelander em uma das melhores cenas de toda a série até agora.

A entrevista se passa em algum momento antes de Profundo retornar oficialmente a’Os Sete, com toda a atmosfera clásssica de um podcast periódico – aqui o fictício Voices, da Voughtify – em que Profundo fala sobre diversos aspectos de sua vida, como por exemplo a primeira vez que descobriu sobre seus poderes de se comunicar com a vida marinha, como ele sofreu bullying na época da escola, sendo chamado de vários apelidos, incluindo Octopussy (genial!), sua amizade com Hot Wheels, um cadeirante de sua idade que, depois, ele passou a odiar e sua conexão com o baiacu Ícarus enquanto ele estava de tocaia em Galápagos aguardando a chegada de um navio cheio de contrabando, tudo isso com a intenção de transformar-se em uma vítima, um coitadinho oprimido pelas circunstâncias. Claro que Profundo sendo quem é, sua falsidade fica obviamente na superfície para quem quiser ver e é isso que torna hilários diversos momentos da entrevista, como quando a razoavelmente inclemente Hailey o corrige sobre um autor que ele disse ter conhecido e feito amizade, mas que morrera antes de ele nascer, sobre citações que ele insiste serem dele, mas que a entrevistador afirma serem de filmes e toda a impressão – ou bem mais do que apenas uma impressão, obviamente – de que Deeper não foi escrito por ele, mas sim por um escritor fantasma.

Apesar de Cassandra ter alguns poucos momentos em que responde diretamente a Hailey, sua presença no podcast se dá com a mesma função que tem na série, ou seja, para manter Profundo sempre em uma direção, impedindo-lhe de falar (muita)besteira e, por vezes, discutindo com ele no ar, o que não é “cortado” da edição final, claro. Tudo parece muito natural, até mesmo os momentos “vergonha alheia” quando por exemplo Profundo tenta mostrar que conhece a obra de J.D. Salinger (ou, lógico, a única obra de Salinger que as pessoas que nunca leram Salinger conhecem), falando as maiores asneiras possíveis, ou quando ele tenta ser politicamente correto, mas, ao contrário, só conseguindo ser o que ele realmente é.

O roteiro é bem construído, os trabalhos de voz são muito convincentes, com Crawford hilariamente fazendo duas vozes, a normal de Profundo e a “grave”, com que Profundo lê passagens de seu livro, com “anúncios” de produtos da Vought interrompendo por duas vezes a entrevista e ampliando aquela sensação de mergulho na proposta. No entanto, o terço final do audiodrama (ou seja lá qual for o melhor nome para classificar esta obra) começa a focar na Igreja da Coletividade e os detalhes atrás dos desentendimentos de Profundo com Allistair e como ele “escapou” dali e tudo começa a ficar consideravelmente menos interessante e engraçado, com um número menor de oportunidades para o super-herói aquático derrapar em seus comentários machistas, misóginos e racistas, ainda que sua burrice e seu cinismo permaneçam à tona. Tenho consciência de que esse lado do audiodrama vem especificamente para preencher algumas lacunas que porventura não tenham sido mostradas na série, mas, como tudo, neste ponto, ganha um tom um pouco mais sério, ele acaba detraindo da experiência inicialmente muito bem construída como uma real parte desse mundo absurdo originalmente criado por Garth Ennis, mas brilhantemente traduzido para o audiovisual por Eric Kripke.

Deeper and Deeper é um divertido – e inesperado – adendo ao universo de The Boys que contribui na imersão e no aproveitamento de tudo que a franquia tem a oferecer. Não é nem de longe essencial para a maior compreensão da série, mas é, sem dúvida alguma, uma inteligente forma de capitalizar em cima do sucesso sem depender unicamente de spin-offs audiovisuais. Tomara que mais material assim seja lançado!

The Boys: Deeper and Deeper (EUA, 09 de junho de 2022)
Direção: Chris Sacco
Roteiro: Matt Burns
Elenco: Chace Crawford, Katy Breier, Leigh Bush
Duração: 70 min.

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