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Crítica | O Diário de River Song – 2ª Temporada

por Luiz Santiago
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Equipe: River Song, 6º Doutor, 7º Doutor
Espaço: Nave espacial Saturnius, Terra alternativa, Corporação Golden Futures
Tempo: Futuro

Após o sucesso da Primeira Temporada de O Diário de River Song, era óbvio que a Big Finish renovaria a série para uma outra temporada, dando a oportunidade de a futura esposa do Doutor conhecer outras encarnações do Time Lord. E neste segundo ano, temos o e o Doutores em cena, numa aventura que começa em uma nave espacial, passa por uma Terra apocalíptica, por uma corporação que gerencia sonhos e termina em Londres, no século XVIII. E assim como na temporada anterior, temos aqui quatro episódios, a saber: The UnknownFive Twenty-NineWorld Enough and TimeThe Eye of the Storm.

No primeiro episódio, River Song está trabalhando como consultora na nave Saturnius (no tempo em que essa trama se passa, o conhecimento e experiência da Professora Song são amplamente conhecidos), que sai do planeta Terra para investigar o repentino aparecimento de um outro planeta da nossa Galáxia. Como diz a frase que faz a chamada para a aventura: “Uma anomalia planetária, uma impossibilidade científica, um mistério a ser resolvido“. A primeira coisa que chama a nossa atenção aqui é o conflito entre River e o 7º Doutor, contexto explorado numa medida cômica e muito inteligente. Em adição, o roteirista Guy Adams não tira de cena um único momento a ambientação macabra e claustrofóbica que a trama possui, tendo aí o bônus de um mistério planetário que nem o Doutor sabe exatamente do que se trata.

Antes de ouvir essa temporada, um colega comentou que se sentiu “um pouco incomodado” pelo fato de o paradoxo temporal ser novamente utilizado como parte da história. Ouvindo de maneira distanciada, é difícil não concordar com isso, afinal de contas, é a repetição de um recurso em uma história que deveria ser diferente. Mas quando o último episódio dessa temporada terminou eu passei e discordar da tal reclamação, porque não estamos de fato “repetindo a mesma dinâmica” utilizada com o 8º Doutor. Eu diria que aqui, inclusive, houve um refinamento na formulação do paradoxo. Por mim, se o tratamento para esse recurso seguir a boa toada que tivemos nesses quatro episódios, então que façam todas as outras sagas com River Song partirem de um paradoxo. Aliás, acho que isso combina com a personagem e que algo do tipo precisa acontecer; isso e/ou um artifício para apagar a memória do Doutor, já que ele não pode ter conhecimento dela antes de sua 10ª encarnação, mais precisamente, na Biblioteca…

plano critico diario de river son parte 1 segunda temporada

O segundo episódio, Five Twenty-Nine, já traz uma linha narrativa completamente diferente. Primeiro, porque não há nenhum Doutor em cena (o que é bom, pois deixa River agindo sozinha em pelo menos um episódio). Depois, porque após o ótimo cliffhanger do primeiro capítulo, era óbvio que River iria investigar as causas da destruição da Terra. O que ela encontra, porém, é curioso, bem curioso…

O roteiro mostra que Synthetics/Androides são muito comuns nesse espaço-tempo e a protagonista conhece a jovem Rachel, que acaba sendo uma figura importante para o andamento dessa história e também para River, constantemente intrigada com o que ouve e vê na ilha remota onde aporta com seu Manipulador de Vórtex… Notem que a ideia de isolamento também se faz presente aqui, mas essa impressão agora é de outra ordem, estando num espaço geográfico e num planeta em contagem regressiva para a destruição. Vale dizer que o tempo de “tomada de consciência” dos pais de Rachel demora mais do que deveria para acontecer (gerando alguns momentos bem chatinhos), mas no fim do episódio esse cisma desaparece e temos uma das cenas mais ternas e tristes de toda a temporada. A cena de despedida. Um final de cortar o coração.

plano critico diario de river song segunda temporada parte 2 ii

Quando chegamos em World Enough and Time (a Big Finish lançou primeiro, viu, Moffat?) parece que entramos em uma outra série. Eu até demorei um pouquinho para entender como essa trama se encaixava em toda a saga de destruição da Terra, monstros que se parecem com uma lula (chamados Speravore) e a própria consequência das ações de River e seus esposos nesse samba. No entanto, nada disso é levantado como uma premissa negativa. Pelo contrário. A presença do 6º Doutor é imensamente divertida; Colin Baker está, como sempre, glorioso no papel, e sua relação com River é absolutamente fascinante. A ideia de ter o Doutor “dono” de uma Corporação chamada Golden Futures, especialmente considerando o que essa Corporação faz, é outra coisa que nos deixa intrigados e o tempo inteiro buscando respostas — sem contar nas semelhanças e brincadeiras do roteirista James Goss com O Guia do Mochileiro das Galáxias, que serve como um chamariz por si só.

E então vem o Finale, com The Eye of the Storm. Aqui, temos um bom número de relações com a Nova Série, de The Time of AngelsThe Husbands of River Song. Claro, que não são revelações bombásticas, mas esses pequenos fatos, indicações, sugestões de lugares, nomes, encontros e desencontros são muito interessantes para o espectador que aprendeu a amar a confusão da linha do tempo de River Song, especialmente agora, com a expansão dada a ela pelo Universo Expandido. A história aqui elenca um momento historicamente real para a Inglaterra, o dia da Grande Tempestade de 7 de dezembro de 1703 (pesquisas recentes apontam que, possivelmente, foi um furacão categoria 2). Eu simplesmente adoro quando um roteiro da série se utiliza organicamente de algo histórico para relacionar com um acontecimento de ficção científica, escolha que, nesse caso, me pareceu muito bem pensada e foi muito bem executada pela direção.

Há apenas um problema nessa parte final da saga, que é que demora para que as lulas devoradoras apareçam e sejam, enfim, impedidas. Como consequência, a “dança dos Doutores” chega a um ponto em que impedem o andamento da história, gerando desnecessárias confusões. Do lado positivo, River ganha toda a atenção que merece e é a partir dela que as pontas se amarram e as coisas voltam ao normal, inclusive com ótimas explicações para o “pequeno tratamento de memória” dado aos Doutores. Mais intensa, mais cuidadosa na criação de um paradoxo e mais divertida de se ouvir (tirando uns bons minutos do quarto episódio), a segunda temporada de The Diary of River Song coloca essa fantástica personagem em contato com dois Doutores turrões e cheios de maneirismos. A cena final da protagonista com o 7º Doutor é um exemplo delicioso disso. Um grande encontro à beira da destruição…

The Diary of River Song: Series Two (Reino Unido, 25 de dezembro de 2016)
Direção: Ken Bentley
Roteiro: Guy Adams, John Dorney, James Goss
Elenco: Alex Kingston, Sylvester McCoy, Anna Maxwell-Martin, Gemma Saunders, Justin Avoth, Dan Starkey, Salome Haertel, Ann Bell, Robert Pugh, Aaron Neil, Colin Baker, Sara Powell, Sam Alexander, Barnaby Edwards, Alan Cox, Jessie Buckley, Paul Keating, Robert Hands
Duração: 53 a 75 min.

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