Home TVEpisódio Crítica | The Expanse – 6X05: Why We Fight

Crítica | The Expanse – 6X05: Why We Fight

Camina Drummer ao resgate.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers da série de TV, mas não dos livros (mantenham assim nos comentários, por favor). Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas.

Muito do que tenho a dizer sobre Why We Fight eu já disse quando teci meus comentários sobre Redoubt, pelo que já peço paciência, de antemão, por eventuais repetições, mas que são inevitáveis. Afinal, estamos diante de mais um episódio de The Expanse – o penúltimo da série toda – que é magnificamente bem escrito e atuado, mas que oferece incrementos narrativos substancialmente diminutos, de certa forma empurrando talvez coisa demais para Babylon’s Ashes, em apenas uma semana. O foco no lado humano do conflito é estupendo e o espaço dado a Camina Drummer é mais do que merecido, mas, no final das contas, o que temos, se espremermos tudo, é um episódio que apenas sinaliza que o próximo será o derradeiro, arrumando o tabuleiro para tanto, tabuleiro esse que sequer estava tão desarrumado assim.

Drummer, como disse, é o centro das atenções do episódio ao chegar a Ceres trazendo os mantimentos que ela roubou de Marco Inaros e tornar-se heroína dos Belters, de certa forma rivalizando com o líder da revolução e diretamente despertando o interesse de Avasarala. É natural e esperada a união das duas forças: Inners e Belters lutando contra Belters que, por sua vez, têm uma parcela considerável dos marcianos do seu lado, além do anel. Mas essa naturalidade funciona psicologicamente bem para uma Avasarala muito menos radical e estourada de temporadas passadas, algo que o episódio dá destaque e nos relembra, de forma a mostrar que a Secretária-Geral das Nações Unidas está mais do que preparada para entrar em um acordo sem precedentes e, diria ainda, pelo menos no que depender dela, de honrar sua parte em caso de vitória.

A dificuldade maior, portanto, está do lado de Drummer que, mesmo no fundo sabendo o que é necessário fazer para derrotar Inaros, ela com certeza não confabulou mental e seriamente sobre a alternativa de abraçar uma aliança com a Terra. Temos que lembrar que The Expanse, como um todo, muito mais do que o conflito entre Terra e Marte, e também muito além dos mistérios da protomolécula, é fundamentalmente sobre o conflito entre opressores e oprimidos, entre exploradores e explorados, e isso vem sendo cuidadosamente construído desde o primeiro episódio da série, literalmente fazendo parte de seu DNA. Drummer, ao longo de sua cada vez mais relevante participação na série, tornou-se, por razões pessoais, mas também não tão pessoais assim, a prototípica anti-Inaros, mas jamais pró-Inners ou mesmo pró-paz. Ela é uma Belter de coração, diria até muito mais do que Naomi que, ao longo de seu próprio progresso, chegou a um equilíbrio entre os dois lados e, de certa forma, encontrou conforto nisso.

E é por isso que Why We Fight funciona bem nesse lado. Há uma beleza irônica no desmantelamento final da família poliamorosa de Drummer, com o acidente de Josep e a dificuldade de se fazer crescer um outro braço, levando Michio a ficar com ele e deixar a Behemoth, contrastada com Naomi tendo um encontro com Drummer sob “falsos pretextos” que finalmente leva a, metaforicamente, abraçar uma outra família. O conflito interno de Drummer é bem trabalhado, e Cara Gee tem um bom espaço para trabalhar sua personagem, mas – e sempre tem um “mas” – esse é o tipo de trama que se beneficiaria de uma progressão mais lenta, mais protraída no tempo. Falo mesmo do tempo entre a chegada dela em Ceres até o encontro teatral com Avasarala no deque da estação e não a construção narrativa até a chegada dela ali. Era talvez necessário mergulhar mais no drama, ainda que seja admirável que, a essa altura do campeonato, Naren Shankar continue insistindo nesse tipo de abordagem personalíssima.

No entanto, o restante dos acontecimentos do episódio são… decepcionantes. A começar pelo momento Cemitério Maldito no preâmbulo com a jovem Cara revivendo seu irmão com a ajuda dos “cães estranhos”, passando pela descoberta, por Naomi, dos problemas causados pelo uso constante dos anéis e até mesmo a conversa de “auto-ajuda” de Bobbi com Amos, tudo é marretado didaticamente na narrativa, sem que sintamos a gravidade ou o drama do que ocorre. No caso de Cara, é difícil imaginar o que será desse “milagre” em Laconia para essa série aqui (não dá para ficar pensando que, talvez, um dia, alguém se digne a anunciar uma continuação), com apenas um episódio pela frente e que, no anterior, introduziu o Almirante Duarte aparentemente como um grande vilão e o personagem simplesmente não reaparece aqui nem para dizer um “oi”. A descoberta de Naomi sobre o anel não tem ressonância dramática alguma e mais parece uma preparação “safada” para permitir o encerramento da série no próximo episódio. E, finalmente, aquela conversa com Amos, por melhor que tenha sido a intenção de Daniel Abraham e Ty Franck, ninguém menos do que os autores da série de livros que deram origem à série e que eles assinam sob o nom de plume James S. A. Corey, pareceu deslocada e na fronteira desconfortável entre o expositivo óbvio ululante e o brega, algo que também acontece na conversa entre Inaros e Rosenfeld Guoliang, sua segunda-em-comando.

A escolha de se encolher a temporada final para seis episódios de duração normal mais uma vez mostra seus reflexos negativos aqui. Se o objetivo foi economizar dinheiro para permitir bons efeitos especiais, então a pegada mais humana para todos os personagens não tinha espaço, pois ela simplesmente precisava de mais tempo para marinar. Essa abordagem é fantástica, não se enganem, mas não assim, na base da correria louca para, paradoxalmente, não se chegar a lugar algum…

The Expanse – 6X05: Why We Fight (EUA – 07 de janeiro d 2022)
Showrunners:
 Naren Shankar (baseado em romances de James S. A. Corey, nom de plume de Daniel Abraham e Ty Franck)
Direção: Anya Adams
Roteiro: Daniel Abraham, Ty Franck
Elenco: Steven Strait, Dominique Tipper, Wes Chatham, Shohreh Aghdashloo, Cara Gee, Frankie Adams, Jasai Chase Owens, Keon Alexander, Frankie Faison, Michael Irby, Anna Hopkins, Brent Sexton, Sandrine Holt, Olunike Adeliyi, Sugith Varughese, Nadine Nicole, Jacob Mundell, José Zúñiga, Dylan Taylor, Emma Ho, Samer Salem, Kathleen Robertson
Duração: 45 min.

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