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Crítica | The Expanse – 6X06: Babylon’s Ashes

A história sem fim.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers da série de TV, mas não dos livros (mantenham assim nos comentários, por favor). Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas.

Independente do restante de minha crítica, quero começar logo afirmando que já estou com saudades da Rocinante, de sua tripulação, e de todo esse fascinante universo audiovisual adaptado da obra de James S. A. Corey. Há uma falta enorme de filmes e séries galgados no chamado hard sci-fi e The Expanse ocupou com louvor esse espaço por seis ótimos anos, mesmo que tenha acabado de maneira… incompleta, por assim dizer, o que, porém, não lhe retira os méritos.

Essa incompletude, aliás, eu já abordei em detalhes quando da crítica de Redoubt, mas sinto a necessidade de voltar ao assunto. A sexta temporada, encurtada para apenas seis episódios de duração comum (com exceção deste último) mostrou-se desde seu início preocupada com o que The Expanse sempre foi: um estudo de personagens. A determinação de Naren Shankar em focar na humanidade muito mais do que nos fogos de artifício tornou impossível que toda a história fosse fechada em Babylon’s Ashes. Nem se o episódio tivesse a duração de um longa-metragem isso seria resolvido, para dizer a verdade, e, muito sinceramente, não era mesmo esse o plano por mais que eu quisesse que fosse.

Portanto, existe uma “falha” estrutural na temporada final e, por consequência, na série inteira, falha essa que resolveu todo o conflito humano do lado de cá do anel alienígena e deixou todo o restante em aberto, inclusive com uma discreta “cena pós-crédito” em que o tradicional anel que vemos atrás dos créditos mudar a cor para vermelho, indicando que os seres que não conhecemos “acordaram”. Caberá a cada espectador decidir se está ou não satisfeito com o final sem final. No meu caso, vendo que foi uma escolha deliberada da produção que, vale dizer, sempre privilegiou o conflito entre Innes e Belters como foco narrativo, deixando a protomolécula e tudo o que deriva dela para segundo, talvez até terceiro plano, minha tendência é abrir um sorriso para o que foi feito, pois eu entendo isso como uma jogada para eventualmente esse universo retornar de alguma forma.

Mas que fique bem claro que eu não abriria esse sorriso se a resolução do conflito bélico em Babylon’s Ashes fosse decepcionante. Seria demais para o meu coração. Portanto, é com bastante felicidade que constato que o roteiro que Daniel Abraham e Ty Franck (os autores da série de livros que assinam com o pseudônimo James S. A. Corey) escreveram juntamente com o próprio showrunner leva à série a um excelente, quase irretocável final nesse lado da história. Mesmo começando lá em Laconia, com o garoto ressuscitado fugindo com a irmã pela floresta e um misterioso Almirante Duarte sorridente, quando a história principal começa, ela já começa em um ritmo vertiginoso que não arrefece em momento algum, nem mesmo no dénouement com James Holden e Camina Drummer dando uma rasteira bem dada em Avasarala e seu projeto de entidade independente para regular o tráfego pelo anel.

São dois os principais momentos de ação que abrem espaço para Drummer e sua frota de um lado e para a Rocinante e sua equipe alargada de outro, em missões completamente diferente. Na primeira, vemos o ataque frontal e direto empreendido por Drummer contra a frota da Marinha Livre tendo a Pella de Marco Inaros como alvo principal. O engodo criado pelo revolucionário-terrorista é completamente esperado, mas mesmo assim sensacional, com o momento em que ele, como um Transformer, se revela depois de ficar disfarçado como um cargueiro funcionando muito bem visualmente e causando danos de monta em seus atacantes, mas, no final, sendo magnificamente abalroado por um kamikaze que heroicamente toma o lugar de Drummer.

Toda essa sequência é, como de costume, muito rápida, mas a direção de Breck Eisner torna tudo perfeitamente compreensível, o que inclui a ajuda visual do holograma de Avasarala. Além disso, a intercalação de tomadas internas e externas cumprem o papel de criar tensão em todos os lados do combate, seja na ponte em que a própria presença da Secretária-Geral é colocada em xeque por um dos soldados, seja com o cockpit de Drummer esburacado, seja com a surpreendentemente tocante morte de Rosenfeld perante Filip, que serve como a proverbial gota d’água que faz com que ele abandone a Pella antes de sua obliteração e, poeticamente, mude seu sobrenome para Nagata.

Mas a verdadeiramente grande sequência de ação, como não poderia deixar de ser, lógico, envolve a Rocinante e sua tripulação, em uma aproximação impressionante ao anel e à estação Medina, que conta com centenas de contêineres sendo arremessados para tornar o trabalho dos canhões inimigos bem mais difícil do que o normal, a Rocinante tentando se manter fora da mira, com papeis bem definidos lá dentro, inclusive e especialmente o de Peaches, e uma batalha campal de infantaria liderada por Amos e Bobbie. Se eu quisesse ser chato – e eu quero – reclamaria da aparência de videogame do combate no lado externo da estação, o que contou até mesmo com sequências em primeira pessoa, com o clássico H.U.D. dos capacetes marcando os alvos (só faltou a barra de “vida”). Muito sinceramente, foi um pouco aquém do que eu esperaria para uma temporada que reduziu o número de episódios justamente para dedicar o orçamento ao CGI extra que seria necessário, de certa forma revelando que o sacrifício foi em vão.

Por outro lado, é inegável que Eisner conseguiu construir sequências tensas, com um certo grau de ambiguidade para deixar dúvidas sobre quem vive e quem morre na cabeça do espectador, sem esquecer, claro, de momentos de heroísmo clássico, especialmente o ataque suicida de Bobbie, seguindo do salvamento de último segundo – e tomando tiro nas costas! – por Amos. Devo dizer que esses dois juntos valem por um pequeno exército e a direção de Eisner deixou isso muito claro.

Quando a ação acaba, o que resta é uma arrumação de tabuleiro para realmente encerrar o conflito, algo que Avasarala diz com todas as letras que só realmente acaba em uma reunião como a que acontece entre os representantes da Terra, Marte e do cinturão de asteroides. O reconhecimento, por Holden, de que a causa de Marco Inaros tinha mérito, ainda que os métodos tenham sido equivocados, é uma excelente forma de contrastar a raiva que Inaros demonstrou sentir pela Rocinante e a solução encontrada na mesa, deixando Holden como presidente da tal entidade independente para regular o tráfego pelo anel, era a única possível, isso se ele, com Drummer, já não estivesse tramando um golpe benigno para colocar a parte mais fraca da negociação e da relação histórica tripartite controlando tudo de forma a criar um verdadeiro laço de confiança. É possível que não dê certo a médio e longo prazo, mas, como Naomi muito sabiamente diz a Holden, ele agiu de acordo com sua consciência, esperando que os demais façam o mesmo.

E, com isso, basicamente deixando uma enorme parte da história sem desenvolvimento ou resposta, The Expanse se despede. Um feito inédito até onde minha memória vai, especialmente porque não consegui ficar triste em não ver resolução para tudo. Muito ao contrário até, senti alívio pelo showrunner ter se dedicado a lidar bem com o que foi o coração da série desde seu início e resolvido isso a contento, sem fazer o pior que ele poderia fazer com a minutagem que tinha, ou seja, dar meias soluções para tudo. Fica agora a torcida que The Expanse retorne às telinhas de alguma maneira, seja como uma continuação direta, uma minissérie ou até mesmo um ou mais telefilmes. Acho que toparia até mesmo uma animação só para poder ver toda a história ser encerrada…

The Expanse – 6X06: Babylon’s Ashes (EUA – 14 de janeiro de 2022)
Showrunners:
 Naren Shankar (baseado em romances de James S. A. Corey, nom de plume de Daniel Abraham e Ty Franck)
Direção: Breck Eisner
Roteiro: Daniel Abraham, Ty Franck, Naren Shankar
Elenco: Steven Strait, Dominique Tipper, Wes Chatham, Shohreh Aghdashloo, Cara Gee, Frankie Adams, Jasai Chase Owens, Keon Alexander, Frankie Faison, Michael Irby, Anna Hopkins, Brent Sexton, Sandrine Holt, Olunike Adeliyi, Sugith Varughese, Nadine Nicole, Jacob Mundell, José Zúñiga, Dylan Taylor, Emma Ho, Samer Salem, Kathleen Robertson
Duração: 63 min.

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