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Crítica | The Flash 2X15: King Shark

por Luiz Santiago
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estrelas 2

Obs: Há spoilers. Leiam as críticas dos demais episódios de The Flash, aqui.

Andou na prancha, cuidado o tubarão vai te pegar.

Tchakabum

Era uma vez, uma sexta-feira, fevereiro de 2015. Geoff Johns entrou no escritório da CW todo pimpão, com uma ideia genial na cabeça. Ele queria ter certeza de que aquela última reunião de preparação para a 2ª Temporada da série fosse, a seu modo, épica. Ele ia discutir como seriam as coisas durante o episódio de revelação de Zoom, o grande vilão que ele e seus amiguinhos Greg Berlanti e Andrew Kreisberg tinham concordado em colocar para este ano. Ele entrou na sala com 13 minutos de atraso e todos já estavam lá. Nem bom dia deu e já foi logo disparando, depois de colocar sua mochila reciclada em uma cadeira e seu copo com espresso macchiato na mesa:

__ Caras, eu tive uma ideia genial. Cês já viram Sharknado?

Apenas o estagiário que só tinha dormido duas horas e meia aquela noite, terminando um trabalho da faculdade, levantou a mão. Geoff deu um joinha para ele.

__ Então, é um filme onde tem várias situações inusitadas com tubarões. [John, o estagiário morto de sono, deu risada] Que tal a gente trazer o Tubarão-Rei de novo para o episódio 15, colocar o Grant todo meloso e afetado pelo que se passou na Terra-2 e pelo que se passou com Jay ao final de Escape From Earth-2 e ao mesmo tempo fazer ele lutar contra o Tubarão? Tipo Sharknado, só que com uma pegada mais Tubarão de Spielberg mesmo? Já temos um diretor?

__ Diretora. Hanelle M. Culpepper.

__ Ótimo! Ela dirigiu episódios de Grimm, então vai tirar isso de letra! Sem contar que ninguém teria dificuldades. Olha só a profundidade desse roteiro! Leram a revisão final? Aquela frase do Tubarão, como é mesmo?

O estagiário morto de sono e quase pescando tainhas na mesa de reunião percebeu que o chefe estava falando com ele. Procurou rápido na pasta dos roteiros da 2ª Temporada – Parte II e entregou um bloco de folhas clipadas para Geoff.

__ Deixa eu ver… aqui… não, esse não… aqui, achei! Olha só essa frase: “Você pode ser rápido, mas não tão rápido quanto eu sou na água. Você não vai me pegar, Flash!“. Gente, isso é poesia heroica pura! Homero sentiria orgulho. Olha essa, olha só: “Onde está o Flash? Eu sei que ele está aqui. Eu consigo sentir seu cheiro!“. Tá vendo? Podemos até pensar em dar um jeito de criar uma colônia com cheiro de Flash!

O estagiário que agora se sentia um peixe fora d’água, de repente riu internamente, pensando nas piadas que o pessoal faria com uma colônia com cheiro de Flash. “Usou, passou!” ou “Meu nome é ‘Cheiro de Flash’ e sou a colônia com o cheiro mais rápido do mundo“.

Greg Berlanti, que desde o finale da 1ª Temporada vinha tentando dar um ar mais sério ao programa, insistiu em mudar. Geoff sentou-se. Ele ficava irritado com o amigo. Desde que ele produziu aquela minissérie ‘Political Animals’, em 2012, ficou metido a besta, pensou. Greg começou:

__ Cara, toda a ideia é questionável. Não fez sentido colocar o Tubarão no episódio, fazer as pessoas rirem a produção pelo uso estranho de CGI e pra quê? Qual é o papel do Tubarão-Rei nesse episódio? Ele vai deflagrar o quê?

Geoff parou e pensou.

__ Nada, ué. Ele vai dar alguma coisa para o Flash fazer e no final é pego e preso. Só isso. Já vi que você não leu o roteiro. Você nunca lê os roteiros.

__ Pois é, Geoff! Cara, chega dessas coisas! E o pior é que dessa vez o vilão da semana não tem absolutamente nenhuma função verdadeira, nenhuma justificativa para existir nesse episódio! Não seria mais interessante nós fazermos um episódio inteiro com o retorno das atividades da equipe após a volta da Terra-2, trilhas novos caminhos para a cidade, acabar com a ladainha do “pesquisar nada” e por algum real programa em andamento, escrever pelo menos um bom episódio para Caitlin, dar a oportunidade do Grant interpretar algo bom e sem mimimi, já que ele tem se esforçado tanto pra fazer um bom trabalho no show… Poderíamos iniciar o drama de Cisco tentando imitar os poderes dele da Terra-2, levantar algumas questões morais, não deixar a ideia de manipulação do tempo se perder e aproveitar para cercar um pouco mais o Multiverso e definitivamente colocar Wally como alguém importante na vida dos West, já abrindo as portas para a revelação dos pod…

__ Pode parar!

Andrew Kreisberg, que um dia foi co-produtor de Fringe e agora tinha sido contaminado pela “Fórmula CW”, começou a falar.

__ Isso aqui não é Firefly, querido. Não é Life on Mars. Não é Doctor Who, nenhuma dessas boas séries de ficção científica que você quer se inspirar. Você já veio com graça em Legends of Tomorrow e eu te falei a mesma coisa. Nosso público-alvo não quer nada maduro e, só pra sua informação, John Diggle e Lyla Michaels vão aparecer no episódio. Não há quem resista a um fan service desnecessário dentro de uma trama com um vilão desnecessário que acaba tornando todo o plot desnecessário, mas a gente sabe como contornar isso bem. O Grant vai ter que chorar e fazer textão emotivo. Caitlin vai ficar estranha porque se permitiu amar e perdeu o amorzinho de novo. Cisco vai ser o Cisco só que sem nenhum brilho, para variar. Wells vai emular uma versão mais Estados Unidos de L, em Death Note e a filha dele vai ser um peso morto com uns dois gramas de simpatia. Junto a isso, vamos colocar Wally e Barry meio enciumados e Joe vai ser o cara legal que tenta deixar todos bem. Pelo menos ele a gente consegue desenvolver bem, não é? Iris vai ficar fazendo cara de “gente, o que eu to fazendo aqui, me ajuda, to fora de mim, quero voltar!” e a gente fecha essa primorosa e divina sequência de eventos com a revelação de Zoom, sem trabalho dramático interno nenhum. Assim, abruptamente e no maior anticlímax da série: ZOOM É… wait for it… JAY GARRICK!!!

O estagiário se sentiu um baiacu naquele momento. Pensou que fosse explodir de raiva. Na cabeça dele era impossível que um grupo de produtores estivessem discutindo sobre tornar a série, através de mais um episódio, uma pequena novela em que mais da metade do roteiro era marcado por uma luta sem sentido com dois ou três bons momentos e um final supostamente chocante mas sem respaldo dentro do próprio episódio, a não ser citações aqui e ali do nome do vilão. Ele sabia que o CGI só funcionaria parcialmente bem, que apenas a montagem teria uma boa participação durante toda a projeção e que a parte enciumada de Barry e Wally seria tão péssima que ele até pensou em sugerir que mais fan service inútil aparece ao invés de insistirem nessa descaracterização dos dois personagens. Mas ele pensou bem e não disse nada. Para sua sorte. No final daquele dia, ele foi demitido e resolveu dedicar-se exclusivamente aos seus estudos de Oceanografia e Biologia Marinha. Ele já tem um título para sua monografia: Onde estava o Aquaman? 

The Flash 2X15: King Shark  (EUA, 2016)
Direção: Hanelle M. Culpepper
Roteiro: Benjamin Raab, Deric A. Hughes
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Keiynan Lonsdale, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, David Ramsey, Audrey Marie Anderson, Violett Beane, Teddy Sears, Benjamin Arce, Haley Beauchamp, Spencer Graham, David Hayter
Duração: 42 min.

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