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Crítica | The Flash – 3X14: Attack on Central City

por Giba Hoffmann
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spoilers. Leiam as críticas dos demais episódios de The Flash, aqui.

Dando sequência à aventura em duas partes iniciada em Attack on Gorilla City, o episódio desta semana nos traz Grodd contra-atacando o Team Flash e toda Central City. Se o episódio anterior teve problemas visíveis em tirar proveito de sua premissa básica, a sequência só tem sucesso em manter a coerência do mini-arco, efetuando um desperdício igualmente estarrecedor de seu potencial narrativo. Uma tropa de gorilas gigantes e super-inteligentes, liderados por Grodd, pretende invadir a Terra-1. Existindo a possibilidade de arcar com a computação gráfica necessária para rendenizar os aterrorizantes símios, parece que o pior que poderia acontecer a partir dessa premissa seria uma aventura ao estilo “monstro da semana” – gorilas invadem, Team Flash utiliza-se de seus poderes, tecnologia e esperteza para derrotá-los, todos voltam felizes para seus outros significativos e protagonizam cenas de drama exagerado, fim. Ao final de Attack on Central City, me vi desejando que o episódio tivesse se prendido a este modelo, o que certamente não é um bom sinal.

O episódio se inicia com Barry (Grant Gustin) preparando um café da manhã super caprichado (são muitas panquecas para apenas duas pessoas) para Iris (Candice Patton). Ok, é o tipo de cena que se veria num quadrinho de super herói, embora aqui não adicione muita coisa. Aparentemente Barry está tentando se focar no presente ao invés de ficar o tempo todo preocupado com o futuro. Não seria um problema se um dos temas principais do episódio não fosse justamente o de que Barry chega a cogitar a opção de matar a fim de impedir o ataque dos gorilas e, indiretamente, o futuro no qual Iris é assassinada por Savitar. Nem o roteiro, nem a direção de Dermott Downs, nem a atuação de Grant Gustin contribuem para vender este sub-arco do personagem. Além de ser um tema bem batido, o dilema moral do super-herói entre matar ou não simplesmente não cai bem com o que está ocorrendo aqui e dá a impressão de ser um plot point “forçado”. Dadas as diversas oportunidades em que esta discussão poderia ter surgido com o devido peso dramático, com relação a Eobard Thawne e Hunter Zolomon, por exemplo, é risivelmente absurdo que Barry se veja tentado a matar o pobre Gorila Grodd, de todos os vilões possíveis. Apesar de Grodd ter colocado Joe em risco, ainda se trata de um animal que fora torturado pela mente distorcida de seu arqui-inimigo, e não é como se fosse a primeira vez em que a vida de Joe West tenha estado por um triz. A discussão com Iris também se dá meio fora de lugar e parece acontecer apenas para cumprir uma cota de drama para os personagens. Faria mais sentido se fossem os velocistas-mirins Kid Flash (Keiynan Lonsdale) e Jesse Quick (Violett Beane) cogitando recorrer à violência, com Barry no papel de compasso moral, falando com a voz da experiência e sugerindo buscar uma outra alternativa.

Falando neles, a dupla de velocistas iniciantes se vê envolvida em um arrastado subplot envolvendo a decisão de Jesse em ficar na Terra-1, restringindo a participação dos personagens aos já conhecidos e batidos dramas no qual um esconde algo do outro, passando tempo sentados com cara de preocupação ou tristeza pelos cantos do S.T.A.R. Labs. Se não fosse para mostrá-los aprendendo os “super-heroísmos” do lidar com o ataque iminente, seria mais interessante gastar esse tempo explorando, por exemplo, as reações de Joe (Jesse L. Martin) e Caitlin (Danielle Panabaker) ao retorno de Grodd, já que ambos foram anteriormente raptados pelo super-animal. Caitlin acaba sendo jogada de lado no episódio, assim como Julian (Tom Felton) que sequer dá as caras, após se envolver de forma direta com os eventos da primeira parte da história.

Por outro lado, Joe tem um episódio interessante, com Jesse L. Martin apresentando sua atuação sempre consistente do personagem em benefício de uma história que, no restante, acaba sendo bastante imemorável. A melhor cena do episódio, onde a carga dramática realmente ocorre de forma orgânica e não parece forçada de forma arbitrária é justamente quando Grodd domina Joe e ameaça atirar na própria cabeça. Uma bela cena para Joe e Barry, lembrando os melhores momentos de heroísmo da série. Cisco (Carlos Valdes) também tem uma participação interessante e um papel central a desempenhar na trama. Sua química com a Cigana (Jessica Camacho) continua a ser interessante e revigorante para o personagem (qualquer coisa é melhor do que o status de “eternamente magoado com Barry”). Porém, como o show nos “presenteia” com uma verdadeira overdose de relacionamentos amorosos, qualquer impacto possível do romance acaba meio que diluído no fluxo, perdendo boa parte de seu valor dramático.

Quanto ao plot geral do episódio, a impressão que se tem é de que a história não cumpre com o que o título e o set-up do episódio anterior nos prometem. O ataque de Grodd à Central City não é um ataque frontal e violento de um exército liderado por um vilão em busca de vingança, não se valendo em nenhum momento do fato de que, com a inadvertida ajuda de Barry, Grodd agora tem sob seu comando todo um exército de supergorilas. Na verdade, com exceção da (boa) resolução final do episódio, onde Cisco traz Solovar de volta para derrotar Grodd, todo o episódio poderia ter acontecido com o Grodd da primeira temporada. Seu plano de sequestrar e dominar um oficial militar para ter acesso ao armamento nuclear do exército é o tipo de coisa que o gorila solitário já faria desde o início da série.

Nenhum proveito é tirado do status de antagonista enquanto rei dos supergorilas, a não ser a ameaça do ataque que nunca chega de fato a acontecer. Melhor dizendo, que no final das contas acontece, no sentido de que vemos, por alguns minutos, uma multidão de gorilas marchando por uma rua deserta de Central City e os velocistas socando suas armas e escudos aleatoriamente enquanto Cisco não chega com a ajuda de Solovar. Porém parece se tratar mais de um cumprir protocolo, bem distante do que uma cidade sitiada pelas criaturas poderia ser.

Boa parte da dificuldade de Attack on Central City em fazer jus à sua premissa parece vir de uma inconsistência de tom e escolha equivocada de foco dramático. O que poderia ser uma boa história de ação com Barry ajudando seus novos sidekicks a lidar com uma grande invasão acaba sendo um misto de uma longa perseguição meio sem sentido aos gorilas (como assim eles não podem ser localizados de nenhum outro jeito a não ser com o poder do Cisco?), salpicada por cenas de drama que frequentemente parecem fora de lugar. Uma ocasião perfeita para uma história descontraída e de fortalecimento dos laços que unem o Team Flash é totalmente desperdiçada em favor de dramas adolescentes (o rompante de fúria de Jesse contra Harry (Tom Cavanagh) chega a ser hilário) e subplots preguiçosamente reciclados.

Talvez as cenas consecutivas em que H.R. Wells primeiro tenta (sem sucesso) um diálogo com sua contraparte da Terra-2, e depois decora o laboratório de velocidade com temática do “Dia dos Amigos”, o equivalente da Terra-19 do Valentine’s Day, seja representativa disso. Por que as pessoas da série tratam Wells assim tão mal? Se afinal de contas aceitaram ele como um deles, a recusa e o descaso com tudo o que ele faz parecem bastante exageradas, e acabam simbolizando uma insistência da série em se levar a sério demais o tempo todo, o que ironicamente tem como contraparte a superdramatização, que passa a ser o verdadeiro motivo de risadas. Por inusitado que seja dizer isso, talvez fosse hora do Team Flash tomar como exemplo H.R. e simplesmente se divertir um pouco, ao invés de agir o tempo todo como se carregassem o peso do mundo nas costas.

The Flash – 3X14: Attack on Central City (Estados Unidos, 28 de fevereiro de 2017)
Direção: Dermott Downs
Roteiro: Benjamin Raab, Deric A. Hughes, Todd Helbing
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Keiynan Lonsdale, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, Violett Beane, Jessica Camacho, Keith David, David Sobolov
Duração: 43 min.

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