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Crítica | The Flash – 3X17: Duet

por Giba Hoffmann
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spoilers. Leiam as críticas dos demais episódios de The Flash, aqui.

O produtor executivo Andrew Kreisberg afirmou recentemente em uma entrevista aquilo que todos provavelmente já julgavam óbvio: The Duet é aquilo que ele chama de episódio gimmick, um artifício pensado “de fora” do movimento geral da temporada, visando um resultado final e uma reação do público especificamente voltada ao truque em questão. O produtor afirmou ainda ter se inspirado nos trabalhos de Joss Whedon, em especial em Buffy, A Caça Vampiros, citando como inspiração episódios como Hush, no qual os protagonistas precisam enfrentar demônios após perder suas vozes; The Body, no qual os personagens lidam com o luto, em um episódio sem música e composto por menos de cinco cenas alongadas e Once More, With Feeling, icônico episódio musical no qual um demônio força os moradores de Sunnydale a cantarem seus segredos. Deixemos de lado a húbris de Kreisberg de, em meio a fraquíssima temporada atual de The Flash, se comparar com o Joss Whedon de Buffy. No caso de The Duet, diferentemente do que acontece nos exemplos citados, não se trata de apenas um gimmick, mas de três: um episódio musical, um crossover com Supergirl e uma pequena reunião de elenco de Glee, com os atores de Barry Allen (Grant Gustin) e Kara Zor-El (Melissa Benoist) reunindo-se ao ex-colega de atuação responsável pelo vilão Music Meister (Darren Criss). Será que episódio gimmick de The Flash diverte e contribui com a (longuíssima) temporada, ou será que Kreisberg falhou em recriar a faísca criativa por trás dos episódios de Buffy?

Vindo direto da animação Batman: The Brave and the Bold, o sem noção Music Meister deu as caras repentinamente na Terra-38 de Supergirl ao final de Star-Crossed, seguindo imediatamente para a Terra-1 de The Flash. Abatida pelo poder hipnótico do alien, Kara é trazida também à Terra-1 por Mon-El (Chris Wood) e J’onn (David Harewood). Enquanto tentam ajudar Kara, o Team Flash avista o vilão invadindo o S.T.A.R. Labs na maior cara de pau (como sempre, mas pelo menos esse tem o poder de se teleportar), sendo que a tentativa de Barry em pará-lo acaba em uma rápida derrota por hipnotismo. Com dois heróis acamados e um supervilão à solta e com os poderes de ambos Flash e Supergirl, acompanhamos Barry em um sonho absurdo onde ele se vê fazendo parte de um musical nos anos 30, onde ele e Kara não possuem poderes e trabalham para o mafioso Cutter Moran (John Barrowman). A cena em que Barry encontra Kara interpretando Moon River, canção eternizada por Audrey Hepburn, é particularmente divertida, com Kara demonstrando surpresa ao se ver cantando, mas sem parar de cantar, e Barry reagindo de forma incrédula.

Rapidamente os dois se vêem às voltas com uma trama a ser resolvida, missão que é encorajada por uma aparição do Music Meister, que diz que para escaparem eles necessitam “seguir o script”. Pelo menos neste episódio os produtores são sinceros ao admitir o real motivo pelo qual os personagens da série fazem o que fazem na maior parte do tempo. A trama se revela como bastante linear, sendo o ponto central o desaparecimento de Millie Foss, versão alternativa de Iris (Candice Patton) que por sua vez é filha de Digsy Foss, contraparte mafiosa de Joe West (Jesse L. Martin). O pessoal do clube de Cutter Moran, que inclui Cisco (Carlos Valdes), entoa uma animada versão de Put A Little Love In Your Heart, de Jackie DeShannon.

Com a conversa do Team Flash com os visitantes da Terra-38 girando mais em torno do status do relacionamento de Kara e Mon-El do que qualquer outra coisa, e posteriormente com Barry e Kara aproveitando um sequestro para se queixar dos fracassos de suas vidas amorosas (quem nunca?), vai ficando evidente que o desaparecimento de Millie tem ligação com a contraparte de Mon-El, e que a coisa toda vai se destinar a ser uma espécie de alegoria probatória para nossos heróis a respeito de suas vidas amorosas.

Após se chocarem ao encontrarem seus amores se pegando, Barry e Kara enfrentam a dor de cotovelo e tentam mediar a situação, que envolve um conflito em potencial de gângsteres, já que a contraparte de Mon-El, Tommy Moran, é filho de Cutter Moran, inimigo ferrenho do pai de Millie. Os heróis convencem rapidamente (“É assim que acontece em musicais!”, dizem eles) os dois a se revelarem aos pais e pedirem por sua compreensão. Após uma revelação na lata e sem rodeios de que nesta realidade Joe West Digsy Foss é casado com a contraparte musical do Prof. Martin Stein (Victor Garber) (que estranhamente não recebe um nome)  surge outro número musical fantástico, com Jesse L. Martin, Victor Garber e John Barrowman interpretando More I Cannot Wish You, de Paul McCartney. Sugestão do próprio Victor Garber, o número foi o que mais me agradou, não apenas pela ótima escolha da música mas também pela oportunidade de ver um dueto entre Garber e Martin, dois membros do cast que já provaram anteriormente no próprio universo da série seus dotes vocais, complementado pela interpretação extravagante e divertida de Barrowman.

Porém, tudo não passou de encenação, e tão logo a bela canção termina, os pais mafiosos já estão enchendo seus Rolls Royces de capangas prontos para descer chumbo na facção rival. Antes do confronto final, no entanto, temos a primeira das canções originais do episódio, Super Friends, composta por Rachel Bloom. Primeira canção onde Barry realmente participa, o número traz um ritmo e dança totalmente alinhado à estética do episódio, com letras divertidas que fazem piadas leves com os personagens. Trata-se de um número que abraça a proposta do episódio sem restrições, com uma letra e interpretação tão adoráveis que podem te fazer esquecer por alguns segundos o quanto estes simpáticos heróis são capazes de te fazer sofrer com suas desventuras novelescas. Mas além da divertida canção, me agradou bastante o momento de descontração nonsense, dentro de um episódio já bastante descontraído, certamente um remédio para o clima de enterro que perpassa a série nos últimos tempos.

Não apenas de bons números musicais vive o episódio! Em meio a toda a loucura que ocorre na dimensão onírica/hipnótica das mentes deturpadas de Flash e Supergirl, há tempo para uma rápida batalha contra o Music Meister (que vai roubar um banco ou sei lá o que), com um inesperado team-up entre Cisco e o Caçador de Marte. Provido dos poderes do velocista e da kryptoniana, o vilão parece apresentar uma grande ameaça, mas ao mesmo tempo seus motivos são vagos e seu comportamento errático o suficiente para que saibamos que não se trata de nada muito sério. Ironicamente, a cena nos presenteia com uma cena de ação muito competente, melhor do que muitas das cenas de ação que tem aparecido na série ultimamente. A derrota do vilão é inesperadamente rápida, mas é fruto de uma estratégia eficaz de combinação de poderes entre o Caçador de Marte e Cisco, e mostra que ainda é possível ter diversão com poderes na série, não havendo obrigação contratual que limite a ação aos raios de CG passeando freneticamente entre pessoas ou velocistas socando escudos, ao invés dos macacos que os seguram, por exemplo.

Se os musicais e a ação até aqui são ótimos, a resolução final da trama deixa um pouco a desejar. Desde o começo já nos foi deixado claro que a provação de Barry e Kara consistia em sobreviver até o final do filme. Baleados na luta dos gângsteres, ambos falham nesse requisito básico. Seus pares românticos é que vem ao resgate, e o poder do amor os liberta do divertido mundo do musical, de volta para o triste mundo real. O Music Meister revela que sua intenção era dar aos jovens uma lição (e uma trollada de graça no restante do Team Flash, que passou medo à toa). Kara aprende a perdoar as mentiras de Mon-El, aparentemente tendo aprendido com os personagens do musical a ter mudanças repentinas de humor por conta do script. Barry aprende que é legal noivar e desnoivar a cada episódio, e fica feliz em saber que apesar de já não ser mais o homem mais rápido do mundo, detém o recorde de noivados e desnoivados por episódio de qualquer obra da ficção já produzida, a última sequência de episódios destronando provavelmente alguma novela da Televisa.

O encerramento do episódio, é claro, consiste no pedido de casamento em forma da interpretação solo de Grant Gustin da segunda composição original da produção, a balada Running Home to You, composta pelos vencedores do Oscar Pasek and Paul, de La La Land. A canção certamente é uma bela composição, mas a interpretação de Gustin me deixou sem querer a imaginá-la com um intérprete mais adequado. O ator não tem me agradado com sua performance de modo geral, passando a impressão de não dar tudo de si no papel, algo que nas primeiras temporadas não me ocorria. Apesar de ser uma rendição sincera e cheia de emoção, fico com a estranha impressão de que ele está continuamente deprimido, e o desaparecimento abrupto da figura de Kara me fez perceber que muito do clima positivo do episódio se devia a sua presença. Talvez seja uma impressão por contaminação dos enredos forçados da série, que tem tido na segunda metade da atual temporada seu momento mais baixo. Mas infelizmente o número não parece fazer justiça à composição, assim como a própria armação da cena não o faz. O vai-não-vai transformou o noivado entre Barry e Iris num exercício de redundância dramática. Com um espaçamento maior ou um planejamento mais acurado dos momentos nos quais explorar o tema de forma mais direta, a coisa toda provavelmente funcionaria melhor. Do jeito que foi feito, no entanto, a segunda proposta de casamento vem como um acontecimento fraco e batido, um tema que em menos de cinco episódios foi exaurido pelos roteiristas e pela direção de forma a alienar mesmo a audiência de boa vontade.

Apesar dos problemas, o episódio tem sucesso em divertir e, principalmente, em introduzir um pouco de descontração e diversão descompromissada no mundo de The Flash, algo do qual a série necessitava urgentemente. A escolha por centrar o episódio nas recentes separações de casais dos protagonistas limitou um pouco o que poderia ser feito no episódio, mas já era esperado em se tratando da CW. A série tenta inovar e tem sucesso em vários pontos, o único detrimento do episódio sendo justamente explorar temas que foram excessivamente repetidos, o que diminui a carga dramática dos acontecimentos. Mesmo podendo e conseguindo inovar, a série recai em alguns vícios que fazem o episódio soar em partes como “mais do mesmo”, o que acaba enfraquecendo o que seria, de resto, uma excelente entrada para a história de The Flash.

The Flash – 3X18: Duet — Estados Unidos, 21 de março de 2017
Direção: Dermott Downs
Roteiro: Aaron Helbing, Todd Helbing, Greg Berlanti, Andrew Kreisberg
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Keiynan Lonsdale, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, Melissa Benoist, Victor Garber, John Barrowman, David Harewood, Jeremy Jordan, Darren Criss, Michelle Harrison
Duração: 43 min.

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