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Crítica | The Flash – 4X14: Subject 9

por Giba Hoffmann
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– Há spoilers. Leiam as críticas dos demais episódios de The Flash, aqui.

Se fossemos tentar eleger as principais dificuldades de The Flash, a construção de bons antagonistas e a realização eficiente dos momentos de drama interpessoal estariam certamente entre as mais fortes candidatas. Voltando do hiato após um surpreendente cliffhanger em torno do próximo passo do plano-mestre do Pensador, o episódio desta semana infelizmente mete os pés pelas mãos ao recair nessas duas conhecidas armadilhas da produção, resultando no que talvez acabe sendo o segundo pior episódio da temporada, ficando atrás apenas do tenebroso Girls Night OutNo entanto, mais preocupantemente do que a mais recente entrada na galeria de horrores absolutos do seriado, o episódio dessa semana não apenas não se trata de um filler como ainda avança a trama principal da temporada, oferecendo pistas não muito animadoras a respeito dos rumos que ela poderá tomar daqui em diante.

A série pode não ser conhecida por excelentes diálogos ou por uma direção lá muito inspirada, mas é notável a forma como, uma vez ausentes o humor descontraído e a inventividade dos roteiros super-heróicos debitários de um clima mais quadrinhesco, as insuficiências da produção acabem aparecendo de forma gritante. Subject 9 é notavelmente robótico em termos de roteiro, atuação e direção – um contraste bruto com o ar de diversão descontraída que permeou os melhores momentos desta temporada atual. Se tradicionalmente temos Candice Patton entregando as linhas de Iris com jeito de que nem mesmo ela suporta a sua própria personagem, nesse episódio praticamente ninguém se salva de entregas fracas, o que faz com que a coisa toda ganhe ares arrastados.

Logo no início somos lembrados do final decepcionante do episódio anterior, e do quanto ele exige uma suspensão de descrença gigantesca da parte do espectador. Acompanhamos o retorno de Barry (Grant Gustin) ao CCPD, apenas para encontrar uma recepção constrangedoramente fria por parte dos colegas, culminando com as notícias do Capitão Singh (Patrick Sabongui) de que o recém-inocentado oficial deve se afastar por tempo indefinido de suas atividades na polícia. Trata-se de uma consequência mais do que compreensível e interessante (Barry trabalhando com Dibny como uma dupla de detetives particulares? Sim, por favor!), mas que só faz parecer ainda mais tosca a resolução do julgamento do Flash, uma vez que, como bem diz Singh, em uma era em que meta-humanos com poderes completamente extraordinários é algo corriqueiro, é impensável anular um homicídio com base apenas numa aparição, sem haver a menor investigação pormenorizada do que está de fato ocorrendo. Pra piorar as coisas, tivemos a morte do oficial Wolfe em uma rebelião em que Barry estava envolvido, na mesma semana em que o homem que ele teoricamente assassinou surge vivo e fazendo apelo pela sua soltura. E ninguém propôs uma perícia sobre o cadáver de DeVoe ou sobre o homem que agora se declara como sendo ele. Pelamor, né?

A trama central do episódio traz a estreia da versão CW de um supervilão muito, muito antigo de The Flash – tão antigo que pré-data até mesmo Barry Allen. O Violinista dos quadrinhos surgiu em 1948, fazendo frente ao primeiro Flash, Jay Garrick – prodigioso instrumentalista por vezes usuário de um galhofeiro violino mágico o qual utilizava para cometer crimes ardilosos. Aqui somos apresentados a uma versão feminina e menos vilanesca do personagem, Izzy Bowin (Miranda MacDougall), uma cantora country engrenando a carreira pelos bares de Central City. A subtrama romântica com Ralph Dibny (Hartley Sawyer) pode ser sentida a quilômetros de distância, com sua menção insistente sobre detestar country music e subsequente reação à recém-descoberta meta-humana. Talvez neste caso a inserção até se justifique – ou então eu acabo dando uma colher de chá por conta da ótima interpretação do Dibny de Sawyer, uma ilha de coração em meio ao marasmo do episódio – mas é difícil descartar a impressão de que qualquer romance é um romance a mais do que o necessário em se tratando de uma produção da CW.

Após descobrirem a identidade do possível novo alvo de DeVoe (por enquanto, Sugar Lyn Beard), nossos heróis tentam interceptá-la antes que o vilão o faça. Com um absoluto descuido com suas identidades secretas, eles tentam uma primeira aproximação da geniosa cantora, apenas para levar um sonoro (ahn? ahn?) não. Numa segunda tentativa, nossos heróis acabam chegando ao mesmo tempo de DeVoe, que inexplicavelmente derrota o Flash, Vibro (Carlos Valdes) e Homem-Elástico com um aceno de mão (sério, que poder foi aquele? Foi a má sorte da Perigo ou ele tem algum tipo de telecinese?). Claro que escrever em torno da absoluta apelação que são os poderes do Flash é sempre difícil e uma crítica já bastante batida, mas o fato é que é totalmente infundado o quanto Barry não consegue reagir à aparição (já esperada!) de DeVoe com um mínimo de destreza. Nada explica o fato de que ele não tomou a iniciativa e partiu para enfrentar o vilão em um momento infinitesimal após sua aparição. Ele poderia tropeçar e arrebentar a boca no chão por conta dos poderes de má-sorte de DeVoe, que o fosse, mas um velocista ser pego tão facilmente de surpresa desse jeito é um roteirismo bem preguiçoso!

A coisa fica ainda pior com a fascinação da equipe pelo fato de que Bowin conseguiu danificar DeVoe com seu ataque sonoro. Todos agem inexplicavelmente como se tivessem descoberto algum ponto fraco muito secreto do vilão, quando o fato é que a violinista apenas agiu com o mínimo de compostura e se utilizou de sua habilidade enquanto os outros decidiram brincar de Os Três Patetas. Uma premissa forçosa que nos leva a algumas sequências de treinamento no S.T.A.R. Labs, com Barry pesando a mão com exigências sobre a novata, uma faísca de romance entre ela e Dibny e todo o clichê de drama interpessoal que possa surgir disso (bem pouco, na verdade). Como conceito, não se trata de uma má ideia, ainda que um tanto anêmica. Na execução, um arrastar de diálogos desinspirados e chamação de nomes que no final das contas não leva a nada minimamente interessante. Ao menos a cena de Flash correndo em círculos em torno da Violinista enquanto lança os alvos de cerâmica para ela quebrar com o violino é visualmente bacana, ainda que leve a uma reação um tanto boba por parte da moça e de toda a equipe.

No geral, a caracterização da Violinista acaba impressionando bem pouco, restrita a um desfile de clichês a respeito da jovem americana sulista que teve que se virar sozinha na vida e tudo mais. Embora possamos dizer que de maneira geral os meta-humanos do ônibus tenderam todos a serem estereótipos, o caso aqui parece mais marcado dada uma ausência mínima de caracterização da personagem para além de seu estilo interiorano energético (e com um sotaque que me parece meio fora – ainda que eu não entenda patavinas disso!). Seu sacrifício final não guarda impacto nenhum, provando a lei dos retornos decrescentes em tempo recorde ao tentar encerrar o episódio com exatamente a mesma coisa do episódio anterior, reciclada aqui em uma subtrama catatônica de romance com Dibny. Tivesse ela tido tempo de se desenvolver minimamente, talvez a coisa pudesse guardar algum peso – embora a produção tenha muita fé em sacrificar coadjuvantes como se isso por si só constiuisse uma história interessante.

Em paralelo temos uma subtrama em que Harry (Tom Cavanagh) tenta fazer amizade com Cecille (Danielle Nicolet), já que estão pagando salário para o sempre ótimo Cavanagh mas aparentemente não fazem ideia do que fazer com o cara, a qual acaba rendendo uma tentativa falha em parar DeVoe com tecnologia. É bom ver o desaparecido Wells aparecendo e Cecille ganhando ainda mais destaque, mas a coisa toda é bem pouco orgânica, e passa muito longe de salvar o episódio. De quebra, a coisa ainda rende um flashback e um aceno inútil para a 3ª temporada e as previsões soníferas de Savitar… Yay…

Se no todo temos uma produção abaixo da média, é do lado de nossa dupla vilanesca DeVoe e Marlize (Kim Engelbrecht) que os maiores pecados do episódio são cometidos. Tenho dificuldade em entender os rumos para os quais a produção pretende levar o vilão, uma vez que todo o lance de ladrão de corpos tem ofuscado sua característica principal de ser um planejador mestre (sem ligação com Doutor Octopus!). Mais do que combinar superpoderes diversos, a ameaça de DeVoe deveria ser sua capacidade de estar sempre a frente do Team Flash, o que significa uma inventividade e cuidado que os roteiros da série até conseguiram atingir por um tempo, mas que tem falhado nos últimos capítulos.

É interessante pensar que as ações do heróis são responsáveis pelos contratempos do plano mestre do Pensador – a intervenção de Dibny a favor de soltar Barry e deste em organizar a fuga da prisão (embora nesse caso provavelmente é Amunet quem atua mais como curinga do que o próprio Barry) – mas sem muito tempo destinado a explorar esses aspectos, temos o vilão nesta semana em uma posição bastante acuada com um corpo já sem suportar seus poderes coletados. Temos um histórico macabro em Heroes de investidas em vilões acumuladores de poderes que no final das contas redundam em ameaças risíveis, e se The Flash teve tanta precisão em replicar o outro vício da decepcionante série da NBC (o de se usar até a exaustão de profecias de acontecimentos futuros para conduzir temporadas inteiras), não duvidemos que seja possível que o mesmo aconteça com nosso primeiro grande vilão não-velocista.

Não apenas em relação aos seus poderes, mas também na caracterização de DeVoe temos um mal aproveitamento de sua recente posse do corpo de Rebecca Sharpe. Se o episódio passado prometia uma nova virada para o vilão e um aprofundamento dos constrangimentos entre ele e Marlize, agora vemos o potencial dessa primeira mudança desperdiçado em uma nova transformação. Embora o roteiro já tenha sinalizado que veremos DeVoe trocando de corpo futuramente por mais vezes, a brevidade da versão parece desperdiçar o que poderia ser um tempo melhor utilizado para conhecer facetas diversas do vilão, complexificando suas motivações para além da megalomania.

Por outro lado, é certo que Sugar Lyn Beard faz um péssimo trabalho em replicar os trejeitos de Neil Sandilands, ficando muito aquém da boa evolução interpretada por Kendrick Sampson. Sua entrega de linhas não soa minimamente convincente e, ao menos por esse lado, é bom que já estejamos partindo para uma nova versão do Pensador. Apenas fica a vontade de que as tramas percam menos tempo correndo em círculos e usem o tempo de tela para explorar melhor a interessante premissa e dinâmica interna da dupla de supervilões. E a esperança de que DeVoe tenha, no final de contas, uma bela cartada na manga (que não se reduza a querer roubar o corpo de Dibny e/ou Barry apenas para ser derrotado com o velocista correndo bem rápido em círculos em volta dele ou algo assim).

Com um roteiro arrastado que tenta atingir o dramático mas acaba não saindo da apatia somado aos desenvolvimentos menos do que empolgantes para a trama maior de DeVoe, que começa a dar sinais de cansaço e previsibilidade até então ausentes, Subject 9 não é um bom retorno para a boa 4ª temporada de The Flash. Frente às boas expectativas fundamentadas nos vários acertos consecutivos da série, trata-se de uma bela pisada em falso por parte da produção, que corre o risco de desperdiçar um build-up forte com um desfecho morno. Resta torcer para que os capítulos seguintes reencontrem o rumo da ameaça do Pensador, que permanece com potencial para desenvolvimentos interessantes.

The Flash – 4X14: Subject 9 — EUA, 27 de fevereiro de 2018
Direção: 
Ralph Hemecker
Roteiro: Mike Alber, Gabe Snyder
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, Hartley Sawyer, Danielle Nicolet, Kim Engelbrecht, Sugar Lyn Beard, Miranda MacDougall, Patrick Sabongui
Duração: 43 min

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