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Crítica | The Flash – 5X22: Legacy

por Giba Hoffmann
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– Há spoilers. Leiam as críticas dos demais episódios de The Flash, aqui.

Demorou, demorou, mas chegamos lá! Não foi sem grande surpresa que eu me peguei bastante envolvido e interessado nesse final de temporada de The Flash. A já tradicional “barriga narrativa” dessa 5ª temporada foi uma das piores de toda a série, desperdiçando pouco a pouco todo e qualquer momentum construído às duras penas no primeiro trecho do arco. Por incrível que pareça para um contexto desfavorável desses, um só episódio bem escrito e equilibrado conseguiu se safar de ser mais uma adição ao hall de finales decepcionantes da série — trata-se provavelmente de um dos melhores! Mas, convenhamos, a concorrência não é lá das mais acirradas…

O fato é que Legacy mostra, sobretudo, que não é tão difícil assim. Nos poupando de chover no molhado em evidenciar o quão impossível seria estender esse arco (ou qualquer trama seriada desenvolvida em um espaço de tempo tão curto) por mais de 20 episódios, nos concentremos nos fatores responsáveis por fazer desse capítulo uma legítima peça de 40 minutos (e não intermináveis 5 horas) de ação super-heroica velocista e — sim! — dramalhão televisivo sincero.

A atenção aos “detalhes” (que não eram pra ser tão “detalhes” assim) é o fator principal. Do começo ao fim, nota-se um cuidado destinado aos diálogos que infelizmente se tornou raro nas entradas regulares da série. Tiradas bem sacadas, referências ao passado e desenvolvimento pontual de dramas servem bem até mesmo a um enredo mal costurado, como é o nosso caso aqui. Com pouco tempo de tela, desenvolvimentos emocionais para as diferentes frentes são obtidos com um recurso inteligente à sutileza: seja no embate contra o Flash Reverso (Tom Cavanagh), seja no lidar com o sacrifício heroico de Nora (Jessica Parker Kennedy), seja até mesmo na partida forçada e mal trabalhada de Cisco (Carlos Valdes) — em nenhum desses momentos temos aqueles tradicionais alongamentos infindáveis de cena entre diálogos de mão pesada e atuação sem rumo.

No caso de Nora, só resta lamentar o quanto a personagem foi maltratada a partir do segundo ato de seu arco. Eis que, repentinamente, temos de volta aqui a XS que deu as caras lá no início da temporada: uma adulta com senso de realidade e responsabilidade, ainda que inexperiente nas atividades super-heroicas. Nem o desinspirado desenvolvimento de Gone Rogue, e muito menos o horrendo flashback de Godspeed contribuíram com algo para que o desfecho da personagem fosse emocionalmente impactante como foi aqui. O mérito foi todo da combinação entre o que foi feito aqui e também lá atrás, no início da temporada. Aquela Nora adolescente e chorona entrou no meio para encher linguiça e nos fazer perder um pouco do senso de identificação e envolvimento da personagem — ou seja, herdando em parte a maldição de seu pai.

No âmbito emocional, esse seu desfecho funciona e se apoia na premissa básica que foi apresentada lá no comecinho do arco — a garota que cresceu tendo o Flash como ídolo, e voltou no tempo para tentar salvar seu pai do desaparecimento que não apenas os separou, mas também colocou fim a sua lenda. Com algumas adaptações, “remendar” esse final direto nas alturas do décimo episódio da temporada funcionaria até melhor do que o produto final, o que aponta para o defeito central da série atualmente, que é o de desperdiçar tempo.

Mais importante que isso, no âmbito da ação super-heroica, o desfecho funciona ao fazer algo que raramente é feito com o cuidado e atenção necessários: desenvolver um enredo que só poderia ser uma história de The Flash. Nada dessa importação preguiçosa da temática de “perseguição aos metahumanos” — deixemos isso com os profissionais, que tal? —, o enredo aqui é especialmente desenhado para dar conta de uma trama envolvendo velocistas viajando no tempo e tentando lidar com os efeitos de suas aventuras extravagantes.

Todos os fatores em jogo: o “apagamento” dessa versão de Nora mediante a destruição da adaga de Cicada, a Força de Aceleração Negativa como alternativa possível (provada e estabelecida anteriormente pela resiliência notável de Eobard-Wells!), o conflito emocional que isso arma mediante a frieza do vilão em trocá-la pela sua liberdade; tudo isso funciona muito bem como uma legítima trama do Velocista Escarlate, apoiando-se sobre regras já estabelecidas e evitando atalhos de mão pesada para tentar fazer surgir um drama não-existente. Não temos tempo para colocar os personagens soletrando em que sentido o que Thawne fez foi vilanesco, enquanto o que Nora fez foi heroico — e isso é uma benção sem tamanho! Dá até para desculpar a aberrante cena do encontro de Cisco, caindo totalmente de paraquedas em meio a um finale atribulado…

Visualmente, a ação entrega muito bem em diversos momentos. Quem não trocaria 10 episódios filler pela garantia de pelo menos uma dessas cenas por capítulo? A cena de combate contra o Reverso é uma das mais empolgantes em um bom tempo, trazendo um trabalho em equipe pra lá de inspirado, no que provavelmente foi a “volta de despedida” de Vibro. O desfecho derradeiro de Cicada II (Sarah Carter) também consegue, nos 45″ do segundo tempo, aproveitar algo da premissa fantástica da personagem, em um combate que combina paradoxos temporais e terrenos mentais de forma eficiente. Isso é que adaptar quadrinhos para televisão, minha gente!

E o que dizer da cena de libertação do Flash Reverso? Sensacional do início ao fim, ela consegue inclusive fazer valer a introdução desajeitada do anel de traje do personagem, ao usar-se dele para pontuar a reversão temporal da dupla Flash e XS. No entanto, uma pena não terem explorado mais a imagem minimalista (e um tanto arrepiante) do traje do Reverso formado pelo uniforme da penitenciária queimado pela adaga de Cicada, pendurada ao contrário — parabéns à produção por me pegar totalmente de surpresa nessa, uma sacada sensacional.

Outro ponto forte, aliado a caracterização bem feita, é o equilíbrio entre os diferentes elementos do elenco. O Team Flash age em conjunto com uma eficácia notável, ao ponto de nos fazer perguntar se não podiam ter pego Cicada e dado um fim nisso tudo há um bom tempo atrás. Isso que dá o pessoal ficar revezando faltas! Quase todo membro da equipe recebe seu lugar ao sol — Dibny (Hartley Sawyer) tem mais um ótimo episódio, e até mesmo Joe (Jesse L. Martin) termina a temporada com um raro momento de desenvolvimento para si. Com Cavanagh inspirado e dedicado como sempre, Thawne consegue brilhar aqui e nos fazer perdoar um pouco a jogada para escanteio de Cicada, que deveria ser o principal vilão da temporada. De quebra, o cara garante ainda uma despedida bem equilibrada para Sherloque, que não abusa das boas vindas e consegue se inserir como parte do multiverso que vale ser revisitada pontualmente.

Uma grata surpresa após uma sequência especialmente ruim de episódios, Legacy conseguiu se tornar, para mim, o segundo melhor finale da série até aqui, perdendo apenas para Fast EnoughNo entanto, nem que fosse um episódio perfeito (o que certamente não é), o capítulo não escaparia de carregar consigo o peso de uma temporada arrastada e com momentos fracos demais, sabotando em grande parte os desenvolvimentos de uma trama que tinha tudo para divertir e empolgar muito mais de maneira orgânica. Ficamos no aguardo para a prometida Crise do arrowverse que, com sorte, atuará de forma semelhante ao que foi esse capítulo em relação à série como um todo: um fechamento digno e empolgante, quem sabe? Melhor do que acabar na total decadência…

The Flash – 5×22: Legacy — EUA, 14 de maio de 2019
Direção: Gregory Smith
Roteiro: Todd Helbing, Eric Wallace, Lauren Certo
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Carlos Valdes, Danielle Panabaker, Hartley Sawyer, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, Jessica Parker Kennedy, Danielle Nicolet, Sarah Carter, Chris Klein, Patrick Sabongui, Victoria Park, Everick Golding
Duração: 43 min.

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