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Crítica | The Good Fight – 5ª Temporada

Uma jornada vacilante, mas ainda envolvente no campo do Direito.

por Leonardo Campos
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Basta esperar. Foi assim que encerrei a análise da quarta temporada de The Good Fight, uma série vista por poucas pessoas quando comparamos com outros programas televisivos, mas bastante qualificada para ter um forte apelo popular. A sua manutenção na grade de CBS num quinto ano, com renovação para uma nova empreitada, é um mistério, afinal, em linhas gerais, boa parte do público consumidor prefere boas ideias de menos e romances desnecessários de mais. Quando acabou, a trajetória anterior deixou um amontoado de pontas soltas, afinal, todos fomos surpreendidos pela pandemia da COVID-19 e o setor de produção ficcional, tanto no cinema quanto na televisão, precisou parar, dar um respiro e se reorganizar. Assim, afirmo que a espera valeu em partes. O programa ainda continua com o seu diferencial, dando conta de todos os possíveis problemas políticos e sociais da contemporaneidade, mas convenhamos, desta vez, os episódios se amarraram um pouco e quase caíram no marasmo.

Antes de adentrar por um passeio pelos episódios e desenvolvimento dos personagens, um método já padronizado nos textos das temporadas anteriores, começo com a qualidade estupenda que ainda continua firme. A direção de fotografia de Tim Guinnes continua fazendo o seu ótimo trabalho, com planos que favorecem o estabelecimento da tensão e sabem ousar quando podiam apenas manter a burocracia na captação de imagens. O design de produção, assinado por Hilda Stark, gerencia os deslumbrantes aspectos da cenografia, figurino e direção de arte, mantendo a qualidade já devidamente registrada nos anos anteriores. Na edição, efeitos visuais, design de som e trilha sonora, tudo funciona como o esperado de uma produção que sempre se manteve preocupada com a estética. Assim, declaro aprovada a desenvoltura estrutural nesta empreitada de The Good Fight. O “porém”, no entanto, está no roteiro.

Vejamos: o mundo, na quinta temporada, ainda está em colapso. Enquanto todos lutavam pela sobrevivência num contexto pandêmico ainda em permanência quase dois anos após o estabelecimento dos nossos toques de recolher com isolamento social, os advogados da empresa por onde passeiam as situações dramáticas da série se mantiveram dispostos a continuar na luta hercúlea por mudança em nosso sistema opressor. O conflito em questão é que esta é uma luta injusta, capaz de cansar aqueles mais descrentes. Fossem outros personagens, provavelmente muitas das causas seriam levadas no automático. Mas, no escritório que atende os clientes mais diversos da produção, desistir não está em jogo. Principalmente depois de tanto investimento físico, financeiro, psicológico e intelectual. Para alguns, mudar pode ser uma opção, mas a desistência? Jamais, mesmo que dedos apontem posicionamento utópico. Diante do exposto, o leitor deve se perguntar: com tantos atributos positivos, quais são mesmo os problemas dramáticos na quinta temporada de The Good Fight?

Eis a resposta: a casa anda bagunçada. No afã de almejar ser um diferencial, o que de fato é inegável e um dos pontos positivos desta série que não abusa dos famigerados clichês na seara do Direito na Ficção, o programa acaba se embolando com o excesso de propostas. Algumas passagens são caricaturais e a dinâmica alternativa acaba atrapalhando o ritmo dos episódios. Tem-se a sensação de que já acompanhamos a maioria das situações apresentadas e, com isso, a produção precisa tentar organizar o foco. Em suas críticas ao sistema corrupto, o juiz interpretado por Handy Patinkin, em seu tribunal alucinatório, cria divisões entre o que é real e o que é da ordem alegórica, permitindo que a tensão e a emoção declinem em prol da busca pela genialidade. Alucinações, por sinal, são a tônica da temporada, pois enquanto esteve em seu leito de recuperação por causa da COVID-19, um dos personagens chega a ver e dialogar com um Jesus Negro, Malcolm X, Karl Marx, dentre outros. No terreno das ideias é uma baita aposta, mas na execução ficou um tanto esquizofrênico. Talvez tenha sido proposital, mas, prejudicou.

Diane Lockhart (Christine Baranski) continua em sua empreitada, desafiando o sistema sempre que pode e mantendo o seu lado político partidário aflorado, em busca das melhores soluções para os seus casos. Ela e Liz Lawrence (Audra McDonald) entram em conflitos nada favoráveis para a parceria após os funcionários questionarem, mais uma vez, a permanência da advogada branca numa posição de destaque neste escritório que preza pela equidade racial. Adrian Boseman (Delroy Lindo), afastado, se envolve com a política e se candidata, tornando-se um membro do Partido Democrata. Lucca Quinn (Cush Jumbo), ainda na aventura com sua cliente rica e empoderada, precisou decidir se ficava na empresa e aceitava a oferta de sociedade, bastante tentadora, ou trabalharia com mais conforto e retorno financeiro em Londres, numa transformação para a sua vida. Sábia, ela acaba optando por ficar noutro continente e encerra a sua jornada na série.

Marissa Gold (Sarah Steele), maravilhosa, ainda continua dona de muitos momentos formidáveis, Jay Dispersia (Nyambi Nyambi) quase é levado pela COVID-19 e Julius Cain (Michael Boat) sobrevive ao cenário pandêmico, mas quase tem a sua carreira enterrada por manobras que prejudicam a sua carreira como juiz. Ademais, a mensagem da equipe de roteiristas do programa criado por Michelle King, Robert King e Phil Alden Robinson não é complexa: o sistema é corrupto, manter-se constantemente ético é um problema desafiador e o jeito é dialogar com as manobras, tentando jogar limpo sempre que puder e evitar qualquer ação que desonre o “outro” para benefício próprio. Alguns conseguem, outros não. É parte do processo de sobrevivência. Que venha o sexto ano. Ah, antes de encerrar, torna-se relevante comentar o impacto das manifestações em torno da causa Vidas Negras Importam, o tenebroso caso ainda bastante debatido sobre a morte de George Floyd, dentre outros temas que permitem a conexão da série com assuntos do contemporâneo. Falta só arrumar mais o “esquema”.

The Good Fight – 5ª Temporada – EUA, 2021
Showrunners:  Michelle King, Robert King, Phil Alden Robinson.
Direção: Jim Mckay, Broke Kennedy, Frederick E. O. Toye, Tess Malone, Robert King
Roteiro: William M. Finklestein, Joey Hartstone, Michelle King, Robert King, Laura Marks, Davita Scarlett
Elenco: Christine Baranski, Delroy Lindo, Sarah Steele, Audra McDonald, Nyambi Nyambi, Cush Jumbo, Gary Cole, Michael Boatman, Hugh Dancy, John Larroquette, Raul Esparza
Duração:  50 min (cada episódio – 9 episódios no total)

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